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Pepinho Macia: “o pessoal do Catar nem sabia o que era rock”

Fã de metal e proprietário da loja Iron Fist Rock Wear, treinador de futebol trabalhou duas temporadas no país da Copa do Mundo com seu pai, Pepe, o “Canhão da Vila”

Quem passa desavisado pela Galeria Ipiranga no Gonzaga, em Santos (SP), pode não se atentar que o proprietário da loja Iron Fist Rock Wear, Alexandre Serrano Macia, o Pepinho, é filho de Pepe, o “Canhão da Vila” e astro do Santos Futebol Clube. Além da loja, Pepinho organiza shows, promove excursões, é um ávido colecionador de discos e apresentou por cinco anos o programa de rádio Hard ‘N Heavy, da Litoral FM. Ele também tem orgulho de ser um dos fãs de rock/metal que mais assistiu a shows pelo mundo.

Porém, sua outra atividade é ser treinador de futebol. Por duas temporadas, ele trabalhou no Catar, onde está sendo realizada a Copa do Mundo, que se encerra com a grande final em 18 de dezembro. Em entrevista, recorda:

“Estive em dois períodos no Catar, primeiro de 1983 a 85, quando tinha 17 anos e fui apenas acompanhar meu pai, que era o treinador do principal do Al-Sadd. Eram tempos duríssimos, porque era um país novo e tinha muito pouca coisa. Tinha praticamente um hotel apenas para a gente poder frequentar e era realmente só deserto.”

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Pepinho ao lado do pai, Pepe, em registro recente (foto: arquivo pessoal)

Vinte anos depois, Sheik Khaled contratou novamente Pepe como treinador do Al-Ahli e Pepinho foi como auxiliar, trabalhando em duas temporadas.

“Foi sensacional, porque de 2003 a 2005 meu pai era o treinador principal, ou mestre como eles chamam, mas o trabalho todo quem fazia era eu e o preparador físico, o Ziza, que jogou no Atlético Mineiro, Juventus, Guarani e Botafogo, e está até hoje lá.”

A primeira temporada, inclusive, traz a ele boas lembranças.

“Fomos muito bem na temporada de 2003, porque todas as equipes do Catar da primeira divisão jogavam no 3-5-2 e logo no primeiro treino, falei com meu pai que poderíamos jogar fazendo um losango e no 4-3-1-2, com o espanhol Pep Guardiola, que hoje treina o Manchester City, na ponta do losango de baixo e na outra o atacante brasileiro Oliveira, que saiu ainda no Sub-20 e praticamente não jogou no profissional do São Paulo FC.”

Segundo Pepinho, o Al-Ahli era um time mediano, que nunca tinha conquistado um campeonato.

“Era tipo uma Ponte Preta, digamos assim. Começamos com essa surpresa de um sistema tático diferente e quando os caras perceberam já estávamos em primeiro lugar no campeonato. Resumindo: colocamos o Al-Ahli pela primeira vez na história no G4, que deu a vaga para a ‘Libertadores árabe’, na Copa Árabe de Clubes. Foi muito legal, porque na outra temporada a gente foi jogar na Tunísia, no Egito, na Argélia… Vinte anos depois da primeira passagem, o país já era outro.”

Uma das várias reportagens impressas sobre o trabalho de Pepinho e Pepe no futebol catari (foto: arquivo pessoal)

Nada de rock

Afora o meio do futebol e as diferenças, como treinar e jogar no final da tarde ou de noite por causa do forte calor e os costumes muçulmanos, Pepinho se deparou com um país em que ninguém conhecia nada de sua outra grande paixão, o rock/heavy metal.

“A diferença de costumes era gritante. A temporada começa depois do Ramadã e quase não tinha pré-temporada. De som, eles não conheciam absolutamente nada, o pessoal do Catar nem sabia o que era rock. Quem falava um pouquinho era o brasileiro Oswaldo de Oliveira, que conhecia Pink Floyd e clássicos assim.”

Porém, um fato curioso ocorreu quando o jogador catari, Nasser Salem, chegou a um treino e começou a cantar Roberto Carlos.

“Como tinha muitas fitas cassete, havia também de música brasileira. Então, a gente estava no treino um dia e nosso lateral-direito, Nasser Salem, veio bem perto e começou a cantar ‘Amanhã de manhã…’ repetidas vezes. Ele ficou assim, porque só sabia falar essa parte da música do Roberto Carlos. Nós rimos muito.”

A rotina de ver shows e comprar itens para a coleção de rock/heavy metal só voltava no período de férias.

“Fiquei a temporada inteira sem ver nenhum show. Até chegava algum material lá em vinil, CD e fita cassete, mas era aquilo, se eu via um disco do Bryan Adams, e olha lá, caía matando e comprava. Por outro lado, quando terminava a temporada eu lavava alma passeando pela Europa e indo a shows e festivais, como o Sweden Rock, na Suécia, e o Masters of Rock, na República Tcheca.”

Abaixo, mais reportagens impressas sobre a passagem de Pepinho e Pepe pelo futebol catari (fotos: arquivo pessoal)

Em sua época como jogador de futebol, em que atuou pelo Santos e a Portuguesa Santista, Pepinho chegou a ir para o banco de reservas. Quem entrou em seu lugar no time foi o pai de Neymar, que jogou em equipes como União Futebol Clube (Mogi das Cruzes), Tanabi, Jabaquara, Portuguesa Santista e na base do Santos.

“Me tornei reserva dele. Ele jogou comigo na base, sub-15, sub-17, mas não chegou ao profissional no Santos. Jogava bem, mas claro que nem 1% do filho.”

“Tudo é possível no Catar”

Pepinho diz nunca ter imaginado que algum dia que uma Copa do Mundo pudesse ser realizada no Catar.

“Não imaginava, mas tudo é possível no Catar. Doha rivaliza com Dubai para ver qual é a cidade mais incrível. Lembro que a gente passava de carro numa avenida e tinha um terreno vazio. Duas semanas depois, já tinha um prédio sendo construído e, um mês depois, ele estava pronto. Teve uma época em que 70% das gruas do mundo estavam no mundo árabe. Era impressionante.”

A aposta na seleção brasileira foi por água abaixo e o sonho do hexa foi adiado com a derrota para a Croácia nos pênaltis.

“Pelo que a seleção brasileira estava apresentando, meu pai e eu estávamos otimistas, mas a Croácia aproveitou um inaceitável vacilo tático do Brasil. Lógico que tem seus méritos, mas deu um chute a gol.”

Pepinho em trabalho como técnico do sub-20 do Santos (foto: Pedro Ernesto Guerra Azevedo / Santos FC)

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Ricardo Batalha
Ricardo Batalhahttp://www.asepress.com.br/music/
Ricardo Batalha tem uma trajetória que se confunde com a própria história do heavy metal no Brasil. Trabalha na Roadie Crew desde 1996 e é um dos diretores da ASE Press. Além do trabalho de consultoria e assessoria, vem colaborando para diversos veículos de mídia ligados ao rock e heavy metal desde os anos 1980. Também é editor na Panorama Audiovisual Brasil (VPGroup), publicação dirigida aos profissionais de criação, produção e distribuição de conteúdos audiovisuais nas plataformas TV, Cinema, Rádio, Broadband, Mobile e Novas Mídias.

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