Dezembro é tempo de retrospectivas – e, desta vez, de Copa do Mundo –, portanto, é também tempo de repassar os lançamentos do ano. Enquanto o mundo tenta entrar nos eixos de novo e deixar a pandemia para trás em definitivo, a música segue o mesmo caminho , com alguns resultados bem fortes e indicativos de que tudo vai muito bem, obrigado.
No rock/metal, a cena ainda é dominada por alguns dinossauros sobreviventes, mas não com a mesma supremacia preocupante de anos atrás. Há sinal de renovação, ainda que lenta. Até mesmo por parte dos medalhões parece haver uma boa vontade em se modernizar – ou, na pior das hipóteses, resgatar bons desempenhos do passado, o que levou até a alguns ressurgimentos interessantes.
A lista, como as de todos os colaboradores do site, é pessoal. Pode haver discórdia e até discussões, desde que mantido o devido respeito. Os títulos escolhidos devem agradar a ala mais “conservadora” dos fãs de metal, mas cuidado: uma ou outra surpresa pode se esconder nas outras 10 sugestões que seguem a lista dos 10 melhores álbuns. Afinal, pode não parecer, mas metal e conservadorismo não andam juntos. Ou não deveriam.
Melhores discos de 2022 para André Luiz Fernandes
10) Behemoth – “Opvs Contra Natvram” (black / death metal)
Não é de hoje que o Behemoth carrega a bandeira do setor mais extremo do metal com orgulho, para o bem e para o mal. Decidido a criar uma identidade cada vez mais própria, o grupo comandado por Adam “Nergal” Darski continua nesse caminho em seu 12º disco de estúdio. Soa está cada vez mais teatral, épico e melódico – à sua maneira – mas não menos furioso por causa disso.
9) Saxon – “Carpe Diem” (heavy metal)
Faz tempo que o Saxon decidiu que não iria mais tentar inventar a roda e, nesse caso, foi uma decisão acertada. O 23º álbum de estúdio, “Carpe Diem”, é provavelmente o melhor da banda nessa década, ainda que traga o “arroz com feijão” de sempre. O vocalista Biff Byford tem bom desempenho para sua idade (71 anos) e a banda o segue com a competência de sempre. Ideal para quem se afastou do grupo nos últimos anos e quer voltar com uma boa impressão.
8) Slipknot – “The End, So Far” (nu metal / alternativo / groove metal)
É impressionante perceber que, para alguns, o Slipknot ainda faz parte de uma safra “nova” de bandas, apesar dos quase 30 anos de estrada. Goste ou não, o grupo sempre consegue chocar e é exatamente por isso que “The End, So Far”, 7º álbum de estúdio dos mascarados, está nesta lista. O sucessor do ótimo “We Are Not Your Kind” (2019) mantém o nível alto, mas é impossível não ficar com cara de ponto de interrogação na primeira audição.
7) Scorpions – “Rock Believer” (hard rock)
A surpresa é geral: depois de vários altos e baixos, uma turnê de despedida que não foi de despedida e uma sequência de lançamentos bem mornos, o Scorpions gravou um “discão” em 2022. O 19º álbum de estúdio dos alemães marca a estreia de Mikkey Dee (King Diamond, Motörhead) em estúdio, mas não é só a potência do baterista que faz a diferença por aqui. As composições são realmente boas e o grupo aposta em um peso que não trazia há um bom tempo.
6) Rammstein – “Zeit” (metal industrial)
O 8º album de estúdio do Rammstein não teria acontecido se não fosse pela pandemia. “Zeit” foi composto por conta do lockdown, já que a banda não podia sair em turnê, e traz muitas semelhanças com o anterior, homônimo, de 2019, ainda que fique um pouco abaixo. Mesmo assim, o grupo alemão está em um nível tão alto no momento que o álbum exala qualidade por todos os poros. É o típico caso da banda que faz questão de mostrar que ainda tem muita lenha para queimar.
5) Ozzy Osbourne – “Patient Number 9” (hard rock / heavy metal)
Contra fatos não há argumentos. E o fato é que desde que retomou a carreira solo, Ozzy Osbourne resolveu apostar na veia mais pop de sua sonoridade. Isso é ótimo! “Patient Number 9” continua a parceria com o produtor Andrew Watt e alcança um resultado ainda melhor que o de “Ordinary Man” (2020). A tática continua a mesma: convidados de alto gabarito e um verdadeiro “dream team” na “base” da banda. Sob certos aspectos, o Madman está no auge.
4) Tony Martin – “Thorns” (heavy metal)
Ozzy não foi o único ex-vocalista do Black Sabbath a brilhar em 2022. De forma inesperada, o injustiçado Tony Martin soltou um álbum solo, o 3º de sua trajetória, e é uma das melhores coisas que ele já fez na carreira. “Thorns” agrada aos “órfãos” de sua época no Sabbath – sim, nós existimos! – sem tentar se aproveitar dos louros do passado. Com uma banda competente, o vocalista entregou um trabalho muito pesado e atual, além de estar cantando muito, como sempre fez.
3) Blind Guardian – “The God Machine” (power metal)
Ninguém questiona a excelência do Blind Guardian, mas desde os excessos de “A Night at the Opera” (2002), a banda parecia não ter se encontrado mais, ainda que não tenha perdido qualidade. No entanto, o excelente “The God Machine”, 12º disco dos bardos alemães, parece retomar de onde o grupo parou no início dos anos 2000. O peso voltou com tudo e os refrãos voltaram a ser fortes e altamente cantáveis. As orquestrações e camadas de vocais grandiosos permanecem, mas parecem ter encontrado seu lugar na massa sonora. O Blind Guardian está de volta!
2) Megadeth – “The Sick, the Dying… and the Dead!” (thrash metal)
Kiko Loureiro e Dirk Verbeuren injetaram sangue novo a um cansado Megadeth e se “Dystopia” (2016, gravado com Chris Adler na bateria) indicava isso, a confirmação vem em “The Sick, the Dying… and the Dead!”. No 16º álbum de estúdio do grupo, Dave Mustaine permitiu que os novos integrantes colaborassem mais nas composições e o resultado não poderia ter sido melhor. Se lembrarmos dos problemas vividos pelo frontman e pela banda durante as gravações, o álbum fica com mais gosto de vitória ainda. Desde os anos 90 o Megadeth não surgia com um trabalho tão forte.
1) Ghost – “Impera” (hard rock / heavy metal)
Tobias Forge é um gênio. A essa altura, não dá para saber qual é ou se há limites para o Ghost, que faz uma verdadeira exibição de poder com “Impera”, seu 5º disco. Por aqui, o heavy metal deliciosamente pop abraçou de vez o lado mais espalhafatoso do hard rock e gerou um álbum pomposo, surpreendente e com um conteúdo lírico difícil de se achar nos dias atuais. Sacramenta de vez o Ghost como a grande banda de heavy metal dos tempos atuais, sem medo de colocar o projeto no mesmo nível de importância de qualquer medalhão do gênero.
Menções honrosas (em ordem alfabética)
Amon Amarth – “The Great Heathen Army” (death metal melódico): ainda que não chegue perto do auge, um disco do Amon Amarth sempre diverte e tem poucas chances de decepcionar. Não há nada de muito inovador por aqui, mas quando os suecos resolvem pensar “fora da caixa”, temos os melhores momentos de “The Great Heathen Army”.
Hammerfall – “Hammer of Dawn” (power metal): outra banda da Suécia que não lançou o melhor trabalho da carreira, mas nem por isso fez feio. Na verdade, é o melhor deles em muito tempo e aposta em uma sonoridade cuja falta era sentida por muitos nos últimos álbuns, sobretudo em relação ao peso.
Harry Styles – “Harry’s House” (synthpop / R&B): se você nunca ouviu a carreira solo deste ídolo pop, fica a sugestão para corrigir esse erro assim que possível. O ex-One Direction traz o que de melhor a música pop pode oferecer e lançou um álbum que resgata a sonoridade do synthpop dos anos 80. “Harry’s House” oferece uma audição divertida e cheia de qualidade.
Heilung – “Drif” (folk): é muito difícil explicar o tipo de som que o Heilung faz. Indicado aos amantes de história e de toda uma temática mística e pagã, o grupo faz música com base em antigos textos de feitiçaria e recria roupas e instrumentos musicais com estudos reconstrucionistas. “Drif” é seu 3º álbum de estúdio e mostra um amadurecimento da complexa ideia.
Joe Lynn Turner – “Belly of the Beast” (heavy metal): Joe Lynn Turner é um dos “figurões” do hard rock, mas surpreendeu de várias formas com “Belly of the Beast”, seu 11º disco solo. O álbum traz um peso totalmente acima da média para os padrões do vocalista, que se sai bem com riffs acelerados. Turner também mudou o visual e abandonou a famosa peruca.
Karl Sanders – “Saurian Apocalypse” (folk / ambient): em carreira solo, o virtuoso guitarrista do Nile faz exatamente o mesmo som que a sua banda principal, mas sem o death metal. O resultado é completamente diferente. Seu 3º disco segue a linha dos antecessores, com uma atmosfera mística, muita influência oriental nas melodias e bom gosto nas escolhas de instrumentos e timbres, tão particulares.
Skid Row – “The Gang’s All Here” (hard rock / heavy metal): finalmente o Skid Row encontrou um substituto para Sebastian Bach nos vocais. Erik Grönwall (H.E.A.T) tem as credenciais necessárias e ajudou a banda a criar um de seus melhores álbuns em muito tempo, provavelmente o melhor sem o vocalista original. Que seja o primeiro de muitos.
The Hu – “Rumble of Thunder” (folk metal): o The Hu investe na infalível mistura de sonoridade étnica com metal e o 2º disco, “Rumble of Thunder”, amadurece o que a banda mostrou na estreia. Longe de ser revolucionário, o disco é cativante e a música nativa da Mongólia parece ser uma das que funciona melhor quando aliada ao peso do heavy metal. Dá vontade de sair cantando junto – o que é basicamente impossível para não-falantes de mongol.
Therion – “Leviathan II” (symphonic metal): Christofer Johnsson soltou esse ano a segunda parte da trilogia “Leviathan”, 18º disco de estúdio do Therion. É uma audição complexa e difícil, como muitos dos álbuns da banda, e não deve agradar logo de cara. O Therion perdeu muito de sua identidade nos últimos anos, mas ainda assim o resultado é acima da média para o estilo.
Watain – “The Agony And Ecstasy Of Watain” (black metal): junto ao Behemoth, o Watain representa o que de melhor se faz no black metal atualmente. Mas os suecos optam pelo caminho mais cru e menos épico, como fica claro em “The Agony and Ecstasy of Watain”. O 7º disco de estúdio da banda tenta adicionar mais melodia ao caos sonoro, com o uso de guitarras gêmeas e outros recursos não tão comuns no black metal, mas ainda soa como “cria” dos anos 90.
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