Fazia tempo que eu realmente não sentia medo com um filme. Confesso que sentia até falta desse sentimento em minha rotina. Isso mudou desde que “Terrifier 2” surgiu ao mundo e ainda me levou a seus antecessores.
Com um terror gráfico para além do gore, um timing de suspense interessante e proposta inovadora – além, claro, do extraordinário maníaco criado –, o longa faz jus aos acontecimentos e realmente pode causar mal-estar aos desavisados.
Contudo, com maior investimento e ambição, o filme falha ao querer se tornar grande. Apesar de melhor trabalhado, perde seu charme de independente.
A parte boa é que despertou a curiosidade para que todas as obras da franquia fossem conferidas. Todas elas serão comentadas a seguir.
Um filme brutal
“Terrifier 2” atualmente está em cartaz nos Estados Unidos e não tem data para estrear no Brasil. Obviamente, de um jeito ou de outro, todos já conseguem assistir à obra.
A sinopse é a mais singela possível: em dia de Halloween, uma cidade com jovens está prestes a comemorar o momento. Eis que surge o palhaço Art – magnificamente interpretado por David Howard Thornton – que por onde passa, deixa um rastro de violência em patamares absurdos.
São mais de duas horas de violência pura e ininterrupta, além de níveis doentios de comportamento. O longa é visualmente forte e bem feito, com direito a efeitos práticos maravilhosos. Há carisma e criatividade ao mesclar, por vezes, o terror com a comédia.
Ainda assim, o grande acerto aqui e em toda a franquia é a manutenção do medo constante. Mesmo que nada esteja acontecendo – e, claro, sem o uso de nenhum artificio barato do gênero –, o sentimento se faz presente durante toda a experiência.
Por outro lado, esta sequência não é melhor que seu antecessor e se complica ao criar uma história de 148 minutos. É fora da realidade um filme de terror deste tamanho.
O diretor e roteirista Damien Leone acaba por criar tantas coisas interessantes que pareceu não sabe a hora de parar. Trouxe elementos dramáticos para um roteiro que não pedem nada além de violência. O palhaço Art não é um ser sobrenatural, mas tal questão é apresentada na trama junto de um drama familiar que não se conclui.
O início de uma franquia
O desenvolvimento do palhaço Art enquanto personagem de uma franquia ocorre há bastante tempo. Sua primeira aparição, ainda interpretado por Mike Giannelli, foi em um curta-metragem de 2008 chamado “The 9th Circle”.
Cinco anos depois, Damien Leone lançou o filme independente “All Hallows’ Eve”. Em apenas 83 minutos, a obra retrata uma babá que, na noite de Halloween, cuida de duas crianças que são irmãs. Uma delas encontra uma velha fita VHS em seu saco de doces; elas então assistem ao material, composto de três curtas de terror que formam um longa. Em todas as histórias aparece o palhaço Art.
“All Hallows’ Eve” segue à risca os itens de um cinema independente: roteiro fraco, interpretações péssimas, efeitos práticos toscos, diálogos vergonhosos, qualidade de imagem amadora com excesso em luz e cores vivas, além, é claro, da reutilização de cenas repetidas. Ruim enquanto obra, mas tem dois acertos: o palhaço, original e perturbador, e o formato onde você fica com medo o tempo todo. Tudo isso sem jumpscare.
“Terrifier” e carreira solo
Em 2016, naturalmente, Art ganhou um filme solo: “Terrifier”, também dirigido por Damien Leone. Agora, o personagem seria interpretado por David Howard Thornton, mais competente que seu antecessor. A obra saiu no Brasil com o título “Aterrorizante”, mas o nome original é o que realmente se tornou popular por aqui.
Este longa é o mais simples em termos de roteiro. Novamente em uma noite de Halloween, há duas amigas voltando de uma festa. Elas esbarram com o macabro palhaço Art e logo são perseguidas pelo maníaco, que deixa um rastro de assassinatos sádicos pelo caminho.
Considero o primeiro “Terrifier” uma obra-prima do terror. Em apenas 86 minutos, temos o mesmo clima de suspense inovador que perdurou na obra anterior junto a um ritmo frenético que traz Art em cena o tempo todo. Acerta-se ainda na melhora da qualidade de imagem e amarração do roteiro. Funciona mesmo com os diálogos ainda horríveis e soluções infantis.
Outro ponto de destaque é a grafia gore espetacular. Aqui, sim, o palhaço Art pinta e borda na violência explícita e ainda entrega um final pra lá de satisfatório.
Todos valem muito a pena
Mesmo com problemas característicos de cinema independente, os três filmes citados são bastante recomendados – principalmente o primeiro “Terrifier”, de 2016. São assustadores e chocantes ao mesmo tempo em que preservam o carisma e desenvolvem um personagem que, dentro de alguns anos, estará ao lado de outros maníacos da história do terror.
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