A história de “Badmotorfinger”, o álbum que fez o Soundgarden estourar

Um novo baixista, experimentações com afinações alternativas e o aval de Beavis e Butt-Head ajudaram o quarteto de Seattle a atingir o estrelato

O ano de 1991 ficou marcado na história do rock como um divisor de águas, tal qual 1967 e 1977. O movimento alternativo tomou o mundo após uma década se desenvolvendo nos Estados Unidos, com a cidade de Seattle virando o epicentro de tudo interessante sendo criado.

Todas as bandas saídas da cidade nessa época ficaram associadas a um termo em particular: grunge. Parte descrição apta do som, parte jogada promocional, aquilo acabou se tornando um movimento em si próprio, encapsulando grupos com sonoridades díspares.

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Havia o Nirvana, essencialmente um power trio punk. O Pearl Jam tinha a sonoridade mais comercial, construída através dos anos passados por seus integrantes no Mother Love Bone. Mas antes de todos eles, havia o Soundgarden.

O primeiro grupo dessa turma de Seattle a lançar um disco (“Ultramega OK”, de 1988), o Soundgarden também saiu na frente em termos de assinar com uma gravadora major: fechou com a A&M para o lançamento do segundo álbum, “Louder Than Love”, de 1989. Embora o trabalho tenha entrado na parada Billboard 200, o mundo ainda não estava pronto para aquela banda. Nem os próprios músicos estavam.

Em 1991, o Soundgarden finalmente saiu do casulo e deu ao mundo “Badmotorfinger”. Mas como foi a metamorfose?

Um baixista muda tudo, até o Soundgarden

Desde sua origem, o Soundgarden seguia a fórmula de várias outras do Noroeste do Pacífico. Bebia numa fonte de Led Zeppelin, Black Sabbath e garage rock dos anos 60. Há de se argumentar terem sido os criadores de tal sonoridade, por terem sido a inspiração para Bruce Pavitt e Jonathan Poneman fundarem a Sub Pop só para lançarem o single de estreia do grupo, “Hunted Down”, em 1987.

No livro “Nossa Banda Pode Ser Sua Vida”, escrito por Michael Azerrad, Poneman contou sua reação ao ver o Soundgarden ao vivo pela primeira vez:

“Eu vi essa banda que era tudo que rock deveria ser.”

Os principais diferenciais sonoros deles na época eram seu vocalista, Chris Cornell, capaz de alcançar timbres semelhantes aos lendários cantores clássicos, além do estilo idiossincrático do guitarrista Kim Thayil.

Cornell e Thayil combinavam para fazer uma dupla de compositores muito mais audaciosa que o resto. Apesar de ser considerada em geral ainda rudimentar, a música do quarteto sempre conteve elementos experimentais – desde afinações diferentes do normal até assinaturas de tempo ímpares.

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“Louder Than Love” representou uma evolução em comparação a “Ultramega OK” nesse aspecto, porém o grupo se viu diante de um problema logo após o lançamento do álbum.

Um mês antes da banda sair em turnê para promover “Louder Than Love”, o baixista Hiro Yamamoto deixou a formação, insatisfeito com a aparente falta de espaço para suas contribuições musicais. Tentaram substituí-lo com Jason Everman, ex-guitarrista do Nirvana, mas só encontrou a pessoa ideal ao procurar Ben Shepherd, um fã deles desde o início.

Numa entrevista para a Kerrang! em 1991, Chris Cornell fala sobre como o estilo de Shepherd influenciou o resto do grupo:

“Ele tem esse estilo de tocar super estranho, tipo Captain Beefheart tocando hardcore, e esse jeito frenético de tocar partes e escrever canções. Ele simplesmente senta e toca super rápido, intensamente e estranhamente. Ele é super revigorante e criativo.”

Conflito do homem com si mesmo e com todos

Armado dessa nova formação, o Soundgarden adotou uma nova postura no seu processo de composição para conceber o álbum “Badmotorfinger”: a banda começou a colaborar mais entre si. Kim Thayil, Ben Shepherd e o baterista Matt Cameron tendo uma voz ativa na hora de escrever a música para as letras de Chris Cornell.

Os quatro integrantes até colaboraram todos para “Jesus Christ Pose”, o primeiro single do disco. A música era uma demonstração ativa da evolução musical dos envolvidos, mas o que chamou mais a atenção foi a polêmica em torno da letra, vista por algumas entidades como sendo anticristã. O clipe chegou a ser proibido de passar na MTV.

Numa entrevista para a Spin em 1992, Cornell explicou sua inspiração para o uso da imagem de Cristo na canção:

“Você vê muito isso com pessoas lindas ou famosas, explorando aquele símbolo para insinuar que são divindades ou perseguidas por seu público. Então é mesmo uma canção que não é religiosa, mas expressando irritação por ver esse tipo de coisa. Não é que eu ficaria ofendido com o que alguém faria com aquele símbolo.”

Chris, aliás, sempre se mostrou relutante em entrar nos significados específicos de suas obras. Preferia deixar a ambiguidade criar imagens diferentes. Porém, numa entrevista para Guitar for the Practicing Musician, Kim Thayil expressou sua opinião quanto às letras do companheiro em “Badmotorfinger”:

“É como ler um romance sobre o conflito de um homem com si mesmo e a sociedade, ou o governo, ou sua família, ou a economia, ou tudo.”

Mesmo com a polêmica em torno de “Jesus Christ Pose”, “Badmotorfinger” se provou ser o salto do Soundgarden para o estrelato. Os clipes de “Outshined” e “Rusty Cage” entraram em rotação pesada na MTV, aparecendo até num dos programas mais populares do canal, a animação “Beavis and Butt-Head”, onde ambos os pratognistas se mostraram fãs do grupo.

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“Badmotorfinger”, sucesso e implosão

“Badmotorfinger” chegou ao 38º lugar na Billboard 200. Com o tempo, acumulou 2 milhões de cópias vendidas nos Estados Unidos, conquistando certificação de platina dupla. O disco cimentou o grupo como um dos maiores nomes do metal alternativo dos anos por vir.

O trabalho seguinte, “Superunknown” (1994), construiu em cima dessa fundação ao experimentar ainda mais com estruturas, formatos, afinações e tempos. Alavancado pelo hit “Black Hole Sun”, chegou ao topo das paradas americanas soando completamente diferentes de seus contemporâneos.

Em 1996, “Rusty Cage” recebeu a aprovação de um nome lendário da música, Johnny Cash. O Homem de Preto gravou uma cover da canção para seu disco “Unchained”, segundo da série de álbuns gravados com Rick Rubin responsáveis por revitalizar sua carreira.

O Soundgarden chegou ao final dos anos 1990 como uma das maiores e mais importantes bandas do planeta. Porém, isso não impediu a separação do grupo em 1997, devido ao desgaste de tantos anos na estrada e brigas sobre os rumos da sonoridade. Cornell e Thayil claramente discordaram sobre o quão pesada deveria ser a música em “Down on the Upside”, de 1996. 

Quando se reuniram 12 anos depois, eles continuaram a tradição e lançaram um último disco de estúdio, “King Animal”, de 2012. O grupo continuou fazendo turnês até o suicídio de Chris Cornell em 2017.

Apesar do fim, o Soundgarden continua reconhecido como um dos nomes mais importantes da história do rock. “Badmotorfinger” foi o momento de ruptura necessário para alçarem esse voo.

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Pedro Hollanda
Pedro Hollanda
Pedro Hollanda é jornalista formado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso e cursou Direção Cinematográfica na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Apaixonado por música, já editou blogs de resenhas musicais e contribuiu para sites como Rock'n'Beats e Scream & Yell.

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