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Os 11 melhores filmes de terror na opinião de Martin Scorsese

Lista apresentada pelo lendário diretor em entrevista de 2015 apresenta comentários do colaborador Raphael Christensen sobre cada uma das obras

Se o assunto é cinema, Martin Scorsese não somente é sinônimo de qualidade, como também de aprendizado. Quando o responsável por “Taxi Driver” e tantos outros clássicos fala – como na ocasião em que elegeu os 11 melhores filmes de terror em sua opinião –, nós simplesmente sentamos e ouvimos.

A lista foi feita por Scorsese em entrevista concedida ao The Daily Beast em 2015. O próprio traz comentários (que podem ser lidos em inglês na fonte) sobre as obras e ao falar sobre uma delas, “Psicose”, o cineasta define o diretor Alfred Hitchcock como “uma das minhas luzes orientadoras”.

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Confira abaixo os 11 melhores filmes de terror na opinião de Martin Scorsese. O levantamento acompanha pequenas observações feitas por este que vos escreve. Já adianto: são ótimas dicas para maratonar no Halloween.

Os 11 melhores filmes de terror para Martin Scorsese

“Desafio do Além” (“The Haunting”), 1963

Um antropólogo aluga por alguns dias uma velha mansão onde diz-se existir a presença de atividades sobrenaturais. Assim, o respeitado doutor, acompanhado de mais três pessoas, passam seus dias na residência a fim de descobrir e estudar se existe ou não as tais presenças sobrenaturais.

O filme é dirigido pelo genial Robert Wise (“Amor, Sublime Amor”, 1961), vencedor de dois Oscars. O roteiro é de Nelson Gidding, que se inspirou no romance de Shirley Jackson, “Assombração da Casa da Colina”.

Trata-se de uma obra-prima do terror psicológico, ainda mais pela época a qual pertence. Aqui, o diretor oferece arrepios até o último fio de cabelo utilizando técnicas simples, como sons, gritos, ventos, batidas na parede e uma meia-luz bem característica que, fundida com o preto e branco, deixam um clima sinistro impresso em tela. Fora os diálogos escritos com perfeição e que te ajudam a ir ainda mais adentro da assustadora mansão.

Uma refilmagem foi lançada em 1999, com o mesmo título em inglês, “The Haunting”, mas aqui no Brasil, recebeu o nome de “A Casa Amaldiçoada”. O elenco trouxe nomes como Liam Neeson e Catherine Zeta-Jones. Ótimo como o original

“A Ilha dos Mortos” (“Isle of the Dead”), 1945

Neste longa dirigido por Mark Robson, pessoas ficam presas em uma ilha durante uma guerra após entrarem em quarentena por conta de uma misteriosa doença.

Há aqui um estudo interessante sobre loucura, superstições, incertezas, religião. Também é abordada uma condição humana que muitos de nós experimentamos recentemente com a pandemia: o perigo iminente da morte vinda de algo não visto – no caso, um vírus.

O filme não assusta muito e por muitas vezes se desprende da ideia de ser um terror. Porém, graças ao trabalho de direção, que constrói muito bem um suspense em cima de tudo aquilo, é capaz de causar um certo incômodo seguido de uma inquietação que pode, sim, reverberar em algum medo.

Vale a pena conferir o grande ator Boris Karloff, que é, de longe, maior do que o próprio filme.

“O Solar das Almas Perdidas” (“The Uuninvited”) – 1944

Neste elegante filme adaptado do romance de Dorothy Macardle, acompanhamos dois irmãos que, durante uma viagem, encontram um belo imóvel abandonado e o compram por um valor bem abaixo do que vale. Logo, histórias e incidentes estranhos passam a surgir, levantando a hipótese de que o lugar é assombrado.

A direção fica a cargo de Lewis Allen, um cineasta que viveu como poucos o gênero do terror e suspense. Aqui, ele consegue nos entregar uma obra elegante. Um terror charmoso, onde, em pequenos detalhes, mostra uma possível questão assombrosa do local.

Acima de tudo, é uma das primeiras obras da história, a retratar um fantasma de forma visual.

“O Enigma do Mal” (“The Entity”) – 1982

A obra apresenta uma mulher submetida a constantes estupros por uma entidade maligna. Por ser desacreditada por todos, ela passa a ser submetida a diversos testes que, aos poucos, vão mostrando a verdade.

Inspirado em um caso real, o longa tem uma premissa forte e um argumento interessante e poderoso. Contudo, a direção de Sidney J. Furie é problemática. O cineasta alonga demais a história e dá voltas desnecessárias, o que faz a trama perder força.

Ainda assim, é um filme muito assustador e pesado de se acompanhar, tamanha a intensidade do argumento principal. Mesmo com as constantes barrigas, o filme te prende do começo ao fim e muito também se deve a incrível interpretação de sua protagonista, Barbara Hershey.

“Na Solidão da Noite” (“Dead of Night”) – 1945

A trama se inicia com um arquiteto contratado para reformar uma casa. Ao chegar no local e ter uma leve convivência com os demais, o profissional passa a ter a sensação que já viu ou viveu tudo aquilo. Logo, as pessoas passam a contar histórias estranhas a ele, que cada vez mais se convence que tem algo de estranho ali.

Este longa requer um pré-requisito para o consumo: a paciência. Estamos falando de um filme antológico, ou seja, são várias histórias dentro de um mesmo longa que, no final, compõem toda a obra.

https://www.youtube.com/watch?v=ngOE0cgPvQc

Aqui você será apresentado a cinco histórias que se concluem. Algumas são boas e outras nem tanto (por isso a paciência), contudo, após a conclusão de todas e a revelação do mistério em torno de tudo, é impossível não se sentir satisfeito.

O longa é dirigido por quatro diretores, sendo um deles o brasileiro Alberto Cavalcanti. De alguma forma, eles conseguem amarrar todas essas pequenas histórias de um jeito que funciona.

“Intermediário do Diabo” (“The Changeling”) – 1980

Dirigido por Peter Medak, este longa apresenta um músico que, após perder sua família, decide se mudar para uma mansão e viver uma vida solitária. Porém, além das perturbações de seu trauma pessoal, ele ainda precisa lidar com uma constante aparição e as descobertas que fará enquanto tenta se livrar deste mal.

O filme, que no Brasil também já teve o nome de “A Troca”, é um suspense investigativo dos mais básicos. Para ser sincero, não entendi muito bem a força dele para estar nesta lista de melhores filmes de terror feita por Martin Scorsese.

O estilo é genérico. Traz um espirito raivoso e um senso de urgência em ir desvendando as coisas até que consiga se livrar do mal em questão.

É um bom filme, com ótimos momentos de terror, um suspense investigativo interessante, mas com um ritmo bem cadenciado e um final simplório. Talvez focar no drama pessoal de todos os envolvidos, vivos ou mortos, seja um bom caminho para entender o porquê do reconhecimento.

“O Iluminado” (“The Shining”) – 1980

Aqui temos, na minha opinião, o segundo maior e mais assustador filme já feito. Não há palavras suficientes que descrevam o que é assistir a essa obra-prima de Stanley Kubrick.

A trama mostra Jack Torrence (Jack Nicholson) arrumando um emprego temporário como zelador em um hotel de luxo. Assim, ele e a família se mudam para o hotel para que, além do trabalho de zelador, Jack possa se reencontrar com a escrita.

Com o inverno intenso à porta e o hotel completamente vazio e isolado do mundo, Jack passa a perder a noção da realidade e se entrega a algo monstruoso.

Adaptação do livro de Stephen King (que curiosamente odiou o resultado), “O Iluminado” oferece uma imersão profunda e um estudo sobre o medo. As cores do hotel, os corredores que parecem eternos, o conhecimento dos quartos vazios que antes já receberam tantas histórias… tudo faz deste longa algo para ser vivido e não apenas assistido.

“O Exorcista” (“The Exorcist”) – 1973

Aqui, uma mãe vai se dando conta de que sua filha tem agido de forma estranha. Com o passar do tempo e com a piora aterrorizante da jovem, ela decide pedir ajuda a um padre.

Estamos diante do maior filme de terror de todos os tempos, com dez indicações ao Oscar e dois prêmios devidamente conquistados. É o ápice do horror e do medo em todos os aspectos de uma obra audiovisual: cores, trilhas sonoras, qualidade de imagem, construções de cena, tempos dramáticos, tempos de suspense, figurinos, ambientações e, claro, a completa falta de sensibilidade.

Visceral, a obra filme visceral, que não poupa na questão gráfica ao mostrar uma mãe vendo a filha no ápice da degradação humana. Por mais que todas as cenas choquem ao extremo, “O Exorcista” brilha justamente no psicológico: ele se agiganta e se torna uma obra do medo. Especialmente quando paramos para analisar o que é aquela situação à qual mãe e filha estão passando – o que se sente na mente, na alma, no coração e na carne daquelas duas pessoas.

“A Noite do Demônio” (“Night of the Demon”) – 1957

Um dos mais aclamados diretores de todos os tempos, o francês Jacques Tourneur, nos trouxe um filme obscuro, adaptado do conto “Casting the Runes” de M.R James. O desenvolvimento é tão simples que se torna irresistível apesar de um certo amadorismo.

A sinopse: um psicólogo entra em conflito intelectual com o líder de uma seita. Logo, o pobre doutor acaba recebendo um tipo de pedra que o amaldiçoa, lhe dando poucos dias de vida.

Este é outro que pode não fazer tanto sentido dentro de uma lista de melhores filmes de terror por ser muito obscuro e carregado de simbolismos. A adição do demônio em forma física – mesmo a contragosto do diretor – acaba trazendo um clima amador que não combina com a obra.

É um entretenimento delicioso de se acompanhar. Bem-feito, se utiliza bem das sombras e da névoa, com uma montagem devidamente trabalhada. Só não me pegou.

“Os Inocentes” (“The Innocents”) – 1961

Uma governanta é contratada para cuidar de duas crianças que acabaram de ficar órfãs. Logo, na enorme mansão, a ingênua senhora passa a ter visões sobrenaturais e a suspeitar do estranho comportamento das crianças.

Esse filme tem algumas curiosidades. Uma delas é ter sido baseado em uma história popular de 1898, de nome “The Turn of the Screw”, de Henry James. Além disso, o roteiro tem o dedo de ninguém menos que Truman Capote. E, recentemente, a Netflix adaptou a obra na bem-sucedida série “A Maldição da Mansão Bly”.

“Os Inocentes” é um terror gótico angustiante e sufocante, com um ritmo frenético e um desenvolvimento de personagens fabuloso. É incessante os sentimentos de terror e melancolia, flertando a todo momento com o macabro.

É uma grande história de fantasma, com uma base completamente poderosa. Certamente faz jus à presença em uma lista de melhores filmes de terror.

“Psicose” (“Psycho”) – 1960

Em “Psicose”, uma mulher foge após roubar uma grande quantia de dinheiro e se abriga em um estranho motel, administrado por um homem mais estranho ainda.

Considerado “o pai do suspense”, Alfred Hitchcock nos entrega aqui um clássico de seu gênero original. Torna-se assustador muito por conta da forma como é desenvolvido.

Um de seus grandes méritos foi quebrar as estruturas da história do cinema ao ter a coragem de matar, em seus primeiros minutos, a protagonista do filme – e interpretada por uma das atrizes mais requisitadas da época, Janet Leigh.

“Psicose” aborda com perfeição a mente doentia de uma pessoa, desenvolvendo com maestria a tal personalidade e com tais motivações. A fotografia angustiante não nos permite piscar os olhos. A força está na ideia de que o medo se constrói não por artifícios baratos, mas pela história que estamos dispostos a acompanhar. E ainda oferece um dos maiores plot twists da história. Magistral.

Os melhores filmes de terror?

E aí, curtiu a lista de melhores filmes de terror na opinião de Martin Scorsese? Diga nos comentários!

Obviamente as escolhas retratam tempos diferentes, quando o terror era feito e pensado de uma forma distinta em comparação aos dias de hoje.

De todo modo, vale a pena descobrir o motivo que fez cada um dos longas alcançar o coração de um dos maiores diretores da história do cinema.

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Raphael Christensen
Raphael Christensenhttp://www.igormiranda.com.br
Ator, Diretor, Editor e Roteirista Formado após passagem pelo Teatro Escola Macunaíma e Escola de Atores Wolf Maya em SP. Formado em especialização de Teatro Russo com foco no autor Anton Tchekhov pelo Núcleo Experimental em SP. Há 10 anos na profissão, principalmente no teatro e internet com projetos próprios.

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