Entrevista: Dino Cazares fala sobre “Recoded”, futuro do Fear Factory e irmãos Cavalera

Importante banda do metal industrial lança nesta sexta-feira (28) álbum com remixes de “Aggression Continuum”, trabalho de inéditas mais recente

A entrevista abaixo, com Dino Cazares, poderia ter sido presencial. Isso porque faz pouco tempo que o guitarrista do Fear Factory esteve no Brasil; sua última vinda foi em agosto, com os irmãos Max e Iggor Cavalera na turnê “Return to Roots”, que visa à celebração (adiada em um ano pela Covid-19) dos 25 anos do álbum “Roots”, do Sepultura.

Mas o giro está longe de ser o principal assunto a ser conversado com Cazares, uma vez que sua banda principal está de disco novo na área. Não obstante seja uma coletânea de remixes do ainda fresquinho “Aggression Continuum” (2021), “Recoded”, lançado pela Nuclear Blast Records, promete inaugurar uma nova fase no Fear Factory, que completa 32 anos de carreira este mês e segue inovando a cada lançamento.

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O mistério acerca do novo vocalista do Fear Factory não foi desfeito — Cazares está decidido a só revelá-lo quando houver músicas a serem lançadas —, mas algumas novas dicas foram dadas. Será que alguém arrisca um palpite?

Entrevista com Dino Cazares (Fear Factory)

“Recoded”: álbum novo de músicas velhas

Por que um remix do álbum “Aggression Continuum”?

Bem, primeiro é que não fazemos isso há muito tempo. O último disco de remixes que fizemos foi o “Remanufacture”, com remixes do “Demanufacture” (1995), em 1997. Como tivemos muito tempo de inatividade durante a pandemia, sem poder ir ao estúdio ou algo assim, decidi entrar em contato com vários DJs diferentes e trazer esse disco à vida. E foi muito legal porque pudemos fazer tudo online.

Com o “Recoded” você pretende mostrar que a música do Fear Factory não tem fronteiras ou está tentando alcançar um público que não necessariamente gosta de heavy metal, mas gosta de música eletrônica?

Todas as alternativas. O lance é que o Fear Factory já fez isso antes. Tipo, fizemos nosso primeiro EP de remixes [“Fear is the Mind Killer”] em 1993, então estamos experimentando esse tipo de coisa há muitos anos. É sempre um desejo nosso ver nossa música remixada, aprimorada ou manipulada de diferentes maneiras. Sentimos, desde 1993, que nossa música é perfeita para isso. Tínhamos uma vibe futurista, um som futurista que eu acho que seria perfeito para os DJs manipularem e adicionarem seus elementos.

Os remixes presentes no “Recoded” deram nova identidade às músicas. Algum desses remixes fez a música soar mais legal, melhor do que o original, a ponto de você preferir o remix à original?

Boa pergunta. Quando lançamos o “Fear is the Mind Killer” em 1993, tinha uma música chamada “Scapegoat” que no remix chamava-se “Pigfuck Mix” e da qual eu gosto muito mais do que a original; tanto é que essa é a versão que tocamos ao vivo. Mas no “Recoded”, gosto tanto dos remixes quanto das originais. “Aggression Continuum” é um disco incrível, um dos nossos melhores.

Remixes: tão no sangue

Você não teme que parte dos fãs possam acusá-lo de requentar uma ideia já posta em prática? Tipo, quando decidiu fazer o “Recoded”, você considerou os prós e contras dessa decisão?

Você nunca vai agradar a todos, não importa o que faça, então parei de me preocupar com isso há muito tempo. Mas um verdadeiro fã do Fear Factory sabe que remixes estão na nossa essência. Mesmo que não tenhamos lançado álbuns completos de remixes desde 1997, fizemos remixes que usamos para lados B e bonus tracks. Remixes são uma parte, uma extensão do Fear Factory.

Pelo que sabe a respeito dos seus fãs e dos fãs de heavy metal em geral, você acredita que eles têm a mente mais aberta hoje do que tinham no passado?

Acho que sim. Mas é porque naquela época havia muita segregação; havia metal, punk, new wave e música pop, e as coisas não se misturavam. Com o passar do tempo, muitos desses gêneros se combinaram e se juntaram, especialmente o hip hop, o metal e a música eletrônica. Muitas coisas se fundiram e as pessoas adicionaram música sinfônica e coisas assim. Daí eu achar que os fãs estão se tornando um pouco mais abertos a isso.

Mas o Fear Factory ainda tem fãs que ainda esperam que a banda volte a soar como no “Demanufacture” ou no “Obsolete” (1998)?

Não acho que soemos muito diferente desses discos. A cada disco tentamos progredir ou aprimorar as coisas. Claro que adicionamos elementos diferentes à nossa música, mas acho que o alicerce se mantém intacto desde o “Demanufacture”. O riff de “Purity”, que está no “Aggression Continuum”, é muito semelhante ao de “Replica” do “Demanufacture”, por exemplo.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

O novo vocalista (ou aquele que não deve ser nomeado)

Sei que você não vai revelar ainda quem é o novo vocalista do Fear Factory. Mas por que esse mistério todo? Você quer surpreender as pessoas com o escolhido?

Quero revelar quem é quando tivermos material para lançar. Acho que vai chamar mais atenção assim. Se eu revelar quem é agora, todo mundo vai ficar tipo, “ok, tanto faz”, certo? Então é melhor fazer o anúncio assim, vai chamar mais atenção dessa forma.

Já circula na internet a informação de que ele é italiano e razoavelmente conhecido…

Isso são só especulações, um cara da Itália que deu uma entrevista falando isso.

Mas está por toda parte agora! [Risos.] Enfim, o que torna o novo vocalista o cara certo para ocupar o posto?

Ele consegue soar pesado e melódico sem esforço, é uma combinação muito boa, e ele é um cantor muito bom. Também toca bateria, guitarra, baixo, teclado e é produtor também. Um de seus pais é um nome muito conceituado na música.

Então a ideia era encontrar um cara que pudesse contribuir em muitas outras coisas além dos vocais, certo?

Isso mesmo. Ele tem outras bandas e coisas assim, e também fez algumas turnês; ou seja, tem muita experiência nessas coisas. Só não é muito chegado a internet, redes sociais etc., porque no minuto que o nome dele for divulgado, os abutres vão sair do ninho prontos para liquidá-lo,  se é que você me entende. Mas assim que eles o ouvirem, vão elogiá-lo e reconhecer o quanto esse cara é incrível.

30 anos da estreia “Soul of a New Machine”

Quais foram as principais conquistas da banda nesses quase 32 anos?

Bem, lançar nosso primeiro disco foi incrível. Quero dizer, meu objetivo era conseguir um contrato com a banda e colocá-la em turnê; esse era o meu objetivo e isso é algo pelo que trabalhei muito duro. Mas ao longo dos anos tivemos muitas outras conquistas; ganhamos discos de ouro em todo o mundo, fizemos trilhas sonoras, trabalhamos com Gary Numan, saímos em turnê com o Metallica… são tantas conquistas que é difícil apontar uma como sendo a principal.

Já que você mencionou o primeiro disco, este ano marca o 30º aniversário do “Soul of a New Machine”. Há alguma comemoração especial nos planos?

Nada ainda. Nosso principal objetivo agora é preparar músicas novas, lançar algumas delas, apresentar o novo vocalista e depois pegar a estrada.

O que o “Soul of a New Machine” representa para você?

Acho que o título faz jus ao que é o álbum. É o nascimento do Fear Factory, o nascimento do nosso som, o início de algo novo, de algo diferente. Quando começamos, era o auge do grindcore, do death metal, então fomos uma das primeiras bandas a adicionar os vocais melódicos limpos, alguns samples e coisas assim. Claro, havia outras bandas como o Godflesh, o Ministry e o Nine Inch Nails, mas ninguém estava fazendo som do jeito que estávamos, misturando instrumental pesado com vocais limpos em uma mesma música. Estava em nosso DNA. Foi como começamos e foi como queríamos começar, e para mim isso foi muito inovador.

Filmes e games

Como muitos dos meus amigos aqui no Brasil, meu primeiro contato com o Fear Factory foi graças ao jogo “Test Drive 5” (1998). Então aproveito para te perguntar: você é fã de videogames?

Sim e não. [Risos.] Não sou do tipo que passa o tempo sentado no sofá o dia todo jogando videogame, mas gosto de jogar de vez em quando.

Você sentiu que a inclusão do Fear Factory na trilha sonora do jogo teve alguma repercussão nos números da banda ou pelo menos lhe conferiu um nível diferente de popularidade?

Muitas pessoas nos descobriram pelos games, não apenas o Test Drive 5, mas vários outros dos quais participamos. E também pelos filmes como “Mortal Kombat” (1995). Foram muitas as pessoas que descobriram o Fear Factor nessa trilha sonora [com a música “Zero Factor”].

“Roots”, irmãos Cavalera e amor pelo que se faz

Você esteve recentemente no Brasil com os irmãos Cavalera tocando shows em comemoração ao álbum “Roots” do Sepultura. Como foi?

Foi ótimo. Sempre que vou para a América do Sul, eu adoro. Argentina, Chile, Peru, Colômbia, Venezuela, Brasil; adoro ir a todos esses países. Para mim, vocês são alguns dos fãs mais apaixonados por esse tipo de música do mundo. Muitas outras bandas que conheço adoram ir também.

Você provavelmente sabe que o “Roots” foi um disco revolucionário para o heavy metal brasileiro. Qual a sua opinião sobre o álbum?

É um ótimo álbum, muito tribal, muitas músicas insanas. Tive que aprender o disco inteiro de trás para frente para os shows. Felizmente conheço os caras do Sepultura desde 1991 e houve momentos em que estive perto deles, seja ensaiando ou criando música ou indo para filmagens ou apenas saindo com eles para confraternizar. O produtor [do “Roots”] Ross Robinson é meu amigo desde a infância, então eu meio que me imaginei no estúdio trabalhando com aqueles caras quando eles estavam criando o álbum. Quando você ouve o “Roots”, é quase como se você estivesse no estúdio compondo com eles. Foi assim que me senti. E o fato de o disco ser sobre os povos originários do Brasil apenas o torna ainda mais poderoso.

Poucas pessoas sabem, mas o Max [Cavalera] foi fundamental no início da carreira do Fear Factory. Você poderia me dizer como ele ajudou a banda?

Nós fizemos uma demo com o Ross Robinson em 1991, e durante uma convenção de música aqui em Los Angeles, na Califórnia, eu estava no bar e um cara agarrou meu braço e eu não sabia quem era. Perguntei: “quem diabos é você?”, e ele disse: “Eu sou o Max do Sepultura”. Eu não sabia quem ele era na época; conhecia a banda, só não sabia como ele era fisicamente. Então começamos a conversar, nos tornamos amigos de imediato. Daí eu disse: “pô, quer dar um confere no som da minha banda?”, ele disse, “beleza”. Então subimos para o quarto dele, toquei a fita para ele em seu walkman, e ele imediatamente reconheceu que o som era muito bom, tanto que ele não queria devolver a fita para mim, então eu tive que lutar com ele para pegar a fita de volta, porque era a única cópia que eu tinha! Depois ele disse: “Vou falar com o Monte [Conner, presidente da Roadrunner Records] sobre vocês”. Tudo o que eu sei é que me ligaram da gravadora dizendo: “Ei, o Max disse que você tem uma demo. Gostaríamos de ouvir”. Enviamos para eles e… Bum! Passadas algumas semanas eles contrataram a banda.

A partir daí, em que momento você se olhou no espelho e disse para si mesmo: “é, a banda deu certo”?

Todos os dias eu faço isso. [Risos.] Todos os dias eu acordo e vejo o quanto sou privilegiado por ter essa carreira, por poder lançar músicas que algumas pessoas gostam. Sempre haverá quem não goste; é assim na América e em todo o mundo, é assim hoje em dia. Você tem que ser casca-grossa para poder lidar com as críticas sem enlouquecer, mas isso não me impede de compartilhar minha visão artística, porque eu amo trabalhar com música todos os dias e amo me comunicar com os fãs todos os dias. Para mim, é um prazer poder fazer o que faço e escrever música e poder ter uma carreira a partir disso.

Isso quer dizer que você nunca chegou ao ponto em que quase desistiu da sua carreira por qualquer motivo?

Houve momentos em que pensei sobre isso, especialmente quando estava sendo processado por alguns ex-integrantes da banda. Houve alguns períodos em que tive certeza de que nunca sairia daquilo, sabe? Eu só queria desistir, mas ao mesmo tempo pensava: “Não posso, porque eu amo muito fazer música, amo muito meu trabalho, amo muito aquilo que faço”. O segredo foi perseverar e passar pelo que eu precisava passar, e eis-me aqui agora.

Ouça “Recoded” a seguir, via Spotify, ou clique aqui para conferir em outras plataformas digitais. A edição em CD físico será disponibilizada no Brasil pela Shinigami Records.

Fear Factory – “Recoded”

  1. Adapt Or Die – Intro narrative by Jake Stern sound FX by Zardonic
  2. Hatred Will Prevail – “Monolith” Remix by Rhys Fulber
  3. Disobey – “Disruptor” Remix by Zardonic
  4. I Am The Nightrider – “Fuel Injected Suicide Machine” Remix by Dualized/Zardonic
  5. Path to Salvation – “Purity” Remix by Rhys Fulber
  6. Worthless – “End Of Line” Remix by Zardonic
  7. Empires Fall – “Collapse” Remix by Tyrant Of Death
  8. System Assassin – “Aggression Continuum” Remix by Rhys Fulber
  9. Hypocrisy Of Faith – “Manufactured Hope” Remix by Rob Gee
  10. This Is My Life – “Cognitive Dissonance” Remix by Zardonic
  11. Recoded – “Recode” Remix by Blush Response

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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

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