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A história de “My Own Prison”, o álbum que apresentou o Creed ao mundo

Estreia do grupo vendeu seis milhões de cópias nos Estados Unidos, dando início a uma carreira meteórica

O Creed surgiu meio que do nada. Formado inicialmente pelo vocalista Scott Stapp e o guitarrista Mark Tremonti, o grupo passou seus primeiros dois anos de existência tocando por bares e pequenas casas de show em seu estado natal da Flórida. 

Foram notados por um empresário, que os colocou para gravar um disco com um amigo produtor. Esse álbum fez as rondas na indústria, atraiu o interesse de uma gravadora maior. Remixado para soar mais comercial, vendeu mais de seis milhões de cópias nos Estados Unidos.

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Seria fácil argumentar que o Creed foi um produto de sua época, quando nunca se vendeu tantos discos e toda banda com apoio da gravadora ganhava disco de platina mesmo sem respaldo da crítica.  Eles, contudo, foram a maior dessas bandas e se tornaram sinônimo do que ficou conhecido como pós-grunge.

200 pessoas

A grande chance do Creed foi um show fracassado. Buscando a oportunidade de se apresentar em um lugar maior que os bares onde passaram os primeiros dois anos e meio do grupo tocando, os integrantes garantiram aos donos de uma casa de espetáculos em Tallahassee serem capazes de atrair pelo menos 200 espectadores pagantes.

A banda estava mentindo, mas isso não importou para Jeff Hanson, um dos proprietários da casa e empresário musical. O set do Creed era formado principalmente por covers, mas as duas canções originais chamaram tanto sua atenção a ponto dele assiná-los para um contrato.

Hanson os colocou imediatamente para trabalhar com seu amigo John Kurzweg, produzindo o que seria o álbum de estreia do grupo “My Own Prison”. Numa entrevista para o Hit Quarters, ele descreveu sua decisão:

“Ele não era um tipo agressivo de produtor que tenta mudar tudo. Alguns caras fazem tudo soar superpesado ou indie, ou alguns caras querem fazer tudo analógico e se recusam a usar digital. Ele parecia ser o cara certo. Ele é um multi-instrumentista e compositor. Então liguei pra ele pra fazer um disco barato, um disco de US$ 6 mil que eventualmente vendeu seis milhões de cópias.”

Quando Kurzweg viu o Creed ao vivo pela primeira vez, contudo, ele não ficou impressionado. Foi só quando começou a trabalhar com a banda no estúdio que se deparou com um material de qualidade não sendo tocado em shows, como falou ao Stereogum:

“Quando eu ia vê-los, era muito diferente do tipo de material que eles traziam para o estúdio. Acho que era porque, quando está tocando num clube, seja um show de covers ou originais, você precisa manter a energia alta. Não dá pra fazer coisas com mais nuance. Mas eles eram bem verdes ao vivo. Não eram bons ainda.”

O grande apelo do grupo se baseava na boa e velha dinâmica vocalista-guitarrista. Enquanto Scott Stapp era o típico cantor galã com uma voz semelhante à de Eddie Vedder, Mark Tremonti era o guitar hero com toda a habilidade do mundo. Garotas iam por um, garotos pelo outro, e todos à volta da banda, completa por Brian Marshall (baixo) e Scott Phillips (bateria), começaram a notar isso.

Crença e fé

Quando o Creed começou a gravar “My Own Prison”, eles já tinham quase todo o material composto. Contudo, o processo foi demorado por motivos que Scott Stapp resume bem claramente ao Stereogum:

“Foi tudo baseado em finanças. Estávamos financiando a nós mesmos, então se precisássemos economizar dinheiro para conseguir mais tempo no estúdio, a gente precisava esperar até termos mais dinheiro para gravar mais músicas. Estávamos naquele momento mesmo e tínhamos muita crença e fé na nossa música, muito confiantes com o que estávamos fazendo.”

Crença e fé são dois aspectos importantes a se levantar quando falamos do Creed, pois sempre houve uma discussão acerca deles poderem ser caracterizados como uma banda de rock cristão.

As letras sempre tiveram certo teor religioso, o que se deve em grande parte ao passado de Stapp, cujo padrasto era um pastor pentecostal. Grande parte do período quando o vocalista e Mark Tremonti estavam ainda planejando formar uma banda foi passado tendo discussões sobre teologia e espiritualidade.

Isso aparece em “My Own Prison” em canções lidando com questões de identidade e pecado. Além disso, há assuntos políticos abordados sob uma ótica cristã e apresentados de maneira problemática.

Isso tudo não impediu o grupo, contudo. Uma vez terminadas as gravações, foram prensadas 6 mil cópias de “My Own Prison”, distribuídas ao redor da Flórida, onde começou a tocar bastante no rádio. Isso chamou a atenção de Diana Metzler, da Wind-Up Records, que descreveu ao Hit Quarters sua impressão inicial da banda:

“Pra mim não havia dúvida que eles acabariam sendo uma banda de arena… a banda já tinha um público local grande e vendo a energia no ambiente quando Scott Stapp pegou no microfone, ouvindo sua voz poderosa encher a casa junto com os riffs agora lendários de Mark Tremonti e aquele som antêmico do Creed, era tudo que eu precisava. Levei a banda pra Nova York e eles assinaram com a Wind-Up aquela semana. Foram minha primeira banda assinada.”

A Wind-Up remixou o disco para torná-lo mais radiofônico e o relançou no país inteiro em 26 de agosto de 1997. Mesmo sem presença na MTV, cobertura na mídia ou grande apoio da gravadora, “My Own Prison” foi aos poucos ganhando terreno. Seus quatro singles – a faixa-título, “Torn”, “What’s This Life For?” e “One” – chegaram ao topo da parada Mainstream Rock da Billboard, um feito inédito para uma banda estreante. 

O álbum em si chegou ao número 22 da parada principal da Billboard em 1998. Terminou aquele ano como o disco de música pesada mais vendido, segundo a Nielsen Soundscan. Ao todo, a estreia do Creed teve o já mencionado número de seis milhões de cópias comercializadas nos Estados Unidos, recebendo seis discos de platina.

O trabalho seguinte do grupo, “Human Clay”, de 1999, vendeu ainda mais: 20 milhões de cópias. “Weathered”, o terceiro, vendeu menos que o anterior, porém permaneceu no topo das paradas americanas por oito semanas em 2001, igualando uma marca dos Beatles.

Eles nunca atingiram números semelhantes após isso, até porque a banda acabou em 2004 e teve uma breve reunião entre 2009 e 2012, gerando o álbum “Full Circle”, quando o timing já havia passado. Não só do grupo, mas da indústria musical, que já não era mais a mesma.

O Creed esteve entre os últimos beneficiários da bonança pré-mp3. Nunca se vendeu tantos discos quanto na virada do milênio – e eles talvez tenham sido a banda mais bem-sucedida do período.

Creed- “My Own Prison”

  • Lançado em 26 de agosto de 1997 pela Wind-up Records (lançamento original em 24 de junho de 1997 em edição limitada pela Blue Collar Records)
  • Produzido por John Kurzweg

Faixas:

  1. Torn
  2. Ode
  3. My Own Prison
  4. Pity for a Dime
  5. In America
  6. Illusion
  7. Unforgiven
  8. Sister
  9. What’s This Life For
  10. One

Músicos:

  • Scott Stapp (vocal)
  • Mark Tremonti (guitarra, backing vocals, covocal na faixa 3)
  • Brian Marshall (baixo)
  • Scott Phillips (bateria)

Músico adicional:

  • John Kurzweg (teclados)

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Pedro Hollanda
Pedro Hollanda
Pedro Hollanda é jornalista formado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso e cursou Direção Cinematográfica na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Apaixonado por música, já editou blogs de resenhas musicais e contribuiu para sites como Rock'n'Beats e Scream & Yell.

1 COMENTÁRIO

  1. Foi uma época legal, algumas músicas da banda eu gosto…me trazem boas lembranças em termos de tudo!!!! Era video clipes, novela malhação, rádios…marcou muito!!!! Valeu!!!!

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Foram notados por um empresário, que os colocou para gravar um disco com um amigo produtor. Esse álbum fez as rondas na indústria, atraiu o interesse de uma gravadora maior. Remixado para soar mais comercial, vendeu mais de seis milhões de cópias nos Estados Unidos.

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Seria fácil argumentar que o Creed foi um produto de sua época, quando nunca se vendeu tantos discos e toda banda com apoio da gravadora ganhava disco de platina mesmo sem respaldo da crítica.  Eles, contudo, foram a maior dessas bandas e se tornaram sinônimo do que ficou conhecido como pós-grunge.

200 pessoas

A grande chance do Creed foi um show fracassado. Buscando a oportunidade de se apresentar em um lugar maior que os bares onde passaram os primeiros dois anos e meio do grupo tocando, os integrantes garantiram aos donos de uma casa de espetáculos em Tallahassee serem capazes de atrair pelo menos 200 espectadores pagantes.

A banda estava mentindo, mas isso não importou para Jeff Hanson, um dos proprietários da casa e empresário musical. O set do Creed era formado principalmente por covers, mas as duas canções originais chamaram tanto sua atenção a ponto dele assiná-los para um contrato.

Hanson os colocou imediatamente para trabalhar com seu amigo John Kurzweg, produzindo o que seria o álbum de estreia do grupo “My Own Prison”. Numa entrevista para o Hit Quarters, ele descreveu sua decisão:

“Ele não era um tipo agressivo de produtor que tenta mudar tudo. Alguns caras fazem tudo soar superpesado ou indie, ou alguns caras querem fazer tudo analógico e se recusam a usar digital. Ele parecia ser o cara certo. Ele é um multi-instrumentista e compositor. Então liguei pra ele pra fazer um disco barato, um disco de US$ 6 mil que eventualmente vendeu seis milhões de cópias.”

Quando Kurzweg viu o Creed ao vivo pela primeira vez, contudo, ele não ficou impressionado. Foi só quando começou a trabalhar com a banda no estúdio que se deparou com um material de qualidade não sendo tocado em shows, como falou ao Stereogum:

“Quando eu ia vê-los, era muito diferente do tipo de material que eles traziam para o estúdio. Acho que era porque, quando está tocando num clube, seja um show de covers ou originais, você precisa manter a energia alta. Não dá pra fazer coisas com mais nuance. Mas eles eram bem verdes ao vivo. Não eram bons ainda.”

O grande apelo do grupo se baseava na boa e velha dinâmica vocalista-guitarrista. Enquanto Scott Stapp era o típico cantor galã com uma voz semelhante à de Eddie Vedder, Mark Tremonti era o guitar hero com toda a habilidade do mundo. Garotas iam por um, garotos pelo outro, e todos à volta da banda, completa por Brian Marshall (baixo) e Scott Phillips (bateria), começaram a notar isso.

Crença e fé

Quando o Creed começou a gravar “My Own Prison”, eles já tinham quase todo o material composto. Contudo, o processo foi demorado por motivos que Scott Stapp resume bem claramente ao Stereogum:

“Foi tudo baseado em finanças. Estávamos financiando a nós mesmos, então se precisássemos economizar dinheiro para conseguir mais tempo no estúdio, a gente precisava esperar até termos mais dinheiro para gravar mais músicas. Estávamos naquele momento mesmo e tínhamos muita crença e fé na nossa música, muito confiantes com o que estávamos fazendo.”

Crença e fé são dois aspectos importantes a se levantar quando falamos do Creed, pois sempre houve uma discussão acerca deles poderem ser caracterizados como uma banda de rock cristão.

As letras sempre tiveram certo teor religioso, o que se deve em grande parte ao passado de Stapp, cujo padrasto era um pastor pentecostal. Grande parte do período quando o vocalista e Mark Tremonti estavam ainda planejando formar uma banda foi passado tendo discussões sobre teologia e espiritualidade.

Isso aparece em “My Own Prison” em canções lidando com questões de identidade e pecado. Além disso, há assuntos políticos abordados sob uma ótica cristã e apresentados de maneira problemática.

Isso tudo não impediu o grupo, contudo. Uma vez terminadas as gravações, foram prensadas 6 mil cópias de “My Own Prison”, distribuídas ao redor da Flórida, onde começou a tocar bastante no rádio. Isso chamou a atenção de Diana Metzler, da Wind-Up Records, que descreveu ao Hit Quarters sua impressão inicial da banda:

“Pra mim não havia dúvida que eles acabariam sendo uma banda de arena… a banda já tinha um público local grande e vendo a energia no ambiente quando Scott Stapp pegou no microfone, ouvindo sua voz poderosa encher a casa junto com os riffs agora lendários de Mark Tremonti e aquele som antêmico do Creed, era tudo que eu precisava. Levei a banda pra Nova York e eles assinaram com a Wind-Up aquela semana. Foram minha primeira banda assinada.”

A Wind-Up remixou o disco para torná-lo mais radiofônico e o relançou no país inteiro em 26 de agosto de 1997. Mesmo sem presença na MTV, cobertura na mídia ou grande apoio da gravadora, “My Own Prison” foi aos poucos ganhando terreno. Seus quatro singles – a faixa-título, “Torn”, “What’s This Life For?” e “One” – chegaram ao topo da parada Mainstream Rock da Billboard, um feito inédito para uma banda estreante. 

O álbum em si chegou ao número 22 da parada principal da Billboard em 1998. Terminou aquele ano como o disco de música pesada mais vendido, segundo a Nielsen Soundscan. Ao todo, a estreia do Creed teve o já mencionado número de seis milhões de cópias comercializadas nos Estados Unidos, recebendo seis discos de platina.

O trabalho seguinte do grupo, “Human Clay”, de 1999, vendeu ainda mais: 20 milhões de cópias. “Weathered”, o terceiro, vendeu menos que o anterior, porém permaneceu no topo das paradas americanas por oito semanas em 2001, igualando uma marca dos Beatles.

Eles nunca atingiram números semelhantes após isso, até porque a banda acabou em 2004 e teve uma breve reunião entre 2009 e 2012, gerando o álbum “Full Circle”, quando o timing já havia passado. Não só do grupo, mas da indústria musical, que já não era mais a mesma.

O Creed esteve entre os últimos beneficiários da bonança pré-mp3. Nunca se vendeu tantos discos quanto na virada do milênio – e eles talvez tenham sido a banda mais bem-sucedida do período.

Creed- “My Own Prison”

  • Lançado em 26 de agosto de 1997 pela Wind-up Records (lançamento original em 24 de junho de 1997 em edição limitada pela Blue Collar Records)
  • Produzido por John Kurzweg

Faixas:

  1. Torn
  2. Ode
  3. My Own Prison
  4. Pity for a Dime
  5. In America
  6. Illusion
  7. Unforgiven
  8. Sister
  9. What’s This Life For
  10. One

Músicos:

  • Scott Stapp (vocal)
  • Mark Tremonti (guitarra, backing vocals, covocal na faixa 3)
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  • Scott Phillips (bateria)

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Pedro Hollanda é jornalista formado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso e cursou Direção Cinematográfica na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Apaixonado por música, já editou blogs de resenhas musicais e contribuiu para sites como Rock'n'Beats e Scream & Yell.

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  1. Foi uma época legal, algumas músicas da banda eu gosto…me trazem boas lembranças em termos de tudo!!!! Era video clipes, novela malhação, rádios…marcou muito!!!! Valeu!!!!

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