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Entrevista: Billy Gibbons fala sobre “Raw”, Dusty Hill e clássicos do ZZ Top

Bate-papo girou em torno do primeiro lançamento desde falecimento de Hill, lendário baixista; material foi gravado ao vivo como trilha de filme sobre a banda para a Netflix

O dia 28 de julho de 2021 pôs fim a uma das histórias mais lindas do rock e, porque não, da música em geral. O ZZ Top, banda que mantinha a mesma formação desde 1970, perdeu seu baixista, Dusty Hill, em função de um problema de saúde não especificado. Ele tinha 72 anos.

Antes mesmo de falecer, Hill demonstrou ter consciência que o show não poderia parar. Em uma demonstração de altruísmo e dedicação com a banda à qual dedicou sua vida, ele deu sua bênção para que outro músico ocupasse sua vaga. O escolhido já era da família há tempos: Elwood Francis, técnico responsável pelas guitarras e baixos do grupo nas últimas três décadas.

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O ZZ Top segue na estrada com Francis, mas as homenagens a Dusty Hill se farão presentes ao longo da jornada. Uma delas chega às prateleiras e plataformas nesta sexta-feira (22): o álbum ao vivo “Raw”, primeiro lançamento oficial da banda desde a partida de seu baixista (clique aqui para ouvir).

O material reúne a trilha sonora do documentário “That Little Ol’ Band From Texas”, lançado na Netflix em 2019 e indicado a um Grammy de Melhor Filme Musical em 2021 (o troféu acabou ficando com “The Sound of My Voice”, de Linda Ronstadt). As gravações foram ao vivo, mas sem plateia. Eram apenas Dusty Hill, Billy Gibbons (voz e guitarra) e Frank Beard (bateria) tocando juntos e de frente um para o outro no Gruene Hall, lendária casa de shows no Texas, Estados Unidos, terra natal do grupo.

Tive a honra de entrevistar Billy Gibbons para falar sobre este novo lançamento. A voz do ZZ Top detalhou como foi o trabalho em torno do álbum, exaltou os talentos de Frank Beard e do saudoso Dusty Hill, relembrou os clássicos discos “Tres Hombres” (1973) e “Eliminator” (1983) às vésperas de seus respectivos aniversários de número 50 e 40 e ofereceu um vislumbre dos próximos planos da banda. Spoiler: pode ter Brasil no meio disso aí.

Entrevista com Billy Gibbons (ZZ Top)

A crueza de “Raw”

Igor Miranda: “Raw” foi gravado para servir de um interlúdio ao documentário “That Little Ol’ Band from Texas” (2019), da Netflix. Como surgiu a ideia de gravar este disco?

Billy Gibbons: Chegamos a esta improvável gravação por invenção do diretor Sam Dunn. Sam sugeriu mostrar como era quando a banda começou a gravar nos primeiros dias: simplesmente o grupo reunido no estúdio. O documentário realmente nos remete àqueles primeiros dias. Fomos convidados a voltar ao honky tonk mais antigo do estado do Texas, o Gruene Hall. Imediatamente nos acomodamos de forma confortável e com aquele nível de intimidade favorecido pela banda, a sessão foi perfeita.

https://www.youtube.com/watch?v=JSF1ppkmSLo

IM: Este álbum realmente soa cru, assim como o título diz (nota da edição: “Raw” significa “cru” em inglês), e isso está totalmente relacionado com a forma como vocês gravaram as músicas. Li em algum lugar que vocês tocaram tudo juntos à vista um do outro e fizeram tudo durante apenas um dia. Obviamente vocês já fazem isso há muito tempo, mas quais são os principais desafios de gravar dessa forma?

BG: Nesse caso, a boa notícia é que temos nossas experiências de estúdio diretas e simplificadas. Estamos nisso há tanto tempo que meio que antecipamos os movimentos internos, deixando a rolar com o fluxo. É uma espécie de mecanismo inerente construído em cada um de nós. É como se perseguíssemos um ao outro. Na verdade, não havia ali nenhum dos equipamentos usuais para uma sessão do tipo. Chegamos para conferir o equipamento já no lugar, o que nos levou a simplesmente tocar e começar a rolar a bola. Não havia nenhuma evidência de equipamento de gravação presente, o que mais tarde foi revelado aos engenheiros, então fizemos uma jam session, momento a momento.

IM: Tem alguns clássicos atemporais na tracklist, mas também tem algumas músicas que vocês não tocam com muita frequência, como “Certified Blues” e “Thunderbird”. Como é o processo de escolha das músicas para um setlist de shows? E como surgiu a ideia de tocar essas duas faixas que mencionei antes?

BG: Fizemos tudo sem planejamento sob a filosofia predominante de: “se for bom, faça”. “Certified Blues” é uma faixa do primeiro álbum do ZZ Top, inteligentemente intitulado “ZZ Top’s First Album” – achamos que isso nos garantiria um segundo álbum. O disco foi originalmente gravado praticamente da mesma maneira que fizemos este projeto “Raw”, então “Certified Blues” o validaria. Daí, é claro, temos esta faixa de celebração ao Texas, “Thunderbird”. Não é sobre um carro: é sobre um tipo de vinho barato comprado quando você está em busca de uma boa noite. Essa música era a nossa abertura clássica de shows quando começamos a fazer turnês. É uma música que deixa o público preparado e pronto para se divertir. É a garrafa que é trazida quando você está para baixo, quebrado e com fome, mas ainda quer fazer uma festa.

Os talentos individuais

IM: Esta gravação ao vivo mostra não apenas como a banda trabalha coletivamente, mas também evidencia os talentos individuais. E devo dizer que sempre fico impressionado com Frank Beard quando ouço suas gravações ao vivo, porque ele é um baterista muito subestimado. Sabemos que tocar bateria é uma atividade muito física e alguns bateristas não envelhecem bem, mas esse não é o caso dele. O que você pode dizer sobre Frank como baterista?

BG: O que posso dizer? Frank nasceu para fazer isso. É como sua segunda natureza; ele realmente não parece nem precisar pensar no que está tocando porque é inerente ao seu ser físico. É natural e ele manteve esse poder e foco, tendo gostado de fazer isso por tanto tempo.

IM: Seu timbre de guitarra é incrível neste álbum. Qual equipamento e configuração você usou para essa gravação? E qual é o seu principal objetivo ao tentar encontrar o timbre perfeito para gravar?

BG: Dizemos que as três palavras de ordem do ZZ Top são “Tone, Taste and Tenacity” (algo como “Tom, Sabor e Solidez”, em tradução livre). Nossa “Tenacity” (“Solidez”) está garantida considerando que estamos fazendo isso há décadas. “Taste” (“Sabor”) é uma questão de opinião, mas a ideia é dar ao paladar musical – se tal coisa existisse – uma porção bem arredondada de rock baseado em blues e atrevimento. No que diz respeito ao “Tone” (“Tom”), fazemos o nosso melhor para sermos sonoramente consistentes. Pearly Gates, minha feroz guitarra Gibson Les Paul Sunburst 1959, estabeleceu o padrão para o som que é uma pedra fundamental do ZZ Top.

IM: Já que estamos falando de timbres, não podemos ignorar os sons de Dusty (e suas habilidades, é claro) durante esta gravação. Acaba nos mostrando que ele era como a “cola” que mantinha todo o som unido. Como você pode definir o saudoso Dusty como baixista?

BG: Musicalmente brilhante e um músico verdadeiramente intuitivo. Seu dedo indicador direito era um presente… um apêndice superdesenvolvido que, de certa forma, mostra como ele era completamente evoluído em termos darwinianos. Como indivíduo, ele era leal, alegre e firme – o que, pensando bem, se refletia em sua performance musical.

Elwood Francis e Brasil

IM: Desde que Dusty nos deixou, Elwood Francis, técnico de guitarras de longa data, assumiu as funções de baixo para as turnês do ZZ Top. Sabemos que quando Dusty adoeceu, ele mesmo indicou que sabia que Elwood seria a pessoa certa para ajudar vocês a seguir em frente. Mas o que você pode dizer sobre Elwood como baixista?

BG: Elwood, que está em nossa organização há mais de três décadas, observou atentamente de que forma fazemos o que fazemos. No que diz respeito a estar atualizado sobre isso, Elwood estava à nossa disposição quando foi chamado para manter a base do Top. Ele tem um dom que foi reconhecido por Dusty e agora o público também.

IM: O ZZ Top só veio uma vez ao Brasil para shows, em 2010. Vocês fizeram três apresentações: duas em São Paulo e uma em Porto Alegre. Quais lembranças você guarda desses shows e do nosso país? Há planos de voltar ao Brasil com a nova turnê?

BG: Certamente temos o objetivo de voltar o quanto antes! O que mais nos impressionou foi o entusiasmo desenfreado que sentimos do público brasileiro. Isso nos energizou de uma maneira potente e poderosa, foi realmente emocionante.

 “Tres Hombres” e “Eliminator”

IM: 2023 marca o 50º aniversário de “Tres Hombres”, o álbum que fez o ZZ Top ficar famoso e um dos mais amados da carreira da banda. Quais lembranças você tem de compor, gravar e lançar este álbum?

BG: “Tres Hombres”… sim, as coisas realmente deram certo para nós com este aí. As duas primeiras faixas, “Waiting for the Bus” e “Jesus Just Left Chicago” foram justapostas sem espaço real entre elas devido a um erro de masterização – e por mais dos 50 anos que se seguiram, a tocávamos como um medley, uma música de “duas partes” se preferir dizer. Não era nossa intenção, mas vamos atribuir isso à proveniência divina ou apenas um erro cósmico.
“Tres Hombres” também é a casa de “La Grange”, que causou furor quando foi tocada pela primeira vez, já que as pessoas que cresceram no Texas sabiam do infame “Chicken Ranch” (nota do editor: a música é inspirada no Chicken Ranch, famoso prostíbulo próximo à pequena cidade de La Grange em funcionamento entre 1905 e 1973). Nossa música narrou aquele delicioso destino logo antes do lançamento do filme “The Best Little Whorehouse in Texas”. Meio que é uma música codificada, mas seu tópico era um segredo aberto que acabamos definindo para satisfação sonora. “La Grange” tem sido uma boa canção para nós há muito tempo e não mostra sinais de que deixará de ser. Algumas das músicas de “Tres Hombres” foram baseadas em experiências reais, então vamos parar por aqui.

IM: Ainda sobre álbuns clássicos: 2023 também marca o 40º aniversário de “Eliminator”. Vocês começaram a explorar novas influências no álbum anterior, “El Loco”, mas “Eliminator” representa um novo passo nessa direção. A consequência: tornou-se o disco de maior sucesso da banda, vendendo mais de 20 milhões de cópias em todo o mundo, tendo hits como “Gimme All Your Lovin’” e “Sharp Dressed Man”. Que lembranças você tem de escrever, gravar e lançar este álbum?

BG: Chegamos ao Ardent Studios em Memphis e começamos a experimentar algumas tecnologias que ainda não tínhamos experimentado. Tentamos manter a mente aberta e ficamos encantados com as possibilidades que os sequenciadores e sintetizadores nos apresentaram. Em vez de sermos resistentes ao progresso, nós o abraçamos. Há uma lição aí, suponho: não tenha medo do que é novo, aproveite ao máximo. E “rock on”!

“Raw”, novo álbum ao vivo do ZZ Top, está disponível em todas as plataformas digitais. Clique aqui para ouvir.

ZZ Top – “Raw”

  1. Brown Sugar
  2. Just Got Paid
  3. Heard it on the X
  4. La Grange
  5. Tush
  6. Thunderbird
  7. I’m Bad, I’m Nationwide
  8. Gimme All Your Lovin’
  9. Blue Jean Blues
  10. Certified Blues
  11. Tube Snake Boogie

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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O dia 28 de julho de 2021 pôs fim a uma das histórias mais lindas do rock e, porque não, da música em geral. O ZZ Top, banda que mantinha a mesma formação desde 1970, perdeu seu baixista, Dusty Hill, em função de um problema de saúde não especificado. Ele tinha 72 anos.

Antes mesmo de falecer, Hill demonstrou ter consciência que o show não poderia parar. Em uma demonstração de altruísmo e dedicação com a banda à qual dedicou sua vida, ele deu sua bênção para que outro músico ocupasse sua vaga. O escolhido já era da família há tempos: Elwood Francis, técnico responsável pelas guitarras e baixos do grupo nas últimas três décadas.

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O ZZ Top segue na estrada com Francis, mas as homenagens a Dusty Hill se farão presentes ao longo da jornada. Uma delas chega às prateleiras e plataformas nesta sexta-feira (22): o álbum ao vivo “Raw”, primeiro lançamento oficial da banda desde a partida de seu baixista (clique aqui para ouvir).

O material reúne a trilha sonora do documentário “That Little Ol’ Band From Texas”, lançado na Netflix em 2019 e indicado a um Grammy de Melhor Filme Musical em 2021 (o troféu acabou ficando com “The Sound of My Voice”, de Linda Ronstadt). As gravações foram ao vivo, mas sem plateia. Eram apenas Dusty Hill, Billy Gibbons (voz e guitarra) e Frank Beard (bateria) tocando juntos e de frente um para o outro no Gruene Hall, lendária casa de shows no Texas, Estados Unidos, terra natal do grupo.

Tive a honra de entrevistar Billy Gibbons para falar sobre este novo lançamento. A voz do ZZ Top detalhou como foi o trabalho em torno do álbum, exaltou os talentos de Frank Beard e do saudoso Dusty Hill, relembrou os clássicos discos “Tres Hombres” (1973) e “Eliminator” (1983) às vésperas de seus respectivos aniversários de número 50 e 40 e ofereceu um vislumbre dos próximos planos da banda. Spoiler: pode ter Brasil no meio disso aí.

Entrevista com Billy Gibbons (ZZ Top)

A crueza de “Raw”

Igor Miranda: “Raw” foi gravado para servir de um interlúdio ao documentário “That Little Ol’ Band from Texas” (2019), da Netflix. Como surgiu a ideia de gravar este disco?

Billy Gibbons: Chegamos a esta improvável gravação por invenção do diretor Sam Dunn. Sam sugeriu mostrar como era quando a banda começou a gravar nos primeiros dias: simplesmente o grupo reunido no estúdio. O documentário realmente nos remete àqueles primeiros dias. Fomos convidados a voltar ao honky tonk mais antigo do estado do Texas, o Gruene Hall. Imediatamente nos acomodamos de forma confortável e com aquele nível de intimidade favorecido pela banda, a sessão foi perfeita.

https://www.youtube.com/watch?v=JSF1ppkmSLo

IM: Este álbum realmente soa cru, assim como o título diz (nota da edição: “Raw” significa “cru” em inglês), e isso está totalmente relacionado com a forma como vocês gravaram as músicas. Li em algum lugar que vocês tocaram tudo juntos à vista um do outro e fizeram tudo durante apenas um dia. Obviamente vocês já fazem isso há muito tempo, mas quais são os principais desafios de gravar dessa forma?

BG: Nesse caso, a boa notícia é que temos nossas experiências de estúdio diretas e simplificadas. Estamos nisso há tanto tempo que meio que antecipamos os movimentos internos, deixando a rolar com o fluxo. É uma espécie de mecanismo inerente construído em cada um de nós. É como se perseguíssemos um ao outro. Na verdade, não havia ali nenhum dos equipamentos usuais para uma sessão do tipo. Chegamos para conferir o equipamento já no lugar, o que nos levou a simplesmente tocar e começar a rolar a bola. Não havia nenhuma evidência de equipamento de gravação presente, o que mais tarde foi revelado aos engenheiros, então fizemos uma jam session, momento a momento.

IM: Tem alguns clássicos atemporais na tracklist, mas também tem algumas músicas que vocês não tocam com muita frequência, como “Certified Blues” e “Thunderbird”. Como é o processo de escolha das músicas para um setlist de shows? E como surgiu a ideia de tocar essas duas faixas que mencionei antes?

BG: Fizemos tudo sem planejamento sob a filosofia predominante de: “se for bom, faça”. “Certified Blues” é uma faixa do primeiro álbum do ZZ Top, inteligentemente intitulado “ZZ Top’s First Album” – achamos que isso nos garantiria um segundo álbum. O disco foi originalmente gravado praticamente da mesma maneira que fizemos este projeto “Raw”, então “Certified Blues” o validaria. Daí, é claro, temos esta faixa de celebração ao Texas, “Thunderbird”. Não é sobre um carro: é sobre um tipo de vinho barato comprado quando você está em busca de uma boa noite. Essa música era a nossa abertura clássica de shows quando começamos a fazer turnês. É uma música que deixa o público preparado e pronto para se divertir. É a garrafa que é trazida quando você está para baixo, quebrado e com fome, mas ainda quer fazer uma festa.

Os talentos individuais

IM: Esta gravação ao vivo mostra não apenas como a banda trabalha coletivamente, mas também evidencia os talentos individuais. E devo dizer que sempre fico impressionado com Frank Beard quando ouço suas gravações ao vivo, porque ele é um baterista muito subestimado. Sabemos que tocar bateria é uma atividade muito física e alguns bateristas não envelhecem bem, mas esse não é o caso dele. O que você pode dizer sobre Frank como baterista?

BG: O que posso dizer? Frank nasceu para fazer isso. É como sua segunda natureza; ele realmente não parece nem precisar pensar no que está tocando porque é inerente ao seu ser físico. É natural e ele manteve esse poder e foco, tendo gostado de fazer isso por tanto tempo.

IM: Seu timbre de guitarra é incrível neste álbum. Qual equipamento e configuração você usou para essa gravação? E qual é o seu principal objetivo ao tentar encontrar o timbre perfeito para gravar?

BG: Dizemos que as três palavras de ordem do ZZ Top são “Tone, Taste and Tenacity” (algo como “Tom, Sabor e Solidez”, em tradução livre). Nossa “Tenacity” (“Solidez”) está garantida considerando que estamos fazendo isso há décadas. “Taste” (“Sabor”) é uma questão de opinião, mas a ideia é dar ao paladar musical – se tal coisa existisse – uma porção bem arredondada de rock baseado em blues e atrevimento. No que diz respeito ao “Tone” (“Tom”), fazemos o nosso melhor para sermos sonoramente consistentes. Pearly Gates, minha feroz guitarra Gibson Les Paul Sunburst 1959, estabeleceu o padrão para o som que é uma pedra fundamental do ZZ Top.

IM: Já que estamos falando de timbres, não podemos ignorar os sons de Dusty (e suas habilidades, é claro) durante esta gravação. Acaba nos mostrando que ele era como a “cola” que mantinha todo o som unido. Como você pode definir o saudoso Dusty como baixista?

BG: Musicalmente brilhante e um músico verdadeiramente intuitivo. Seu dedo indicador direito era um presente… um apêndice superdesenvolvido que, de certa forma, mostra como ele era completamente evoluído em termos darwinianos. Como indivíduo, ele era leal, alegre e firme – o que, pensando bem, se refletia em sua performance musical.

Elwood Francis e Brasil

IM: Desde que Dusty nos deixou, Elwood Francis, técnico de guitarras de longa data, assumiu as funções de baixo para as turnês do ZZ Top. Sabemos que quando Dusty adoeceu, ele mesmo indicou que sabia que Elwood seria a pessoa certa para ajudar vocês a seguir em frente. Mas o que você pode dizer sobre Elwood como baixista?

BG: Elwood, que está em nossa organização há mais de três décadas, observou atentamente de que forma fazemos o que fazemos. No que diz respeito a estar atualizado sobre isso, Elwood estava à nossa disposição quando foi chamado para manter a base do Top. Ele tem um dom que foi reconhecido por Dusty e agora o público também.

IM: O ZZ Top só veio uma vez ao Brasil para shows, em 2010. Vocês fizeram três apresentações: duas em São Paulo e uma em Porto Alegre. Quais lembranças você guarda desses shows e do nosso país? Há planos de voltar ao Brasil com a nova turnê?

BG: Certamente temos o objetivo de voltar o quanto antes! O que mais nos impressionou foi o entusiasmo desenfreado que sentimos do público brasileiro. Isso nos energizou de uma maneira potente e poderosa, foi realmente emocionante.

 “Tres Hombres” e “Eliminator”

IM: 2023 marca o 50º aniversário de “Tres Hombres”, o álbum que fez o ZZ Top ficar famoso e um dos mais amados da carreira da banda. Quais lembranças você tem de compor, gravar e lançar este álbum?

BG: “Tres Hombres”… sim, as coisas realmente deram certo para nós com este aí. As duas primeiras faixas, “Waiting for the Bus” e “Jesus Just Left Chicago” foram justapostas sem espaço real entre elas devido a um erro de masterização – e por mais dos 50 anos que se seguiram, a tocávamos como um medley, uma música de “duas partes” se preferir dizer. Não era nossa intenção, mas vamos atribuir isso à proveniência divina ou apenas um erro cósmico.
“Tres Hombres” também é a casa de “La Grange”, que causou furor quando foi tocada pela primeira vez, já que as pessoas que cresceram no Texas sabiam do infame “Chicken Ranch” (nota do editor: a música é inspirada no Chicken Ranch, famoso prostíbulo próximo à pequena cidade de La Grange em funcionamento entre 1905 e 1973). Nossa música narrou aquele delicioso destino logo antes do lançamento do filme “The Best Little Whorehouse in Texas”. Meio que é uma música codificada, mas seu tópico era um segredo aberto que acabamos definindo para satisfação sonora. “La Grange” tem sido uma boa canção para nós há muito tempo e não mostra sinais de que deixará de ser. Algumas das músicas de “Tres Hombres” foram baseadas em experiências reais, então vamos parar por aqui.

IM: Ainda sobre álbuns clássicos: 2023 também marca o 40º aniversário de “Eliminator”. Vocês começaram a explorar novas influências no álbum anterior, “El Loco”, mas “Eliminator” representa um novo passo nessa direção. A consequência: tornou-se o disco de maior sucesso da banda, vendendo mais de 20 milhões de cópias em todo o mundo, tendo hits como “Gimme All Your Lovin’” e “Sharp Dressed Man”. Que lembranças você tem de escrever, gravar e lançar este álbum?

BG: Chegamos ao Ardent Studios em Memphis e começamos a experimentar algumas tecnologias que ainda não tínhamos experimentado. Tentamos manter a mente aberta e ficamos encantados com as possibilidades que os sequenciadores e sintetizadores nos apresentaram. Em vez de sermos resistentes ao progresso, nós o abraçamos. Há uma lição aí, suponho: não tenha medo do que é novo, aproveite ao máximo. E “rock on”!

“Raw”, novo álbum ao vivo do ZZ Top, está disponível em todas as plataformas digitais. Clique aqui para ouvir.

ZZ Top – “Raw”

  1. Brown Sugar
  2. Just Got Paid
  3. Heard it on the X
  4. La Grange
  5. Tush
  6. Thunderbird
  7. I’m Bad, I’m Nationwide
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  9. Blue Jean Blues
  10. Certified Blues
  11. Tube Snake Boogie

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