Entrevista: Yngwie Malmsteen mostra que segue afiado na guitarra e nas palavras

Em bate-papo conduzido em 2021, músico falou sobre seu novo álbum “Parabellum”, detonou quem o critica por manter seu estilo no instrumento e admitiu não ouvir música no tempo livre

Yngwie Malmsteen parece continuar com a mesma paixão em fazer música – e a mesma língua afiada – que o credenciou, ainda na década de 1980, como um revolucionário da guitarra. Pela gravadora Mascot Label Group, o músico lançou ano passado seu 22º álbum solo, “Parabellum”, onde volta a desfilar sua técnica inimitável e a focar mais em peças instrumentais, já que há vocais (dele próprio) em apenas quatro das 10 faixas do disco.

Em 2021, tive a oportunidade de bater um papo para a Guitarload com Malmsteen, um personagem que, como sua própria música, é único. Em meio a respostas que só ele poderia dar, o guitarrista falou sobre produzir um novo disco em meio à pandemia, rasgou elogios ao Brasil e garantiu que nunca irá mudar – a essa altura do campeonato, por que deveria?

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Confira o bate-papo a seguir – e considere que ele ocorreu em 2021, portanto, alguns trechos podem estar desatualizados.

Entrevista com Yngwie Malmsteen

Igor Miranda: É impossível ignorar a situação atual, então é preciso perguntar: como que se sente lançando um álbum durante a pandemia?

Yngwie Malmsteen: “Bem, não há muita diferença para mim. O processo de composição foi como sempre. Saía pra dirigir na minha Ferrari, jogava um pouco de tênis, ia para o estúdio de gravação e esperava a mágica acontecer. A grande diferença, obviamente, foi que não pude fazer turnê, algo que normalmente faço muito. Essa foi a única diferença. Eu também tive mais tempo para trabalhar no disco, sabe? Tive um ano em vez de dois meses.”

Como que o público reagiu às músicas novas? Além dos elogios… que reações você tem visto dos fãs com relação às canções?

“Pelo que vi tem sido ótima, o que me deixa muito feliz. Fico muito feliz que pessoas gostem. Não sou alguém que muda o que faz. Se você tenta agradar a todo mundo, acaba agradando ninguém. Estou tentando criar coisas que estão entre as melhores coisas que sou capaz de fazer ­– e se as pessoas curtirem, é maravilhoso.”

Você mencionou antes que você não pôde cair na estrada – obviamente por causa da pandemia –, então deu para passar mais tempo no estúdio, tanto para compor quanto para gravar. O quanto você acha que o disco se beneficiou disso? Poderia nos dar um exemplo?

“O negócio é que você tem mais tempo, mas é preciso usá-lo com sabedoria para não acabar com a inspiração. Por exemplo, não dá pra entrar no estúdio e ficar regravando coisas várias vezes. Não vai melhorar. Então o que eu fiz foi aproveitar o luxo de poder pegar as canções e viver com elas, botar elas pra tocar no carro, pensar onde cada parte vai melhor, onde colocar solos. Eu tirei tempo para analisar tendo o cuidado para não me perder nessa análise.”

Tem algo que gosto muito em seus discos mais recentes e dá pra escutar claramente em “Parabellum”: É o jeito como você toca guitarra base. Pessoas falam dos seus solos o tempo inteiro, com razão, mas dá pra ver que você tem um cuidado especial e crescente com a guitarra base. O que pode nos dizer sobre isso?

“Isso é engraçado (risos), porque nunca ouvi essa antes. Eu não penso muito sobre isso. Toco toda parte que precisa estar na música. Isso inclui baixo, teclados, bateria, vocais. Arranjei e compus tudo. Não quero ficar só em uma parte. Penso como um pintor, porque ele pinta o quadro inteiro, sabe? Mas obrigado mesmo assim.”

Bem, estamos fazendo essa entrevista para uma revista de guitarra, então preciso te perguntar sobre o equipamento usado na gravação desse disco. Guitarras, amplificadores, efeitos…

“Eu usei a Fender Stratocaster Signature Yngwie Malmsteen, que tenho mais de uma. Usei amplificadores Marshall YGM 100 Yngwie Malmsteen, que também tenho vários. Usei o pedal Fender Yngwie Malmsteen Overdrive, além de cordas Yngwie Malmsteen e palhetas Yngwie Malmsteen. Usei também violões Ovation Yngwie Malmsteen. Além de tudo da Moog, até os microfones vocais. Todas essas grandes empresas me dão equipamentos, então acabo usando.”

Você ainda é incansável no shredding, tendo feito isso já por décadas, mas os anos passam e muitos guitarristas dizem que se torna mais difícil tocar rápido ao com o passar dos anos. Você já teve alguma dificuldade física ao longo dos anos? E como você mantém sua técnica?

“Pra falar a verdade, há muito tempo, quando eu tinha uns 20 anos, tive tendinite na minha mão esquerda, o que foi horrível. Começou a passar depois que Ritchie Blackmore me falou para comer bananas e beber Gatorade. Fora isso, tive bastante sorte – graças a Deus e bata na madeira!”

Já tem uns dez anos que você começou a gravar vocais para seus álbuns. Quais são as principais lições que você aprendeu ao longo dos anos gravando vocais em estúdio?

“Na realidade já faz uns 40, 45 anos, porque eu era cantor antes de ir para a América. E comecei a colocar vocais em canções em 1996, de quando acredito ser a primeira música na qual coloquei vocais. Então são uns 25 anos.

É uma história curiosa. Eu era um músico na pindaíba na Suécia e mandei uma fita cassete para uma revista de música porque pensei que não custava nada tentar. Essa fita acabou sendo minha passagem para a América. E nessa fita era eu na guitarra, baixo, teclado, bateria e vocais. Então, não é novidade. Acredito estar melhorando comparado a antes, mas não é novidade.”

Gostaria de te perguntar sobre alguns comentários online – tem dois lados, e primeiro gostaria de te perguntar sobre um deles. Muitas pessoas na internet falam que você sempre lança discos com o mesmo som, o mesmo estilo. Entendo por que falam isso, mas também compreendo que você tem um estilo único, e seria um desperdício não o utilizar, porque é como você mudou a história da guitarra. Qual sua opinião sobre isso – sobre supostamente não mudar seu estilo?

“Olha, nem sei por onde começar. Primeiramente, não dou a mínima para o que pessoas falam na internet. Acho que a internet é um esgoto e estou c#g#ndo e andando para ela. Segundo, qualquer um que faz um comentário desses merece ter sua capacidade mental examinada, porque as maiores bandas, os maiores artistas da história do mundo sempre fazem a mesma coisa. Quantos discos do AC/DC que você já ouviu soam iguais? Quantos discos do Iron Maiden que você ouviu soam iguais? Quantos solos do Eric Clapton você ouviu que tem as mesmas notas? Poderia sentar aqui e te dar um milhão de exemplos.

Você cria um estilo único de tocar e usa esse estilo único porque depois de anos trabalhando duro. Você se encontrou no seu som, você encontrou o que te impulsiona, o que tem vem naturalmente. E pessoas falam que você deveria mudar? Acho que essas pessoas precisam aprender a pensar antes de abrir a boca, porque isso é a maior idiotice possível. Essa é a minha opinião. Não estão me insultando, estão insultando a inteligência da humanidade. Parecem imbecis. Você pode criticar alguém por muitas coisas, mas se criam algo que é seu estilo particular, que não é uma cópia, não segue uma tendência, é o estilo único deles…”

Por outro lado, tem o lado legal da internet, não necessariamente relacionado a música. Vejo mais e mais pessoas online falando “Não sabia que o Yngwie era tão legal”. E é por causa de seus videos no Youtube e Instagram. Você está mais conectado com pessoas hoje em dia. O que você acha dessa mudança de opinião das pessoas? E como que foi para você estar mais presente online?

“Bem, é um monte de coisas. Sempre fui bem fechado no meu jeito de fazer as coisas, encontrei meu jeito de fazer o que faço há muito tempo. Nunca me interessei em tendências, em moda, o que estava por dentro ou por fora. Demorou um pouco para me tocar, mas especialmente durante a pandemia, foi um jeito legal de me comunicar com meus fãs. O que normalmente faço é sair em turnê, fazer meet and greets e guitar clinics, onde me comunico. Isso é algo que gosto de fazer e a internet é uma maneira de fazer isso numa escala maior.”

Você até fez um livestream recentemente, então gostaria de saber como foi fazer esse tipo de performance?

“O negócio em Las Vegas? Aquilo foi muito estranho (risos). Não teve muita diferença porque fazia muito tempo que eu não tocava e por isso estava animado. Eu tiro muita energia do público, mas só tinham umas 60 pessoas presentes no local. Eu não me arrependo de ter feito, mas não é algo que faria de novo, provavelmente. Foi interessante, contudo.”

Voltando um pouco no tempo, gostaria de te perguntar sobre “Trilogy” (1986), seu terceiro álbum, porque ele está celebrando 35 anos de lançamento. Tem canções como “You Don’t Remember, I’ll Never Forget” e “Liar”, tem Mark Boals nos vocais… como você se sente a respeito desse disco hoje em dia? E que memórias você tem daquela época?

“É um bom disco! Acho que as pessoas precisam entender uma coisa. Desde 1984, eu lanço discos solo. Escrevo tudo, arranjo tudo, produzo tudo. Então é completamente irrelevante quem está no disco. Não importa. Essas pessoas não contribuem em nada ao produto final. Acho que é muito importante todo mundo entender que, quando comecei, eu cantava, tocava e fazia tudo eu mesmo – até ir para a América, onde precisei mudar isso. Quanto ao álbum, acho muito bom. Eu gosto dele. Era uma época diferente, muito diferente.”

Você certamente tem uma relação especial com o Brasil, tendo feito muitas turnês aqui e até gravado um álbum ao vivo aqui. Que memórias você tem dessas turnês, do Brasil?

“O Brasil é ótimo, sempre gostei de tocar aí. A primeira vez que toque no Brasil, não dava pra acreditar. Eu até falei pro meu pessoal que, na próxima turnê, era pra gente gravar um disco ao vivo, porque o público era o melhor. Sempre me diverti muito.”

Você gosta de tantos estilos musicais, então preciso te perguntar: você escuta música brasileira? Temos bossa nova, bandas de metal como Sepultura e Angra… você já ouviu nossa música?

“Eu não passo muito tempo escutando música porque, quando estou trabalhando em música, é um processo super intenso. Então, quando não estou trabalhando, gosto de ver filmes, ler livros, dirigir minha Ferrari, jogar tênis, coisas assim. Não sou arrogante, é só uma questão de que música não me relaxa. Sou muito intenso quando o assunto é música, então, quando escuto música acabo analisando a fundo demais. Não consigo sequer ter música de fundo. Se tem uma mudança de tom estranha, um acorde ruim… coisas assim. Não é só com música brasileira. Eu simplesmente não escuto nada.”

https://www.youtube.com/watch?v=StJ2XCaw2jk

Você tem algum plano de voltar ao Brasil com esse álbum novo?

“Mas é claro! Na primeira oportunidade. Não consigo mudar o que os governos mundiais estão fazendo, mas fui para a Sérvia, depois toquei na Flórida e no Texas. Em novembro (de 2021), começo uma turnê americana enorme. Mas eu falei para meu agente que eu quero ir à América do Sul, quero ir pra todos os lugares. Eles falam que não dá, não tem como marcar shows. Então, tomara que possamos logo. Mal posso esperar.”

E você tem mais algum plano além desse álbum? Um disco ao vivo ou coisa parecida, talvez?

“Eu passei tanto tempo nesse disco agora que nem estou pensando nesses termos. Eu só quero sair em turnê e tocar esse material ao vivo, e a partir daí a gente vê o que acontece.”

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Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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