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Como o Kiss voltou ao rock clássico com “Revenge”

Após perda trágica, veterana banda saudou a nova década com mudanças na formação, na abordagem e no visual

“Quando você para de desperdiçar tempo em coisas que não valem a pena, não é de surpreender que, de repente, você comece a criar músicas que valem a pena”, disse Paul Stanley aos autores de “Kiss: Por Trás da Máscara”, David Leaf e Ken Sharp, quando perguntado sobre “Revenge”.

Só ele poderia confirmar se tal declaração foi motivada pela tentativa de Gene Simmons de se estabelecer como ator de Hollywood nos anos 1980 que acabou tirando o Kiss do topo da lista de prioridades do baixista naquela década. Porém, tudo leva a crer que sim.

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De toda forma, “Revenge” não é especial apenas por trazer Simmons de volta em tempo integral; o décimo sexto álbum de estúdio do Kiss promoveu, em muitas frentes, resgates que contribuíram para um resultado final tão satisfatório; ou, como Stanley o descreve em sua autobiografia “Uma Vida Sem Máscaras”: “um álbum respeitável no qual voltáramos a fazer o que fazíamos de melhor”.

Mais The Who, menos hairbands

Depois de uma série de álbuns visual e musicalmente influenciados pelo glam, o Kiss, que havia começado como uma banda de rock clássico como The Who ou Humble Pie, decidiu voltar às origens. Comparado a seus antecessores diretos, “Revenge” soa menos pasteurizado e rendido aos clichês cuja utilização excessiva acabou por decretar o fim da era metal.

Para Paul Stanley, conforme depoimento reproduzido em “Kiss: Por Trás da Máscara”:

“Talvez o que tenha acontecido com o ‘Revenge’ é que não negamos o que somos. Nós o acolhemos, mas ao mesmo tempo quisemos ter certeza de não estar repetindo nada.”

O guitarrista Bruce Kulick concorda:

“O ‘Hot in the Shade’ (1989) foi uma concessão de demos entre Gene e Paul, que não é a maneira de se fazer um ótimo disco, e o ‘Crazy Nights’ (1987) foi uma viagem total do Ron [Nevison, produtor]; com o ‘Revenge’ todos os elementos combinaram para criar mágica! É por isso que sempre fico entusiasmado quando falo do ‘Revenge’.”

Entre os supracitados elementos, um que chegou para tumultuar a situação.

A morte de Eric Carr

Em 1991, às vésperas do início das gravações de “Revenge”, o Kiss foi pego de surpresa com a notícia de que o baterista Eric Carr estava com câncer.

Na autobiografia “Uma Vida Sem Máscaras”, Paul Stanley conta:

“Dissemos ao Eric que gravaríamos o álbum sem ele. Garantimos que pagaríamos todas as suas contas e as prestações de seu seguro. Reiterei que, no grande esquema das coisas, a banda tinha pouca importância. Ele precisava focar em melhorar, sem assumir outros compromissos.”

Quando Stanley sugeriu Eric Singer, que havia tocado em sua banda solo e participado de demos do álbum “Hot in the Shade”, para a vaga, todos ainda acreditavam que Carr daria a volta por cima e que a estada do músico, com passagens por Badlands e Black Sabbath, seria apenas temporária.

Não era para ser: Eric Carr morreu no dia 24 de novembro de 1991, mesmo dia em que o mundo do rock também se despediu de Freddie Mercury, do Queen.

Em sua autobiografia, Gene Simmons recorda:

“Ficamos arrasados, e voamos até Nova York para o funeral. Os fãs estavam nas ruas, do lado de fora da igreja, e todos estavam chorando. Os fãs amavam Eric Carr, e não eram os únicos. Foi terrível para todos.”

Um velho conhecido

A primeira coisa que Eric Singer fez no estúdio com o Kiss foi uma versão de “God Gave Rock ‘N’ Roll to You II”, do Argent, para a trilha sonora do filme “Bill & Ted: Dois Loucos no Tempo”. Embora tenha sido um teste para o recém-chegado baterista, a gravação foi ainda mais para ver se havia química com o produtor Bob Ezrin, peça-chave no sucesso de “Destroyer” (1976) e no fiasco de “Music from ‘The Elder’” (1981).

Gene Simmons comenta a decisão:

“No começo de 1991, decidimos tentar chamar Bob novamente para produzir. Ainda achávamos que ‘Destroyer’ era um dos nossos melhores discos. Havia incerteza quanto à capacidade dele — especialmente após a experiência ruim que tivemos no ‘The Elder’ —, mas estávamos dispostos a dar uma chance.”

Paul Stanley acrescenta:

“Bob fez um disco que é, sem dúvida, o melhor que fizemos, mas também fez o pior. Ele fez dois álbuns que são muito importantes para nós, um que nos ajudou a subir ao topo e um que nos ajudou a rastejar até o chão. Quando a gente conversou sobre a possibilidade de trabalhar com Bob, era importante descobrir quem era o Bob de agora. Assim, nós nos encontramos com Bob e a reunião inicial foi muito boa. Foi bom que o Bob concordou com muita coisa, portanto foi só questão de descobrir que ajustes seriam necessários para fazer um ótimo álbum.”

Ezrin compara a retomada da parceria a uma “reunião de família”:

“A partir do minuto em que iniciamos o projeto do ‘Revenge’ foi quase como voltar no tempo. Retornamos aos nossos antigos papéis, começamos a contar as velhas piadas novamente, voltamos com as provocações da mesma maneira e revivemos muitos dos momentos que compartilhávamos em Nova York [na época da gravação do ‘Destroyer’]. Nós estávamos de volta, os três saudáveis e bem dirigidos e funcionou.”

Bruce Kulick, que nunca havia trabalhado com Ezrin, sentiu o chicote do produtor estalando, mas viu valor nisso:

“Antes do ‘Revenge’, nós passamos por aqueles álbuns pop para jovens. De repente, Bob Ezrin estava conosco e de repente os riffs foram ficando mais pesados. Esse álbum é muito sincero, não havia concessão. Ezrin acabava com você, independentemente de quem você era. Cada álbum do Kiss deveria ter a mesma abordagem do ‘Revenge’. Foi um disco muito difícil para todos. Mas a verdade é que todos barbarizaram e o resultado foi um ótimo disco.”

Outro velho conhecido

Uma noite, quando saiu para ver um show do nipônico E-Z-O, o qual havia produzido, Gene Simmons deu de cara com Vinnie Vincent, que fez parte do Kiss de 1982 a meados de 1984.

Após sua saída, o guitarrista tirou um ano sabático no qual viajou o mundo. Depois, formou o Vinnie Vincent Invasion e lançou dois álbuns de estúdio que não tiveram muito sucesso. A banda se separou em 1989.

Simmons conta que:

“Vinnie pediu desculpas por causar tanto sofrimento à banda enquanto era um integrante. Queria remediar a situação, e perguntou se eu consideraria compor algumas músicas com ele. ‘Claro’, eu disse. Queria deixar o passado no passado. Liguei para o Paul [Stanley] e disse que Vinnie aparentemente tinha mudado.”

Na lembrança de Vincent, porém, o convite partiu do baixista:

“Eu me encontrei por acaso com Gene e Paul nos estúdios A&M e começamos a conversar. Foi bom vê-los novamente. Fazia muito tempo que não os via. Logo depois, recebi um telefonema do Gene perguntando se eu gostaria de compor para o disco ‘Revenge’. Achei uma ótima ideia.”

Da parceria Simmons/Vincent surgiu “Unholy”. Em “Kiss: Por Trás da Máscara”, Gene revela:

“A ideia de ‘Unholy’ veio de uma música que Adam Mitchell compôs e que Doro Pesch gravou, chamada ‘Unholy Love’. Adorei a palavra ‘Unholy’. Criei a maior parte de ‘Unholy’, inclusive o nome. Terminei a demo original e criei o refrão. Vinnie acrescentou um pouco da letra. Ele virou a música do avesso. Vinnie e eu escrevemos a letra juntos.”

Com Stanley, Vincent compôs “Heart of Chrome” (também coassinada por Bob Ezrin) e “I Just Wanna”, mas fazendo jus ao ditado “Velhos hábitos custam a morrer”, foi logo colocando as asinhas de fora. Simmons explica:

“Antes do lançamento do disco, ele já estava aprontando de novo. Renegou um contrato que tinha assinado conosco e decidiu que queria renegociar. Nos processou e perdeu. A partir daquele ponto, o considerei persona non grata para sempre.”

Classe não traduzida em números

“Revenge” saiu em 19 de maio de 1992 e obteve disco de ouro nos Estados Unidos, mas não decolou a ponto de ganhar platina. Para Larry Mazer, que empresariava o Kiss na época, faltou apoio da gravadora. Ele conta que:

“As despesas para promover um disco são tão altas que a Mercury [gravadora] internamente decidiu que ‘não gastaria mais dinheiro, achando que o álbum já deu o que tinha que dar’. Achei uma vergonha total. Ficamos todos p#tos da vida, e isso iniciou um problema no relacionamento da banda com a Mercury.”

Para Eric Singer, o maior problema de “Revenge” talvez tenha sido o timing:

“Acho o ‘Revenge’ um disco bem-produzido, bem escrito e bem executado. Se tivesse saído alguns anos antes, teria feito muito sucesso. Foi uma das poucas vezes em que os críticos e os fãs, ao mesmo tempo, gostaram e acolheram um discos do Kiss.”

Tanto a capa, que traz a lateral de um navio com buracos de bala, quanto as fotos promocionais — a indumentária jeans, couro e tons monocromáticos no lugar das rendas, lycras e dos pantones fluorescentes — dialogam com o som que explode dos alto-falantes. As caras de mau idem.

Motivos, como lido, não faltaram para isso.

Kiss – “Revenge”

  • Lançado em 19 de maio de 1992 pela Mercury Records; produzido por Bob Ezrin.

Faixas:

  1. Unholy
  2. Take It Off
  3. Tough Love
  4. Spit
  5. God Gave Rock ‘n’ Roll to You II
  6. Domino
  7. Heart of Chrome
  8. Thou Shalt Not
  9. Every Time I Look at You
  10. Paralyzed
  11. I Just Wanna
  12. Carr Jam 1981

Músicos:

  • Paul Stanley (vocal, guitarra rítmica)
  • Gene Simmons (vocal, baixo)
  • Bruce Kulick (guitarra solo; todas as guitarras nas faixas 1, 6 e 12; baixo nas faixas 3, 9 e 12; backing vocals)
  • Eric Singer (bateria, percussão, backing vocals)
  • Eric Carr (bateria na faixa 12; backing vocals na faixa 5)

Músicos adicionais:

  • Vinnie Vincent (introdução de guitarra na faixa 1)
  • Kevin Valentine (bateria na faixa 2)
  • Dick Wagner (solo de guitarra na faixa 9)
  • Tommy Thayer, Jesse Damon, Jaime St. James (backing vocals)

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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

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Após perda trágica, veterana banda saudou a nova década com mudanças na formação, na abordagem e no visual

“Quando você para de desperdiçar tempo em coisas que não valem a pena, não é de surpreender que, de repente, você comece a criar músicas que valem a pena”, disse Paul Stanley aos autores de “Kiss: Por Trás da Máscara”, David Leaf e Ken Sharp, quando perguntado sobre “Revenge”.

Só ele poderia confirmar se tal declaração foi motivada pela tentativa de Gene Simmons de se estabelecer como ator de Hollywood nos anos 1980 que acabou tirando o Kiss do topo da lista de prioridades do baixista naquela década. Porém, tudo leva a crer que sim.

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De toda forma, “Revenge” não é especial apenas por trazer Simmons de volta em tempo integral; o décimo sexto álbum de estúdio do Kiss promoveu, em muitas frentes, resgates que contribuíram para um resultado final tão satisfatório; ou, como Stanley o descreve em sua autobiografia “Uma Vida Sem Máscaras”: “um álbum respeitável no qual voltáramos a fazer o que fazíamos de melhor”.

Mais The Who, menos hairbands

Depois de uma série de álbuns visual e musicalmente influenciados pelo glam, o Kiss, que havia começado como uma banda de rock clássico como The Who ou Humble Pie, decidiu voltar às origens. Comparado a seus antecessores diretos, “Revenge” soa menos pasteurizado e rendido aos clichês cuja utilização excessiva acabou por decretar o fim da era metal.

Para Paul Stanley, conforme depoimento reproduzido em “Kiss: Por Trás da Máscara”:

“Talvez o que tenha acontecido com o ‘Revenge’ é que não negamos o que somos. Nós o acolhemos, mas ao mesmo tempo quisemos ter certeza de não estar repetindo nada.”

O guitarrista Bruce Kulick concorda:

“O ‘Hot in the Shade’ (1989) foi uma concessão de demos entre Gene e Paul, que não é a maneira de se fazer um ótimo disco, e o ‘Crazy Nights’ (1987) foi uma viagem total do Ron [Nevison, produtor]; com o ‘Revenge’ todos os elementos combinaram para criar mágica! É por isso que sempre fico entusiasmado quando falo do ‘Revenge’.”

Entre os supracitados elementos, um que chegou para tumultuar a situação.

A morte de Eric Carr

Em 1991, às vésperas do início das gravações de “Revenge”, o Kiss foi pego de surpresa com a notícia de que o baterista Eric Carr estava com câncer.

Na autobiografia “Uma Vida Sem Máscaras”, Paul Stanley conta:

“Dissemos ao Eric que gravaríamos o álbum sem ele. Garantimos que pagaríamos todas as suas contas e as prestações de seu seguro. Reiterei que, no grande esquema das coisas, a banda tinha pouca importância. Ele precisava focar em melhorar, sem assumir outros compromissos.”

Quando Stanley sugeriu Eric Singer, que havia tocado em sua banda solo e participado de demos do álbum “Hot in the Shade”, para a vaga, todos ainda acreditavam que Carr daria a volta por cima e que a estada do músico, com passagens por Badlands e Black Sabbath, seria apenas temporária.

Não era para ser: Eric Carr morreu no dia 24 de novembro de 1991, mesmo dia em que o mundo do rock também se despediu de Freddie Mercury, do Queen.

Em sua autobiografia, Gene Simmons recorda:

“Ficamos arrasados, e voamos até Nova York para o funeral. Os fãs estavam nas ruas, do lado de fora da igreja, e todos estavam chorando. Os fãs amavam Eric Carr, e não eram os únicos. Foi terrível para todos.”

Um velho conhecido

A primeira coisa que Eric Singer fez no estúdio com o Kiss foi uma versão de “God Gave Rock ‘N’ Roll to You II”, do Argent, para a trilha sonora do filme “Bill & Ted: Dois Loucos no Tempo”. Embora tenha sido um teste para o recém-chegado baterista, a gravação foi ainda mais para ver se havia química com o produtor Bob Ezrin, peça-chave no sucesso de “Destroyer” (1976) e no fiasco de “Music from ‘The Elder’” (1981).

Gene Simmons comenta a decisão:

“No começo de 1991, decidimos tentar chamar Bob novamente para produzir. Ainda achávamos que ‘Destroyer’ era um dos nossos melhores discos. Havia incerteza quanto à capacidade dele — especialmente após a experiência ruim que tivemos no ‘The Elder’ —, mas estávamos dispostos a dar uma chance.”

Paul Stanley acrescenta:

“Bob fez um disco que é, sem dúvida, o melhor que fizemos, mas também fez o pior. Ele fez dois álbuns que são muito importantes para nós, um que nos ajudou a subir ao topo e um que nos ajudou a rastejar até o chão. Quando a gente conversou sobre a possibilidade de trabalhar com Bob, era importante descobrir quem era o Bob de agora. Assim, nós nos encontramos com Bob e a reunião inicial foi muito boa. Foi bom que o Bob concordou com muita coisa, portanto foi só questão de descobrir que ajustes seriam necessários para fazer um ótimo álbum.”

Ezrin compara a retomada da parceria a uma “reunião de família”:

“A partir do minuto em que iniciamos o projeto do ‘Revenge’ foi quase como voltar no tempo. Retornamos aos nossos antigos papéis, começamos a contar as velhas piadas novamente, voltamos com as provocações da mesma maneira e revivemos muitos dos momentos que compartilhávamos em Nova York [na época da gravação do ‘Destroyer’]. Nós estávamos de volta, os três saudáveis e bem dirigidos e funcionou.”

Bruce Kulick, que nunca havia trabalhado com Ezrin, sentiu o chicote do produtor estalando, mas viu valor nisso:

“Antes do ‘Revenge’, nós passamos por aqueles álbuns pop para jovens. De repente, Bob Ezrin estava conosco e de repente os riffs foram ficando mais pesados. Esse álbum é muito sincero, não havia concessão. Ezrin acabava com você, independentemente de quem você era. Cada álbum do Kiss deveria ter a mesma abordagem do ‘Revenge’. Foi um disco muito difícil para todos. Mas a verdade é que todos barbarizaram e o resultado foi um ótimo disco.”

Outro velho conhecido

Uma noite, quando saiu para ver um show do nipônico E-Z-O, o qual havia produzido, Gene Simmons deu de cara com Vinnie Vincent, que fez parte do Kiss de 1982 a meados de 1984.

Após sua saída, o guitarrista tirou um ano sabático no qual viajou o mundo. Depois, formou o Vinnie Vincent Invasion e lançou dois álbuns de estúdio que não tiveram muito sucesso. A banda se separou em 1989.

Simmons conta que:

“Vinnie pediu desculpas por causar tanto sofrimento à banda enquanto era um integrante. Queria remediar a situação, e perguntou se eu consideraria compor algumas músicas com ele. ‘Claro’, eu disse. Queria deixar o passado no passado. Liguei para o Paul [Stanley] e disse que Vinnie aparentemente tinha mudado.”

Na lembrança de Vincent, porém, o convite partiu do baixista:

“Eu me encontrei por acaso com Gene e Paul nos estúdios A&M e começamos a conversar. Foi bom vê-los novamente. Fazia muito tempo que não os via. Logo depois, recebi um telefonema do Gene perguntando se eu gostaria de compor para o disco ‘Revenge’. Achei uma ótima ideia.”

Da parceria Simmons/Vincent surgiu “Unholy”. Em “Kiss: Por Trás da Máscara”, Gene revela:

“A ideia de ‘Unholy’ veio de uma música que Adam Mitchell compôs e que Doro Pesch gravou, chamada ‘Unholy Love’. Adorei a palavra ‘Unholy’. Criei a maior parte de ‘Unholy’, inclusive o nome. Terminei a demo original e criei o refrão. Vinnie acrescentou um pouco da letra. Ele virou a música do avesso. Vinnie e eu escrevemos a letra juntos.”

Com Stanley, Vincent compôs “Heart of Chrome” (também coassinada por Bob Ezrin) e “I Just Wanna”, mas fazendo jus ao ditado “Velhos hábitos custam a morrer”, foi logo colocando as asinhas de fora. Simmons explica:

“Antes do lançamento do disco, ele já estava aprontando de novo. Renegou um contrato que tinha assinado conosco e decidiu que queria renegociar. Nos processou e perdeu. A partir daquele ponto, o considerei persona non grata para sempre.”

Classe não traduzida em números

“Revenge” saiu em 19 de maio de 1992 e obteve disco de ouro nos Estados Unidos, mas não decolou a ponto de ganhar platina. Para Larry Mazer, que empresariava o Kiss na época, faltou apoio da gravadora. Ele conta que:

“As despesas para promover um disco são tão altas que a Mercury [gravadora] internamente decidiu que ‘não gastaria mais dinheiro, achando que o álbum já deu o que tinha que dar’. Achei uma vergonha total. Ficamos todos p#tos da vida, e isso iniciou um problema no relacionamento da banda com a Mercury.”

Para Eric Singer, o maior problema de “Revenge” talvez tenha sido o timing:

“Acho o ‘Revenge’ um disco bem-produzido, bem escrito e bem executado. Se tivesse saído alguns anos antes, teria feito muito sucesso. Foi uma das poucas vezes em que os críticos e os fãs, ao mesmo tempo, gostaram e acolheram um discos do Kiss.”

Tanto a capa, que traz a lateral de um navio com buracos de bala, quanto as fotos promocionais — a indumentária jeans, couro e tons monocromáticos no lugar das rendas, lycras e dos pantones fluorescentes — dialogam com o som que explode dos alto-falantes. As caras de mau idem.

Motivos, como lido, não faltaram para isso.

Kiss – “Revenge”

  • Lançado em 19 de maio de 1992 pela Mercury Records; produzido por Bob Ezrin.

Faixas:

  1. Unholy
  2. Take It Off
  3. Tough Love
  4. Spit
  5. God Gave Rock ‘n’ Roll to You II
  6. Domino
  7. Heart of Chrome
  8. Thou Shalt Not
  9. Every Time I Look at You
  10. Paralyzed
  11. I Just Wanna
  12. Carr Jam 1981

Músicos:

  • Paul Stanley (vocal, guitarra rítmica)
  • Gene Simmons (vocal, baixo)
  • Bruce Kulick (guitarra solo; todas as guitarras nas faixas 1, 6 e 12; baixo nas faixas 3, 9 e 12; backing vocals)
  • Eric Singer (bateria, percussão, backing vocals)
  • Eric Carr (bateria na faixa 12; backing vocals na faixa 5)

Músicos adicionais:

  • Vinnie Vincent (introdução de guitarra na faixa 1)
  • Kevin Valentine (bateria na faixa 2)
  • Dick Wagner (solo de guitarra na faixa 9)
  • Tommy Thayer, Jesse Damon, Jaime St. James (backing vocals)

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InícioCuriosidadesComo o Kiss voltou ao rock clássico com “Revenge”
Marcelo Vieira
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Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

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