Na noite de 29 de maio de 1997, Jeff Buckley estava às margens de um canal do rio Wolf, afluente que encontrava o rio Mississippi em Memphis. Ele e Keith Foti, seu roadie, estavam dirigindo pela cidade tentando encontrar um estúdio quando desistiu e resolveu relaxar.
Buckley havia se mudado para a cidade em fevereiro daquele ano. Ele esperava naquele mesmo dia a chegada de sua banda para mais uma rodada de gravações de seu segundo disco.
O músico entrou na água de roupa, cantarolando “Whole Lotta Love”, clássico do Led Zeppelin. Aqueles familiarizados com a obra do cantor conseguem imaginar o quão bem ele deve ter cantado a canção.
Foti se distraiu em dado momento ao tentar tirar um violão e um rádio do alcance das ondas causadas por um reboque passando pelo rio. Nisso, perdeu Buckley de vista. O rastro do reboque criou uma pequena correnteza que o levou para o fundo do rio.
Apesar de buscas feitas pela polícia e equipes de salvamento, o corpo do artista só seria encontrado dia 4 de junho por passageiros do barco a vapor American Queen, flutuando preso em alguns galhos. Ele tinha 30 anos.
Talento genético
Jeff Buckley cresceu atendendo pelo nome de Scottie Moorhead. Apesar de ter sido fruto do breve casamento entre Mary Guibert e o cantor e compositor Tim Buckley, ele só se encontrou com o pai uma vez, aos 8 anos. Foi criado pela mãe e o padrasto, Ron Moorhead. Só assumiu o sobrenome do pai após sua morte em 1975.
Embora Tim Buckley nunca tenha feito grande sucesso, um culto em torno de sua obra sempre esteve presente entre músicos. Uma vez que Jeff cresceu e decidiu seguir pela carreira musical, entretanto, ele se manteve distante do pai.
A característica mais marcante de Tim era sua voz de tenor. Durante os primeiros anos de sua carreira, Jeff evitava cantar em shows e preferia trabalhar como guitarrista.
Foi em um show em homenagem a seu pai, em 1991, que Jeff finalmente revelou ao mundo sua voz. O rapaz impressionou o público presente com o talento vocal cantando quatro músicas escritas por Tim com a mesma desenvoltura e emoção do compositor original.
Contudo, impressionar pessoas não era o objetivo, como Jeff explicou em 1994 à Rolling Stone:
“Não era a minha obra, não era a minha vida. Mas me incomodava que eu não tinha ido ao seu enterro, que não pude lhe dizer nada. Usei aquele show para lhe dar o meu respeito.”
A nova voz do rock
O primeiro disco solo de Jeff Buckley só saiu em 1994. “Grace” não vendeu muito na época que saiu nem foi aclamado pela crítica, mas vários medalhões do rock ficaram impressionados com o talento do então jovem artista, o reconhecendo como uma estrela em ascensão.
O início das gravações do segundo álbum foi tortuoso. Sessões produzidas por Tom Verlaine, líder do grupo protopunk Television, foram abortadas. Esse material, junto com demos feitas pelo cantor em Memphis para as sessões que nunca vieram a ocorrer, foram compiladas pela gravadora após sua morte no disco “Sketches for My Sweetheart The Drunk”.
Algumas pessoas ao longo dos anos levantaram a hipótese da morte de Jeff Buckley ter sido um suicídio, tendo em vista o comportamento errático do cantor no período anterior à sua morte. Entretanto, essa hipótese foi descartada pelas autoridades de imediato, que a declararam ter sido causada por acidente.
Jeff parecia estar de bem com a vida perto de sua morte, segundo o que seu padrasto contou à Rolling Stone em 1997:
“Jeff e eu tivemos uma ótima conversa no telefone uns dias antes do acidente. Ele sempre me assegurou que eu era o pai dele e ele era meu filho. Jeff estava tão feliz. Ele me disse que tinha parado de fumar e comer carne. Ele estava tão entusiasmado para voltar ao estúdio; ele sentia que sua voz estava no auge.”
Também à Rolling Stone em 1997 o gerente de turnê de Buckley, Gene Bowen, especula um motivo mais simples para a visita ao rio:
“O objetivo originalmente era só descer até a margem e – você sabe, o sol está se pondo, é lindo ali, com a brisa – e tocar um pouco de música e cantar. E então ele simplesmente queria entrar na água.”
Jeff Buckley pode nunca ter retornado da água, mas sua música permaneceu. “Grace” vendeu mais de três milhões de cópias e é reconhecido hoje em dia como um dos melhores discos de todos os tempos. E Jeff como uma das maiores vozes que o rock já ouviu.
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