A morte de Ian Curtis, vocalista do Joy Division

Lendário músico do pós-punk que sofria de epilepsia tirou a própria vida em 18 de maio de 1980, aos 23 anos

Nas primeiras horas do dia 18 de maio de 1980, Ian Curtis estava sozinho em casa. Tendo recusado uma oferta de companhia para a noite de sua prestes a ser ex-esposa, Deborah, ele assistiu ao filme “Stroszek”, dirigido por Werner Herzog, e escutou o álbum “The Idiot”, do cantor americano Iggy Pop.

(Atenção: a sequência do texto pode ativar gatilhos emocionais)

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O vocalista do Joy Division, então, escreveu um bilhete explicando suas motivações e se enforcou com a corda do varal. Ele tinha 23 anos.

Joy Division e o pioneirismo

O Joy Division foi talvez a banda de pós-punk da história, sendo praticamente responsável pela popularização do gênero.

O grupo teve sua origem numa apresentação lendária dos Sex Pistols no Lesser Free Trade Hall, em Manchester, na Inglaterra. O público do show foi esparso, mas segundo a lenda espalhada pelo apresentador de TV e fundador da Factory Records, selo do qual o Joy Division fez parte, todo mundo presente acabou formando uma banda depois do show.

Formada por Ian Curtis nos vocais, Bernard Sumner na guitarra, Peter Hook no baixo e Stephen Morris na bateria, a banda lançou dois álbuns durante a vida do frontman: “Unknown Pleasures” (1979) e “Closer” (1980). Há ainda dois singles póstumos, “Love Will Tear Us Apart” e “Atmosphere”, ambos de 1980.

A grande diferença do Joy Division em relação a outros grupos surgidos na mesma época era a sonoridade. Enquanto a grande maioria das bandas punk apostaram numa fórmula básica de três acordes e a verdade, o quarteto mancuniano tinha influência pesada dos discos saindo de Berlim por artistas anglófonos – David Bowie e o já mencionado Iggy Pop.

O nome original da banda, Warsaw, era uma referência ao título de uma canção do álbum “Low”, de Bowie. O grupo no início da carreira também teve flertes incômodos com imagens nazistas, atraindo um público neonazista que logo fizeram questão de rejeitar.

O som nos discos era claustrofóbico. O produtor residente da Factory, Martin Hannett, transformava músicas que ao vivo soavam enérgicas e dançantes em trilha sonora do apocalipse.

O líder do The Cure, Robert Smith, é citado no New Internationalist descrevendo “Closer” da seguinte maneira:

“Eu lembro de escutar ‘Closer’ pela primeira vez e pensar, ‘Não consigo sequer imaginar fazer algo tão poderoso quanto isso. Achava que teria que me matar pra fazer um disco convincente.”

Quando Ian Curtis morreu, várias lendas se propagaram sobre sua vida e seu sofrimento. Mas ele era uma pessoa. Uma pessoa complicada, mas uma pessoa.

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Quem era Ian Curtis

Antes de despontar com o Joy Division, Ian Curtis trabalhava na central empregatícia de Macclesfield, sua cidade natal, lidando com pessoas deficientes. Era um trabalho do qual tinha orgulho.

Ele se casou em 1975, aos 19 anos, com Deborah Woodruff, que tinha 18. Em 1979, tiveram uma filha, Natalie.

Em 1979, Curtis foi diagnosticado com um caso particularmente forte de epilepsia. Tentativas frustradas de controlar as convulsões com medicamentos, o estresse associado a ser parte de uma banda à beira do sucesso e a posição de pai de família o fizeram começar a beber e fumar em excesso. Efeitos colaterais dos remédios também contribuíram para ele se tornar irritável, com mudanças extremas de humor.

Ele começou a ter o que foi descrito por Deborah Curtis como um caso com a jornalista belga Annik Honoré. Apesar de Honoré garantir até hoje a relação dos dois ter sido platônica, a viúva do músico afirma o contrário, descrevendo em seu livro “Touching From a Distance” um episódio onde o cantor pediu ao seu companheiro de banda Bernard Sumner a decidir por ele se deveria terminar o caso ou largar a esposa.

Durante as gravações de “Closer”, a epilepsia estava tão forte que Ian tinha duas convulsões por semana. Peter Hook uma vez o encontrou desacordado no banheiro do estúdio após estranhar sua ausência por duas horas. Ele havia convulsionado e batido a cabeça na pia.

Num show para 3 mil pessoas em Londres, em abril de 1980, os técnicos de iluminação ativaram luzes estroboscópicas no meio da apresentação do Joy Division. Curtis começou a convulsionar e foi retirado do palco.

Ele insistiu que a banda deveria honrar sua agenda e fazer o segundo concerto marcado para aquela noite em outra parte da cidade. Porém, teve seu pior ataque até então com 25 minutos de performance.

Tentativa e morte

Em 6 de abril de 1980, Ian Curtis tentou se suicidar pela primeira vez.

Falando com a Uncut, Lindsay Reade, ex-mulher de Tony Wilson, descreveu o estado mental do músico após esse período que culminou com a tentativa de suicício:

“Ele viu tudo continuando sem ele. Ele se sentia removido de tudo. Com a epilepsia, ele sabia que não conseguia continuar tocando ao vivo. Ele meio que atingiu o ápice com ‘Closer’ e sabia que não tinha como continuar.”

Vini Reilly, líder do Durutti Column e amigo de Curtis, contou também à Uncut sobre uma conversa que teve com Rob Gretton, empresário do Joy Division, após a primeira tentativa de suicídio de Curtis.

“Rob me falou que ele achava se tratar de um pedido de ajuda. Eu falei para ele que não achava ser um pedido de ajuda, mas sim algo genuíno. O fato que ele falou para Debbie quando ela chegou que ele havia tomado uma overdose não tem nada a ver com nada. Ele estava sendo sério – ele realmente queria acabar com tudo porque não aguentava mais. Ele estava num lugar muito tenebroso mentalmente, mas como ele tinha as habilidades sociais e era tão bom em ser apenas um dos caras e ficar zoando, era muito difícil de perceber.”

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Em meio a tudo isso, Deborah deu início ao processo de divórcio após o cantor não parar de se comunicar com Annik Honoré. O grupo estava prestes a fazer sua maior turnê até então, nos Estados Unidos.

Então, Ian Curtis tirou a própria vida. Podemos discutir o quanto a música perdeu com sua morte, mas Peter Hook, que formou o New Order com os remanescentes do Joy Division, resumiu da melhor forma para o NME:

“O mais importante é que uma filha perdeu o pai. Pais perderam um filho. Uma esposa perdeu o marido. Uma amante perdeu seu amado. Isso é importante — porque, convenhamos, tem um monte de bandas por aí. Vai aparecer uma nova daqui a pouco.”

** No Brasil, o Centro de Valorização da Vida (CVV), associação civil sem fins lucrativos, oferece apoio emocional e prevenção do suicídio, gratuitamente, 24 horas por dia. Qualquer pessoa que queira e precise conversar, pode entrar em contato com o CVV, de forma sigilosa, pelo telefone 188, além de e-mail, chat e Skype, disponíveis no site www.cvv.org.br.

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Pedro Hollanda
Pedro Hollanda
Pedro Hollanda é jornalista formado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso e cursou Direção Cinematográfica na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Apaixonado por música, já editou blogs de resenhas musicais e contribuiu para sites como Rock'n'Beats e Scream & Yell.

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