...

Def Leppard acerta ao entregar o esperado em “Diamond Star Halos”

Embora carente de surpresas e longo além da conta, novo álbum dos gigantes ingleses do hard rock foi feito para se esgotar até a última gota

Ouvintes mais cabeça-dura, muitas vezes tão somente replicando aquilo que dizem alguns autoproclamados influenciadores, ventilam que o Def Leppard — que surgiu, sim, em meio à chamada New Wave of British Heavy Metal (NWOBHM) no fim dos anos 1970 — deixou de existir quando optou por abraçar a sonoridade radiofônica responsável por fazê-lo bombar no mercado estadunidense na segunda metade da década de 1980.

A partir do multiplatinado “Hysteria” (1987), o primeiro com DNA 100% americano, não faltaram bons discos. Contudo, uma parcela considerável dos que até hoje dão tratamento de hino a músicas como “Foolin’” e “Rock of Ages” parece desprezar 35 anos de produção cujo único equívoco, o esquisitão “Slang” (1995), foi justamente o que trouxe a banda ao Brasil pela primeira vez, numa turnê marcada por casas vazias.

- Advertisement -

Dito isso, se você se vê representado pelos que creem que nada que o Def Leppard lançou posterior a “Pyromania” (1983) presta, é melhor nem perder tempo na tentativa de digerir “Diamond Star Halos”, o novo álbum dos ingleses, pois os acenos a um passado há muito esquecido são quase nulos. Retrô mesmo só a música de trabalho “Kick”, que bebe na fonte de “Addicted to Love”, medalhão oitentista do cantor Robert Palmer.

O mundo mudou, bem como o foco de Joe Elliott (vocais), Phil Collen (guitarra), Vivian Campbell (guitarra), Rick Savage (baixo) e Rick Allen (bateria). O quinteto parece empenhado em continuar distante dos tempos de headbanger, mas conseguem fazê-lo sem subtrair pegada, atitude e todos os demais predicados que são sinônimo de uma carreira bem-sucedida; não obstante a quantidade de tragédias, inclusive recentes, às quais os caras foram sujeitos.

Nota-se de cara que Elliott, ciente de que seu teto vocal sofreu um rebaixamento, mantém o registro o mais linear possível, delegando aos colegas, sempre craques no backing vocal, os tons mais altos. Também se percebe que, em oposição à crença de que Collen e Campbell são dois guitarristas base, o disco está repleto de bons solos. Aliás, a timbragem das guitarras é digna de menção; talvez a melhor sonoridade do instrumento já entregue em um álbum da banda. Em contrapartida, a bateria poucas vezes soou tão artificial; ouça “Unbreakable” e comprove.

A supracitada linearidade dos vocais se estende ao repertório, temente a uma fórmula já conhecida, determinada pelas possibilidades limitadas da bateria e pela tentativa de emplacar “ooohs”, “aaahs” e refrãos que conclamem arenas lotadas a responder a plenos pulmões. Lá pelas tantas, rola, obviamente, uma sensação de “já ouvi isso antes”, mas o clima de festa quase permanente — a exceção fica a cargo das baladas — ricocheteia o impulso de atribuir a qualquer uma das 15 músicas da edição convencional — fora as duas da edição deluxe — a definição de “filler”.

Em relação às baladas, sendo tênue a linha entre o brega e o chique, “Angels (Can’t Help You Now)” é aquela que mais se destaca por melhor incorporar todos os ingredientes típicos da receita — letra marcante, interpretação emotiva — e outros que são privilégio dos mais endinheirados, como arranjos de cordas, harpa e um som de orquestra que não parece simulado em computador. E como não falar a respeito da brilhante Alison Krauss doando carisma e talento em “This Guitar” e “Lifeless”? Se um dia pareceu impossível a Robert Plant ouvir Def Leppard, eu diria que o jogo virou.

Sabemos que passada a turnê, as músicas de “Diamond Star Halos” serão postas de lado e que o disco dificilmente alcançará o status de seus antecessores mais longínquos. Considerando essa obsolescência programada, é um trabalho para se esgotar até a última gota; ou até que a ditadura do senso comum bata à porta gritando “Gunter glieben glauchen globen”.

Ouça “Diamond Star Halos” a seguir, via Spotify, ou clique aqui para conferir em outras plataformas digitais.

O álbum está na playlist de lançamentos do site, atualizada semanalmente com as melhores novidades do rock e metal. Siga e dê o play!

Def Leppard – “Diamond Star Halos”

  1. Take What You Want
  2. Kick
  3. Fire It Up
  4. This Guitar (feat. Alison Krauss)
  5. Sos Emergency
  6. Liquid Dust
  7. U Rok Mi
  8. Goodbye For Good This Time
  9. All We Need
  10. Open Your Eyes
  11. Gimme A Kiss
  12. Angels (Can’t Help You Now)
  13. Lifeless (feat. Alison Krauss)
  14. Unbreakable
  15. From Here To Eternity

Clique para seguir IgorMiranda.com.br no: Instagram | Twitter | Facebook | YouTube.

ESCOLHAS DO EDITOR
InícioLançamentosDef Leppard acerta ao entregar o esperado em “Diamond Star Halos”
Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

1 COMENTÁRIO

DEIXE UMA RESPOSTA (comentários ofensivos não serão aprovados)

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui


Últimas notícias

Curiosidades