Cinco semanas em setembro e outubro de 2020 na Riviera Francesa bastaram para que o Rammstein gravasse as faixas básicas de seu oitavo álbum de estúdio. Em março de 2021, o produtor e compositor alemão Sven Helbig entrou em cena para acrescentar os já esperados arranjos orquestrais.
Um ano de nada ou quase nada se passaria até que “Zeit” fosse oficialmente anunciado para 29 de abril — três anos após “Rammstein” —, tendo na faixa-título, acompanhada por um videoclipe dirigido pelo ator e músico Robert Gwisdek, sua primeira e contundente prévia; um ensaio, e também um lamento, sobre a passagem do tempo.
Em comparação a seus antecessores, quase sempre compostos majoritariamente de batidões capazes de embalar inferninhos dos mais diversos, “Zeit” apresenta um Rammstein voluntariamente refém de números mais cadenciados, mas sem abrir mão dos refrãos que colocam estádios lotados para cantar, ainda que em alemão errado, junto. Que o digam a majestosa “Meine Tranen” e a reticente “Adieu”, que solicita resposta imediata do público em seu riff principal.
Guitarras afinadas tons abaixo, frases de teclado com timbragens às vezes questionáveis e o canto gargantuesco de Till Lindemann, os ingredientes fundamentais da receita, ainda marcam presença. Ainda assim, não espere nos 44 minutos de música rolando por novas “Du Hast”, “Feuer Frei” ou mesmo “Te Quiero Puta”.
No quesito pista de dança, “Zick Zack” é a principal pedida; sua atmosfera tem um quê irresistível de anos 1980 e seu videoclipe é simplesmente impagável. O clima é mantido em “OK”, não obstante o caráter operístico de sua intro e seu refrão.
Paralelo à supracitada redução de velocidade, nota-se uma preocupação adicional com as letras, reflexo de tempos pandêmicos e exames de consciência. Aqui, Till Lindemann oferece um vislumbre do lado poeta que o público brasileiro está prestes a conhecer melhor em razão do lançamento no país do compêndio “Nas Noites Tranquilas”, seu primeiro livro de poesias publicado no país.
Ao contrário do que se pode pensar ou vincular à definição “poeta”, Lindemann não se permite um léxico básico ou a rima óbvia. Em letras aparentemente rasas, de poucas palavras — caso de “Armee Der Tristen”, que abre o disco com um aceno a Bertolt Brecht e seu “Einheitsfrontlied” —, a repetição é usada como recurso de estilo.
Não estamos ilesos a estranhamentos — “Giftig”, uma das mais “rápidas”, termina de maneira tão abrupta que é como se o envenenamento descrito na letra levasse à morte seu intérprete — ou momentos impróprios para menores: “Dicke Titten” é uma ode às mulheres de peito… no sentido mais torpe possível. E nem todas as músicas são boas também: os primeiros dois minutos de “Lügen” são uma agrura só.
A turnê de “Zeit” já tem data para começar: 15 de maio. Estaremos de olho na resposta dos fãs ao vivo.
Ouça “Zeit” a seguir, via Spotify, ou clique aqui para conferir em outras plataformas digitais.
O álbum está na playlist de lançamentos do site, atualizada semanalmente com as melhores novidades do rock e metal. Siga e dê o play!
Rammstein – “Zeit”
- Armee der Tristen
- Zeit
- Schwarz
- Giftig
- Zick Zack
- OK
- Meine Tränen
- Angst
- Dicke Titten
- Lügen
- Adieu
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