O nome “Ritual” não foi escolhido à toa para batizar o Matanza Ritual, conforme Jimmy London revelou em entrevista ao canal IgorMiranda.com.br no YouTube. O vocalista entende que os shows de sua antiga banda, o Matanza, funcionavam mesmo como “rituais” — não só para o público, como para ele próprio, que exorcizava seus demônios em cima do palco.
Era algo que ele queria preservar em seu novo projeto, passados quase quatro anos desde o fim de seu grupo principal, mas tocando justamente as músicas que o consagraram. Ao lado do cantor estão Antonio Araújo (Korzus) na guitarra, Felipe Andreoli (Angra) no baixo e Amílcar Christófaro (Torture Squad) na bateria — uma formação de peso, tanto por serem nomes consagrados, como pelo background orientado ao heavy metal dos envolvidos, oferecendo um contraponto interessante às influências hardcore/country dos antigos parceiros de London. É um Matanza com esteroides.
Produzida pela Top Link Music, a tour que seria realizada em 2020, mas foi adiada em dois anos em função da pandemia, passou por São Paulo – mais especificamente pelo Tokio Marine Hall (antigo Tom Brasil) – no último domingo (10). O “ritual” foi iniciado com duas atrações de abertura. A primeira, em um palco separado logo na entrada do Hall, era o Ricardinho Paraíso Duo, como parte do projeto Música Para Todos. A segunda, já no mesmo ambiente do show principal, foi o Sociedade Boêmia — uma banda esforçada e bem ensaiada, mas um pouco prejudicada pela ausência de público.
Aliás, o único problema da noite como um todo foi a visível falta de público. Evidentemente a casa estava um pouco mais cheia quando Jimmy, Antonio, Felipe e Amílcar subiram ao palco, mas ainda havia “buracos” vazios na plateia.
De resto, tudo nos trinques. Subindo ao palco 30 minutos após o horário anunciado, o Matanza Ritual fez um show enérgico e intenso, com um repertório que priorizou os grandes clássicos da banda original. Não à toa, os fãs cantaram junto de Jimmy durante praticamente o tempo todo — até quando o microfone sem fio do frontman resolvia dar algum problema, resolvido rapidamente pelo equipamento na boa e velha versão com fio.
Sem tempo para respirar
Disposto a não dar qualquer tempo para respiro, o quarteto começou o show (após os clássicos gritos de “ei, Jimmy, vai tomar no c#” vindos da plateia) emendando cinco pauladas: “Ressaca sem fim”, “Meio psicopata”, “Remédios demais”, “A arte do insulto” e “Bom é quando faz mal”. As duas primeiras, em especial, foram cantadas em uníssono pelos fãs presentes.
Na primeira pausa para interação com o público, Jimmy novamente foi recebido com os tradicionais gritos “ofensivos”. Claro, levou na brincadeira e perguntou aos presentes “quem é esse tal de Jimmy”. Depois, ele e seus colegas tocaram algumas das músicas mais pesadas do set: “O chamado do bar”, “Ela não me perdoou”, “Tudo errado”, “O que está feito, está feito”, um pequeno trecho instrumental de “Seasons in the Abyss” (Slayer) e “Eu não gosto de ninguém” – a primeira das duas ocasiões onde o microfone de Jimmy deu um pequeno problema, quase imperceptível porque o público se encarregou dos vocais durante os poucos segundos de falha técnica.
Do peso à cadência
Segunda pausa para respiro, novos gritos mandando Jimmy tomar naquele lugar. O vocalista garantiu que o “tal Jimmy”, por ser tão xingado, não poderia fazer parte do cobiçado “Clube dos canalhas”, música tocada logo em seguida, sendo sucedida pelas pesadas “Country core funeral” e “Carvão, enxofre e salitre”, além da clássica “Pé na porta, soco na cara”.
E já que falamos de peso, é bom deixar claro: a formação do Matanza Ritual, além de entrosadíssima a ponto de sequer trocar olhares no palco, toca sem dó, com a mão pesada. O novo show é visivelmente mais heavy do que o apresentado pela banda original – o que não significa “melhor” ou “pior”, é apenas diferente. Tanto Antonio quanto Amilcar conseguiram encontrar um bom equilíbrio entre os timbres/linhas originais e suas próprias identidades. Felipe, baixista de técnica irrepreensível, é o ponto-chave do grupo, pois enche o som como poucos conseguiriam fazer. E o velho Jimmy segue da mesma forma. É o mesmo frontman magnético que conduz o show de forma única e segura.
Um breve solo de Christófaro oferece mais um breve tempo de respiro aos colegas até que o retorno traz “Tempo ruim” e “Mulher diabo”, duas das músicas mais cadenciadas do set. Se o momento serviu para acalmar alguém, a situação logo mudou com as faixas seguintes: “Sob a mira”, “Conforme disseram as vozes” e “Conversa de assassino serial”, talvez os números mais puxados para o hardcore.
Jogo ganho
O jogo já estava ganho desde a primeira música, mas a partir da vigésima, o Matanza Ritual abraça a ideia e despeja, em série, algumas das músicas mais adoradas da banda original. São elas: “Mesa de saloon”, “Maldito hippie sujo” (tocada após uma interação em que Jimmy “ensina” os colegas a tocarem o riff de abertura) e “O último bar”, todas cantadas a plenos pulmões pelos fãs.
O momento era mais que adequado para apresentar a única música autoral do novo grupo até o momento: “Sujeito amargo”, já disponível nas plataformas digitais. Jimmy, em entrevista a IgorMiranda.com.br, prometeu que esta não será a única faixa inédita do projeto
Deu tempo de aprender a letra da nova canção? Então, vamos para mais clássicos do velho Matanza: “Taberneira, traga o gim”, “Todo ódio da vingança de Jack Buffalo Head” (na versão mais pesada possível) e “Ela roubou meu caminhão”, antecedida por mais uma interação em que Jimmy lamenta a “traição de uma maldita mulher”. Duas décadas depois, a perda do caminhão ainda dói.
Com pouco mais de 90 minutos de pauladas em sequência, o set foi encerrado com uma performance voz&baixo de “Estamos todos bêbados” e um trecho de “Interceptor v6”. E que set. Para mostrar o nível de dedicação, Jimmy torceu a própria camisa, embebida em suor. Era jogo ganho desde o começo, mas não dava para vacilar – e de fato nenhum vacilo ocorreu, da escolha do repertório à performance de London e seus novos colegas.
O Matanza Ritual segue na estrada até o fim de maio, com shows em Campo Grande/MS (16/04), Brasília/DF (27/05), Goiânia/GO (28/05) e Belo Horizonte/MG (29/05). Depois, só o destino sabe: Jimmy admitiu que será difícil parear as agendas dos envolvidos novamente. Se você é fã do Matanza, não perca a oportunidade de assistir a este show.
Matanza Ritual
Ao vivo no Tokio Marine Hall, São Paulo (SP), 10 de abril de 2022
Repertório:
- Ressaca sem fim
- Meio psicopata
- Remédios demais
- A arte do insulto
- Bom é quando faz mal
- O chamado do bar
- Ela não me perdoou
- Tudo errado
- O que está feito, está feito
- Eu não gosto de ninguém (precedida por um pequeno trecho de Seasons in the Abyss, do Slayer)
- Clube dos canalhas
- Country core funeral
- Carvão enxofre e salitre
- Pé na porta, soco na cara
- Tempo ruim (precedida por pequeno solo de bateria de Amilcar Christófaro)
- Mulher diabo
- Sob a mira
- Conforme disseram as vozes
- Conversa de assassino serial
- Mesa de saloon
- Maldito hippie sujo
- O último bar
- Sujeito amargo
- Taberneira, traga o gim
- Todo ódio da vingança de Jack Buffalo Head
- Ela roubou meu caminhão
- Estamos todos bêbados (trecho; precedida por pequeno solo de baixo de Felipe Andreoli)
- Interceptor V6 (trecho)
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