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Por que “Nine Lives” foi o álbum mais difícil da carreira do Aerosmith

Da depressão do baterista Joey Kramer à demissão de pessoas importantes nos bastidores, vários problemas ocorreram enquanto a banda tentava produzir o disco

Desde o fim da década de 1980, o Aerosmith vinha em uma crescente de popularidade. A boa fase não foi encerrada com “Nine Lives” (1997), mas o trabalho em torno do álbum fez a banda pisar no freio pela primeira vez em muito tempo, devido a uma série de questões que surgiram praticamente todas ao mesmo tempo.

A produção do 12º disco de estúdio do grupo foi iniciada nos primeiros meses de 1996, em Miami, nos Estados Unidos, com o vocalista Steven Tyler e o guitarrista Joe Perry compondo ao lado de Glen Ballard. O produtor havia gravado anteriormente o bem-sucedido “Jagged Little Pill” (1995), de Alanis Morissette, e parecia ser um nome perfeito para conduzir as sessões.

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Compositores parceiros como Desmond Child e Taylor Rhodes também participaram desse momento inicial, que originou músicas como “Pink”, “Falling in Love (Is Hard on the Knees)” e “Taste of India”, três dos seis singles que o álbum teve. O próximo passo era começar a gravar – e foi aí que os problemas começaram a surgir.

Joey Kramer e a depressão

Assim que o Aerosmith estava pronto para se reunir e começar as gravações de “Nine Lives” ainda em Miami, o baterista Joey Kramer foi diagnosticado com uma severa depressão. Lidando com a perda do pai ocorrida anos antes, em 1993, entre outras questões pessoais, o músico relembrou o estado em que se encontrava na época durante entrevista ao Express.co.uk, em 2010.

“Minha depressão e ansiedade estavam tão ruins na época que se eu não tivesse começado um tratamento, haveria uma boa chance de que eu não estivesse na sua frente hoje. É sobre o desejo que você tem dentro de você de sair do que quer que esteja acontecendo.”

O grupo então decidiu que Kramer deveria se afastar e seguir trabalhando sem ele. Foi recrutado o baterista Steve Ferrone, que tocava com Tom Petty & The Heartbreakers, e suas linhas seriam mantidas caso o membro oficial da banda não se recuperasse até o fim das gravações. Mas esse era só o primeiro dos problemas.

Troca de empresário e produtor

As sessões com Ferrone renderam ao todo 24 músicas. Quase nada do material agradou os membros da banda e os executivos da Columbia Records. O grupo voltava a trabalhar com a gravadora depois de 14 anos (o último trabalho lançado através do selo, “Rock in a Hard Place”, saiu em 1982) e o prazo combinado entre as partes – o verão de 1996 no hemisfério norte, que corresponde ao inverno no hemisfério sul – se esgotava.

Com uma peça a menos em seu tabuleiro e uma situação complicada, o quarteto formado por Steven Tyler, Joe Perry, o também guitarrista Brad Whitford e o baixista Tom Hamilton optou por demitir Glen Ballard, já que o tratamento “polido” que ele deu às canções foi entendido como o principal problema. Junto dele saiu Tim Collins, empresário do Aerosmith por quase 20 anos.

Em 2014, Perry contou em sua autobiografia, “Rocks: Minha vida dentro e fora do Aerosmith”, que a banda se sentia traída por Collins. O músico diz que o manager estava jogando os integrantes um contra o outro, gerando uma série de conflitos internos.

Plano B e a volta de Joey Kramer

Com tantos obstáculos, o Aerosmith conseguiu que a gravadora desse mais algum tempo para a conclusão de “Nine Lives”. Para que as coisas funcionassem, a operação toda precisou ser alterada.

Agora, a banda trabalhava em Nova York com o produtor Kevin Shirley, não à toa chamado “homem das cavernas”: se Ballard “polia” demais o som do grupo, Shirley era conhecido por sua abordagem simples e mais “crua”.

Além disso, retornou ao banquinho da bateria Joey Kramer, já recuperado da depressão após tratamento. A ideia era que ele regravasse as linhas de Steve Ferrone, mas o grupo optou por refazer tudo do zero – o que se mostrou um grande acerto.

“Nine Lives” tem um tempero tipicamente indiano, com influências de música local. Originalmente, o título seria relacionado a essa sonoridade, mas por causa das várias dificuldades enfrentadas pela banda, pareceu adequado que o álbum recebesse o nome da música de abertura, que fala das “nove vidas” (ou “sete vidas”, como falamos por aqui) de um gato.

O álbum acabou saindo em 18 de março de 1997 e fez bastante sucesso: chegou ao topo das paradas dos Estados Unidos, onde vendeu mais de 2 milhões de cópias, e ao top 10 de cinco países, incluindo Reino Unido e Canadá. Além das já mencionadas “Pink”, “Falling in Love (Is Hard on the Knees)” e “Taste of India”, saíram como singles a faixa-título, “Hole in My Soul” e “Full Circle”. Quase todas elas tocaram bastante nas rádios e na MTV.

Por outro lado, a comparação com os trabalhos anteriores era natural – e no quesito de vendas, “Nine Lives” ficou abaixo de seus antecessores diretos, os multiplatinados “Pump” (1989) e “Get a Grip” (1993). Ainda assim, o desgaste foi tão grande que o álbum representa uma vitória na carreira do Aerosmith, como resumiu Steven Tyler à Billboard na época:

“Esse foi o álbum mais angustiante que já fizemos. Passamos por tanta coisa. Tanta coisa aconteceu além da música, com empresários e outras coisas. Então foi irritante. Esse álbum me levou tão longe quanto eu sempre quis ir e me trouxe de volta.”

* Texto por André Luiz Fernandes, com pauta e edição por Igor Miranda.

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

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