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Probot: quando Dave Grohl reuniu constelação do metal para gravar um álbum

Frontman do Foo Fighters realizou sonho de adolescente em projeto que traz colaborações de Lemmy Kilmister, King Diamond, Cronos, Max Cavalera e vários outros nomes

A mente inquieta de Dave Grohl entregou em 2004 um de seus projetos paralelos mais elogiados e queridos dos fãs de som pesado. O ex-baterista do Nirvana e frontman do Foo Fighters reuniu um verdadeiro “dream team” do heavy metal no álbum homônimo do Probot, que chega a se aproximar bastante das vertentes mais extremas do gênero.

A ideia de Grohl era simples e representava o sonho de muitos fãs e artistas de heavy metal: e se você pudesse gravar um disco com alguns de seus heróis na música? É exatamente nisso que consiste o Probot, embora na época muita gente tenha ficado surpresa com o fato do criador do projeto ser tão próximo do heavy metal.

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Dave ficou conhecido inicialmente pelo Nirvana, banda que não é exatamente a mais admirada entre os fãs de metal. Apesar disso, ele garante que seus colegas não eram tão distantes assim do gênero.

Em entrevista para a Visions, na época do lançamento do Probot, o músico relembrou uma história do grupo ocorrida antes de sua entrada, em 1990, contada a ele por Kurt Cobain e Krist Novoselic.

“Kurt e Krist me disseram uma vez que antes de eles gravarem ‘Bleach’, eles sempre ouviam uma fita cassete na van. De um lado havia The Smithereens, com Celtic Frost do outro lado. E se você ouvir ‘Bleach’ com atenção, você vai escutar essa influência. É uma mistura desses dois álbuns.”

Curiosamente, Tom G. Warrior, fundador do Celtic Frost, foi um dos participantes do projeto. Um dos vários.

Dave Grohl monta o time dos sonhos

O Probot traz Dave Grohl assumiu todos os instrumentos e vários vocalistas convidados, além de músicos que contribuíram com o instrumental, a exemplo dos guitarristas Kim Thayil (Soundgarden), Erol Unala (Apollyon Sun, Celtic Frost) e Matt Sweeney (Skunk).

Na época, o frontman do Foo Fighters já tinha montado o 606, um estúdio caseiro que acabou se tornando o quartel-general de sua banda. Grohl desenvolveu todas as músicas e a partir daí selecionou os convidados. Em entrevista para a Terrorizer, ele relembrou o início do trabalho com os participantes.

“A primeira música foi a que Snake (Dave Bélanger, do Voivid) cantou. Fiquei animado. Quando recebi a faixa de volta, percebi que, sim, a ideia iria funcionar. A próxima foi a de King Diamond e ele fez absolutamente tudo que eu esperava que ele fizesse. Eu estava esperando que ele desse aquela risadinha maligna em uma parte e chegasse a uma de suas notas altas em outra parte – e ele fez isso. Todos os envolvidos retornaram com tudo.”

Cronos (Venom) e Lemmy Kilmister (Motörhead) foram os únicos que, além de cantar, adicionaram também suas partes de baixo às músicas em que participam. Com o primeiro, nasceu uma amizade improvável, com direito a entrevistas extremamente animadas do sisudo líder da banda que é considerada pioneira do black metal.

À Visions, por exemplo, Cronos disse:

“Foi muito, muito estranho. Eu não sabia o que esperar. Essa m**da seria pesada ou não? Até agora, eu só fiz sons pesados – e isso não vai mudar! Mas quando recebi o pacote de Dave e ouvi a fita… inferno! Aquela m**da era pesada! Cantei três versões daquilo. Três músicas, sabe? Então Dave poderia escolher uma. Eu queria que ele ficasse feliz.”

Já no caso de Lemmy, ele foi o único que escreveu a letra da própria música, “Shake Your Blood”, além de ser o único – além de Scott “Wino” Weinrich, do St. Vitus – a visitar o Studio 606. A parceria se mostrou mais do que bem-sucedida, a ponto de Dave afirmar em várias oportunidades que Lemmy era o verdadeiro rei do rock e não Elvis Presley.

O último a entrar para o projeto foi Kim Thayil, do Soundgarden, que ficou sabendo do trabalho e se interessou. Suas habilidades como guitarrista solo foram requisitadas por Grohl, dando o toque final.

Rolaram alguns desfalques, é claro. Chuck Schuldiner (Death) lutava na época contra um câncer que infelizmente tirou sua vida, enquanto Tom Araya (Slayer) teve problemas para conciliar sua agenda.

Outros nomes cogitados, mas que acabaram não fazendo parte do projeto, incluem Phil Anselmo (Pantera), Chuck Billy (Testament), Jeff Becerra (Possessed), Mille Petrozza (Kreator), Marcel “Schmier” Schirmer (Destruction), Katon W. De Pena (Hirax) e Messiah Marcolin (Candlemass).

O resultado da brincadeira

É inegável que Dave Grohl se divertiu muito durante a produção do álbum – que ao todo levou cerca de 4 anos para ser concluído. Os músicos envolvidos também pareceram bastante interessados no projeto e o resultado foi um álbum de heavy metal bastante honesto, que se aproxima do thrash e do death metal de forma até inesperada.

“Centuries of Sin”, com participação de Cronos, e “Shake Your Blood”, com Lemmy, foram lançadas como singles. A segunda também ganhou um clipe, com a presença do frontman do Motörhead, além de Grohl na bateria e Wino na guitarra. Cronos também participou da divulgação do álbum na Inglaterra, embora o Probot nunca tenha se apresentado ao vivo.

Algumas das músicas já foram tocadas ao vivo com a presença de seus respectivos convidados, como “My Tortured Soul”, com Eric Wagner, do Trouble. Venom, Soulfly e outras bandas também já incluíram material do Probot em seu repertório.

Dave Grohl já declarou que não pretende reativar o projeto com um segundo álbum, já que o disco original representa o que ele tinha em mente originalmente. O primeiro e único disco do Probot não foi exatamente um sucesso de vendas, mas alcançou posições razoáveis nas paradas dos Estados Unidos e Europa.

O grande barato do projeto é mostrar uma faceta meio escondida de Dave Grohl, já que nenhum de seus projetos é tão próximo assim do metal. O próprio explicou isso muito bem na época do lançamento, deixando clara a diferença entre “trabalho” e “diversão”.

“É uma viagem, sabe. Eu sou possivelmente a última pessoa no mundo que você espera que seja um fã de King Diamond. Mas eu sempre fui. E eu nunca neguei nada desta cena, porque eu cresci nela e era muito divertido. Quando eu vou para casa e dirijo meu caminhão pela Virgínia, eu não ouço Goo Goo Dolls, Oasis ou Muse. Normalmente eu vou estar ouvindo ‘Psalm 9’, do Trouble, ou uma coletânea do Mercyful Fate. Isso é engraçado para mim também, porque eu faço isso e então vou lá e componho uma música do Foo Fighters. Tem alguma conexão aqui? É meio que uma coisa separada, mas a paixão dessas músicas me inspira a fazer o que eu faço em meu ‘trabalho diário’, quando estou no horário.”

Probot – “Probot”

  1. “Centuries of Sin” (com Cronos, do Venom)
  2. “Red War” (com Max Cavalera, do Sepultura e Soulfy)
  3. “Shake Your Blood” (com Lemmy, do Motörhead)
  4. “Access Babylon” (com Mike Dean, do Corrosion of Conformity)
  5. “Silent Spring” (com Kurt Brecht, do D.R.I.)
  6. “Ice Cold Man” (com Lee Dorrian, do Cathedral e Napalm Death)
  7. “The Emerald Law” (com Wino, do St. Vitus e The Obsessed)
  8. “Big Sky” (com Tom G. Warrior, do Celtic Frost)
  9. “Dictatosaurus” (com Snake, do Voivod)
  10. “My Tortured Soul” (com Eric Wagner, do Trouble)
  11. “Sweet Dreams” (com King Diamond)
  12. “I am the Warlock” (com Jack Black, do Tenacious D)

Músicos:

  • Dave Grohl – guitarra, bateria, baixo, vocais
  • Kim Thayil – guitarra em “Ice Cold Man” e “Sweet Dreams”
  • Cronos – baixo em “Centuries of Sin”
  • Lemmy – baixo em “Shake Your Blood”
  • Scott “Wino” Weinrich – guitarra em “The Emerald Law”
  • Jack Black – guitarra em “I am the Warlock”
  • Bubba Dupree (Void) – guitarra em “Access Babylon”
  • Erol Unala – guitarra em “Big Sky”
  • Matt Sweeney – guitarra em “Dictatosaurus”

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

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