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Geoff Nicholls, um músico vestido de silêncio no Black Sabbath

Considerado o quinto integrante da banda, tecladista apareceu pouco, mas produziu muito como braço direito do guitarrista Tony Iommi

Embora raramente fosse visto com o Black Sabbath no palco ou em premiações e homenagens, Geoff Nicholls foi parte integrante de extrema importância do grupo por muito tempo. Numa época em que a formação da banda mudava como o clima, Nicholls foi uma constante necessária para o funcionamento da máquina.

Geoffrey James Nicholls nasceu em 29 de fevereiro de 1944 em Birmingham, Inglaterra. No final dos anos 1960 e início dos anos 1970 tocou em uma porção de bandas locais, sendo a World of Oz, com um único LP lançado em março de 1969, a de maior projeção.

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Em 1974, Nicholls, ora na guitarra ora nos teclados, uniu forças com o guitarrista Mick Hopkins — outrora músico de apoio do cantor Cat Stevens — trazendo à vida o Bandy Legs. No mesmo ano, o quinteto completado por Taffy Taylor (vocais), Derek Arnold (baixo) e Malcolm Cope (bateria) lançaria “Ride Ride”, o primeiro dos três compactos que formam sua discografia.

O início com o Quartz

Na sequência dos compactos “Silver Screen Queen” (1975) e “Bet You Can’t Dance” (1976), o Bandy Legs, à época já afiliado ao selo Jet Records — cujo cabeça era Don Arden, pai de Sharon Osbourne e empresário do Black Sabbath —, mudou de nome para Quartz. Nesse ínterim, o guitarrista Tony Iommi se tornou tão fã que não pensou duas vezes quando convidado para produzir a estreia do grupo pela gravadora.

Considerado um dos discos precursores da chamada New Wave of British Heavy Metal (NWOBHM), “Quartz” saiu em maio de 1977 com produção de Iommi e trazendo guitarras adicionais de Brian May, do Queen. Sabe-se que Ozzy Osbourne chegou a gravar backing vocals em algumas faixas, todos subtraídos na mixagem final do álbum.

O tempo de Geoff Nicholls no Quartz chegou ao fim em 1979 quando Tony Iommi o recrutou para integrar o Black Sabbath como tecladista.

Geoff Nicholls e Black Sabbath

Depois da saída de Ozzy Osbourne, Tony Iommi restabeleceu o Black Sabbath com o ex-Rainbow Ronnie James Dio nos vocais. Embora não aparecesse nas fotos e tocasse suas partes da lateral do palco, longe dos olhos do público, Geoff Nicholls se tornou figura onipresente e braço direito do guitarrista nas composições.

Em entrevista à Bass Magazine, o baixista Geezer Butler atribuiu a Nicholls a autoria da famosa linha de baixo da faixa-título do álbum “Heaven and Hell” (1980), o primeiro com o novo vocalista.

“Geoff que a compôs. Na minha opinião, combinava perfeitamente com a música. Obviamente, mudei uma coisinha ou outra, como nos refrães e na seção central; mas a linha de baixo principal, dos versos, foi obra de Geoff Nicholls.”

Em 1985, Nicholls foi oficializado como integrante do Sabbath, começando a aparecer nas fotos promocionais e a receber créditos de coautoria de parte das canções presentes nos álbuns gravados com Glenn Hughes e Tony Martin nos vocais. Ao vivo, chegou a fazer guitarras-base para Iommi nas turnês de “Headless Cross” (1989) e “Forbidden” (1995).

Ocupou o posto de quinto Sabbath de maneira intermitente até 1996, ano em que o grupo promoveu a volta do vocalista Ozzy Osbourne. Sua atuação nos bastidores chegaria ao fim em 2004, quando Adam Wakeman, filho de Rick Wakeman e tecladista da carreira solo de Ozzy, foi contratado para substituí-lo.

Ao todo, Geoff Nicholls tocou em dez álbuns de estúdio e três álbuns ao vivo do Black Sabbath. São eles:

  • “Heaven and Hell” (1980)
  • “Mob Rules” (1981)
  • “Live Evil” – ao vivo (1982)
  • “Born Again” (1983)
  • “Seventh Star” (1986)
  • “The Eternal Idol” (1987)
  • “Headless Cross” (1989)
  • “Tyr” (1990)
  • “Dehumanizer” (1992)
  • “Cross Purposes” (1994)
  • “Cross Purposes Live” – ao vivo (1995)
  • “Forbidden” (1995)
  • “Reunion” – ao vivo (1998)

Parceria com Tony Martin

Após rompidos os laços com o Black Sabbath, Geoff Nicholls reeditou a parceria com Tony Martin — ele havia tocado em quatro faixas do primeiro álbum solo do vocalista, “Back Where I Belong” (1992) — e foi peça fundamental em “Scream” (2005), disco cuja turnê trouxe o cantor em carreira solo ao Brasil pela primeira vez, para shows no Rio de Janeiro e em São Paulo em 2008.

Quando perguntado pelo Legendary Rock Interviews em 2013 se o papel do tecladista dentro do Sabbath era subestimado, Martin não se conteve:

“Geoff era tratado do jeito que era porque os empresários, e às vezes o próprio Iommi, tentavam fazer a banda parecer algo que não era. Veja bem: a última coisa em que alguém pensa quando ouve o nome Black Sabbath são teclados. Então foi decidido que Geoff ficaria nos bastidores, mas sua influência era tremenda, a ponto de ter lhe trazido para os holofotes. Não acho que isso tenha sido o bastante. Ninguém deve duvidar da contribuição de Geoff para o Sabbath! Ele era imprescindível à banda.”

A dupla permaneceria unida até a morte de Nicholls em 2017.

Geoff Nicholls, o “velho dos gatos”

A edição de outubro de 2003 da revista norte-americana Cat Fancy incluiu uma matéria intitulada “Cats Rock!” na qual várias personalidades ligadas ao mundo do rock assumiram-se “gateiros” e compartilharam suas experiências com bichos de estimação. Entre os entrevistados, Geoff Nicholls, que, na época, falou sobre seus dois gatos, Wilma e Charlie, entraram em sua vida e a mudaram para melhor:

“Adotei a Wilma de uma ONG, onde ela foi deixada depois que seus donos originais morreram. Ela tinha cerca de três anos. Ela grudou em mim assim que me viu, não pude resistir. Agora ela governa a casa. Aí um dia fui acordado em uma noite chuvosa pelo som de um miado fraco. A princípio, pensei que fosse Wilma, mas ela estava confortavelmente enrolada no pé da minha cama. Então pensei que talvez o gato de um vizinho tivesse ficado preso na garagem. Saí para conferir. Estava um dilúvio e bem no meio da calçada avistei o Charlie, uma pequena criatura completamente encharcada. Não acho que ele tinha mais de um mês na época. Ele correu para trás de um arbusto no momento em que me aproximei. Lá pelas tantas, busquei um pote de ração e, quando ele começou a comer, consegui pegá-lo e trazê-lo para dentro de casa.”

Geoff Nicholls e a gata Wilma
Geoff Nicholls e a gata Wilma

A matéria também faz menção a um álbum solo no qual Geoff supostamente estava trabalhando. Verdade ou não, tal material nunca viu a luz do dia.

O adeus

Geoff Nicholls morreu em 28 de janeiro de 2017, aos 68 anos, de câncer de pulmão. Ele lutava contra a doença há anos e além das sessões de rádio e quimioterapia, chegou a se submeter a tratamentos experimentais.

Tony Iommi, Geezer Butler, Tony Martin e os remanescentes do Quartz manifestaram seu luto em postagens nas redes sociais.

“Geoff foi um verdadeiro amigo e esteve ao meu lado por quase quarenta anos.” (Tony Iommi)

“Muito triste por saber que meu velho amigo e tecladista do Sabbath, Geoff Nicholls, se foi. Descanse em paz, Geoff.” (Geezer Butler)

“Feliz por tê-lo conhecido e podido chamar de amigo. Tantas lembranças boas! Ainda me fazem sorrir! Deus te abençoe, companheiro.” (Tony Martin)

Nicholls foi cremado e suas cinzas sepultadas numa cerimônia restrita à família e aos amigos mais próximos. Em sua lápide pode ser lida a frase: “Never more than a thought away, loved and remembered every day”. Ou, como escreveram seus ex-colegas de Quartz no Facebook oficial da banda:

“Através de sua música, sua memória viverá para sempre.”

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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

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