10 fatos sobre “Heaven and Hell”, primeiro álbum do Black Sabbath com Dio

Grupo renasceu com novo vocalista, vindo do Rainbow, em trabalho que sequer teria baixo gravado por Geezer Butler

É sintomático o fato de ‘Heaven and Hell’, nono álbum de estúdio do Black Sabbath, ter sido lançado uma década após o primeiro disco da banda, autointitulado. Os anos 1980 representaram, de fato, um renascimento para o Sabbath – que, definitivamente, estava precisando disso, após tantos problemas internos e alguns trabalhos de patamar abaixo, como ‘Technical Ecstasy’ (1976) e ‘Never Say Die!’ (1978).

O renascimento do Black Sabbath passa, diretamente, pelo saudoso Ronnie James Dio, substituto de Ozzy Osbourne. O vocalista, que nos deixou em 2010, havia acabado de deixar o Rainbow quando se juntou ao Sabbath. A relação com a música pesada havia se consolidado com a banda de Ritchie Blackmore, ex-guitarrista do Deep Purple, mas foi ao lado do guitarrista Tony Iommi, do baixista Geezer Butler e – naquele momento – do baterista Bill Ward que Dio começou a se tornar uma das vozes mais cultuadas do heavy metal.

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‘Heaven and Hell’ foi gravado entre outubro de 1979 e janeiro de 1980, no Criteria Studios, em Miami, Estados Unidos. Foi o mesmo local onde o criticado ‘Technical Ecstasy’ foi registrado. Além de Dio, outra diferença: Martin Birch, recomendado pelo cantor após trabalhos de sucesso no Rainbow, assumiria a produção. Fez diferença, já que Birch estimulou a mudança musical que ‘Heaven and Hell’, no fim das contas, oferece.

Em seu nono álbum de estúdio, o Black Sabbath segue pesado – talvez até mais heavy do que nos dois álbuns anteriores. Só que a forma de compor mudou. A melodia passou a ganhar prioridade na hora de criar. As temáticas exploradas nas letras também são outras. E a voz de Dio… que diferença. Ozzy Osbourne é um grande cantor, mas todos sabemos que, com Dio, a conversa é outra. Ele realmente cantava demais.

A seguir, listo 10 curiosidades sobre ‘Heaven and Hell’, um dos álbuns mais emblemáticos do Black Sabbath, que completa quatro décadas de lançamento original.

1) Dio, uma indicação de… Sharon

Por incrível que pareça, Ronnie James Dio foi indicado para entrar no Black Sabbath por… Sharon Osbourne. Na época, ela ainda usava o “nome de solteira”, Sharon Arden, e não era casada com Ozzy Osbourne, que acabou caindo fora do Sabbath em meio a seus problemas com drogas. Além disso, era filha do então empresário do Black Sabbath, Don Arden.

Sharon, claro, sabia do potencial de Dio. E conhecia bem os integrantes do Black Sabbath. Na época, os dois estavam em busca de algo em comum: Ronnie procurava uma banda e o Sabbath queria um vocalista. Deu certo. Só é curioso que tenha sido por intermédio de Sharon, a responsável por salvar a vida e a carreira de Ozzy nos anos seguintes.

2) Black Sabbath ou projeto paralelo?

Embora Sharon tenha sugerido Dio, Don Arden acreditava que o trabalho com o vocalista deveria ser apenas um projeto paralelo. Ele acreditava que ainda conseguiria convencer Ozzy Osbourne a voltar para a banda, já que uma mudança na formação de uma banda consolidada, por vezes, representa uma baixa nos lucros.

A saída de Ozzy, inclusive, aconteceu após o Black Sabbath ter tentado, por meses, ter algum progresso criativo com o vocalista. Eles chegaram a trabalhar em algum material para o disco que sucederia ‘Never Say Die!’, porém, o mais proveitoso foi uma versão embrionária de ‘Children of the Sea’, com letras e melodia muito diferentes do que conhecemos com Dio.

Don Arden, então, sugeriu que os integrantes do Black Sabbath trabalhassem com outro vocalista, em um projeto diferente, para “passar o tempo”. Só que ficou evidente, com o tempo, que não dava para Ozzy Osbourne voltar. Por isso, Dio foi chamado para ficar em definitivo. Foi assim que nasceu, inclusive, ‘Children of the Sea’ – a primeira música da ‘fase Dio’, feita em apenas um dia.

3) Teste? Para quê?

Como era de se esperar, Ronnie James Dio foi aceito na função sem mesmo passar por uma audição. O Black Sabbath não havia aberto as portas do estúdio para testar vocalistas. Deu certo com Dio logo de cara e foi isso.

“Trouxemos Dio para nossa casa em Beverly Hills e toquei para ele um riff. Ele começou a cantar e achamos fantástico. Não fizemos audição. Só começamos a compor. Foi uma forma diferente de trabalhar, o que era algo renovador”, disse Iommi, em 2006, em entrevista ao Loudwire.

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4) Dio vs. Ozzy: a grande diferença

Em entrevistas, Tony Iommi sempre define muito bem a diferença entre Ozzy Osbourne e Ronnie James Dio. Recentemente, ao canal da Gibson no YouTube, ele reproduziu a explicação.

“Com Ozzy, muitas coisas eram baseadas nos riffs e gostávamos disso. mas Ronnie não estava acostumado com isso. Ele cantava em cima de acordes, compostos, em vez de riffs, de notas simples”, afirmou.

A música que melhor define essa diferença é ‘Iron Man’. Ozzy impõe sua linha vocal acompanhando o riff principal da música. Dio, por sua vez, explora de forma mais versátil o campo harmônico que uma tonalidade oferece. Músicas como ‘Neon Knights’ e ‘Heaven and Hell’ mostram isso. Dá até para notar que, nos versos, os riffs de guitarra são mais “econômicos”, dando espaço para a voz de Dio brilhar.

5) Problemas com Geezer Butler

A saída de Ozzy Osbourne não eliminou os problemas do Black Sabbath. Todos estavam passando por problemas, muitas vezes, ligados aos vícios em drogas e álcool. Logo quando ‘Heaven and Hell’ começou a ser composto, Geezer Butler deixou a banda por razões pessoais, relacionadas, especialmente, ao divórcio de sua então esposa. Hoje, a saída é definida como temporária, mas até hoje a situação de Butler não é tão clara: ele só ficou fora por um tempo ou realmente iria abandonar o projeto?

Fato é que deu tempo de Geezer Butler voltar para gravar ‘Heaven and Hell’. No entanto, todas as letras foram compostas por Dio, e não por Butler, que sempre foi o responsável por esse quesito. A mudança de temática acabou sendo clara: as composições passaram a trazer assuntos mais fantasiosos, o que é de se espantar quando falamos de uma banda que elucidava bastante a respeito do oculto. Bill Ward não gostou muito disso, o que será exposto no último item dessa lista.

Dois substitutos foram convocados para a vaga de Geezer Butler. Inicialmente, Craig Gruber, ex-colega de Dio no Elf e Rainbow, assumiu a função. Pouco tempo depois, ele foi substituído por Geoff Nicholls, do Quartz, que também tocava outros instrumentos, como guitarra e teclados.

“Geezer ficou apenas alguns dias após eu ter chegado”, contou Ronnie James Dio. “Tony e eu criamos tudo. Fomos até a Flórida com outro baixista para gravar. No meio disso, Geezer ligou para Tony e pediu para voltar. Acho que não estava rolando tão bem com o outro baixista e era importante Geezer tocar com Tony. Então, nem pensamos tanto. Geezer voltou e foi outra turbulência com a qual lidamos, pois ele não estava com a melhor cabeça no momento”, completou.

Como dito anteriormente, Butler voltou para a banda a tempo de gravar o álbum. Geoff Nicholls foi mantido como tecladista, já que a sonoridade passou a explorar mais o instrumento, e tornou-se uma espécie de “quinto Sabbath”: era creditado como músico adicional e não aparecia nas fotos de divulgação, como membro oficial, mas estava lá. Ocupou a função até 2004, sendo citado como integrante do grupo apenas no período de ‘Seventh Star’ (1986). Faleceu em 2017, aos 72 anos.

Vale destacar que a linha de baixo original da música ‘Heaven and Hell’ foi composta por Geoff Nicholls e preservada por Geezer Butler ao gravar a canção em estúdio.

6) Problemas com Bill Ward

A situação com Bill Ward era um pouco mais complicada. Os pais do músico haviam falecido há pouco tempo e ele estava imerso no álcool. Era tão grave que ele revela não se lembrar de praticamente nada das sessões de gravação de ‘Heaven and Hell’.

Além dos problemas pessoais, ele sentia falta de Ozzy, integrante do qual era o mais próximo na banda. “Era intolerável, para mim, subir ao palco sem Ozzy, e eu bebia 24 horas por dia, meu alcoolismo acelerou”, conta.

Dessa forma, o baterista chegou a gravar o álbum, mas não conseguiu fazer muitos shows da turnê. A função foi ocupada por Vinny Appice, irmão do lendário Carmine Appice.

A saída foi uma iniciativa pelo próprio Bill Ward, em um diálogo por telefone que Dio relata ter acontecido da seguinte forma:

Bill: “Estou saindo, Ron.”
Dio: “Legal, Bill, para onde você vai?”
Bill: “Não, cara, estou fora. Estou indo para o aeroporto.”

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7) Desconfiança da gravadora com o Black Sabbath

A entrada de Dio para o Black Sabbath foi recebida com tamanha desconfiança que nem a gravadora, Vertigo/Warner, quis comprar a briga. Os executivos disseram que não iriam pagar pelos custos da gravação, então, o Sabbath precisou financiar as sessões em estúdio por conta própria.

Não foi só por não acreditar no renascimento do Black Sabbath que a gravadora se recusou a pagar pelas gravações. A banda tinha um histórico nada agradável de torrar o orçamento de estúdio com drogas e festas, além de demorar muito tempo para completar seus álbuns – e estúdios são pagos por hora. No início, até dava para tolerar, já que os resultados apresentados eram positivos. Com o tempo, além de gastarem muito, não vendiam tantos discos.

Por sorte, essa mudança de comportamento da gravadora aconteceu no momento em que Dio, sóbrio e muito profissional, estava no Black Sabbath. Com isso, as sessões em estúdio não saíram tão caras.

8) A capa de Heaven and Hell

Um álbum icônico começa por uma capa icônica. A arte que Lynn Curlee desenvolveu para ‘Heaven and Hell’ oferecia o que o disco precisava.

A arte é inspirada em uma foto de 1928, que trazia três mulheres vestidas de anjos fumando nos bastidores de um desfile escolar. Na traseira, havia ainda uma ilustração dos quatro integrantes do Black Sabbath, feita pelo veterano de guerra Harry Carmean.

“É como todo mundo olhar para a capa do ‘Abbey Road’, dos Beatles, e achar que Paul McCartney estava morto. Há muita coisa sendo interpretada de uma pintura. As três mulheres não representam os membros da banda”, afirmou Dio, na época, após especulações de que a imagem retrataria apenas três dos quatro integrantes do Black Sabbath.

O cantor também acredita que o Van Halen se inspirou nesta arte para fazer a capa de ‘1984’, lendário álbum lançado em 1984. A diferença é que, no desenho do Van Halen, apenas um anjo era retratado fumando – e era uma criança. “Tenho certeza de que se inspiraram em ‘Heaven and Hell’. Porém, enquanto nossos anjos são naturais e não são ameaçadores, acho a capa de ‘1984’ um pouco perversa demais”, disse Dio.

9) Black Sabbath e o sucesso de Heaven and Hell

As glórias comerciais dos tempos áureos do Black Sabbath foram retomadas com ‘Heaven and Hell’. O álbum fez bastante sucesso nos Estados Unidos, chegando ao 28° lugar das paradas da Billboard, e atingindo 1 milhão de cópias vendidas no país. Com isso, acabou ganhando disco de platina.

No Reino Unido, o trabalho também fez sucesso, sendo responsável por uma 9ª colocação nas paradas locais e disco de prata em 1982. Anos depois, recebeu certificação de ouro por ali, assim como no Canadá.

10) Bill Ward não curtiu tanto

Não dá para agradar a todos, por isso, ‘Heaven and Hell’ ainda é criticado por uma minoria (bem minoria mesmo) por afastar-se da sonoridade tradicional do Black Sabbath. Curiosamente, o discurso é reforçado por Bill Ward, que, como citado anteriormente, saiu da banda durante a turnê de divulgação – e era muito próximo de Ozzy Osbourne.

“Para mim, ’Heaven and Hell’ não foi um momento decisivo para o Black Sabbath. Foi o início de uma nova banda. E eu não sabia em qual banda eu estava. Era como se Ronnie fosse capaz de chegar com letras que pareciam se encaixar com a ideia de como o Black Sabbath deveria ser. E eu sentia uma certa falta de realidade nas letras”, disse o baterista, em uma entrevista a uma fanzine, em 1996.

Apesar disso, Ward não reprova todo o material. “Minha música favorita em ‘Heaven and Hell’ era um blues chamado ‘Lonely is the Word’, que soava real. Porém, coisas como ‘Lady Evil’ soavam como ‘efeito de adesão’, uma música feita só porque outras pessoas faziam esse tipo de canção. Eu, definitivamente, gostava de tocar ‘Lonely is the Word’. E ‘Children of the Sea’ também. Achava Ronnie um vocalista muito bom”, afirmou.

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

1 COMENTÁRIO

  1. Velho, eu não sabia que o Bill Ward nã curtia o álbum. Nunca me passou pela cabeça esse “problema (por falta de palavra). O álbum é ótimo mas eu nunca imaginei que o baterista estava insatisfeito.

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