Quinto Beatle? A importância de George Martin para os Beatles

Produtor entendeu a linguagem musical de John, Paul, George e Ringo como ninguém, sendo mais do que um "supervisor" do trabalho da banda

Muitas pessoas ao longo da história receberam o título de “quinto Beatle” e George Martin é um dos que mais merecem esse reconhecimento. Falecido em 2016, aos 90 anos, o produtor foi um dos responsáveis pelo primeiro contrato dos Beatles com a EMI/Parlophone e ainda conduziu as gravações de quase todos os discos da banda.

Não é exagero dizer que Martin realmente fazia parte da banda: ele sempre pareceu entender a mente musical dos Beatles como ninguém. Logo no álbum de estreia “Please Please Me” (1963), ele deixou a banda trabalhar com uma liberdade muito rara naqueles tempos.

- Advertisement -

Por vezes, até ia contra suas próprias opiniões, mas cedia em prol do resultado. Afinal de contas, era um dos poucos (talvez o único) a de fato conseguir dialogar musicalmente com John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr.

“Tradutor de ideias”

O disco de estreia dos Beatles retrata, por si só, um ato heroico. Os músicos estavam gripados no período da gravação e faziam contas para entender por quanto tempo suas vozes durariam.

Ali, Martin já participou mais ativamente, tocando piano em “Misery” e “Baby, It’s You”. Contudo, as contribuições dele iriam muito mais além nos próximos álbuns.

Educado na música clássica, George Martin precisava fazer funcionar os Beatles, uma banda que não era exatamente a mais técnica em seus primeiros anos. Era seu papel converter toda aquela criatividade em música “organizada”.

Frequentemente, o produtor fazia notações musicais para melodias e solos cantarolados por Paul McCartney e John Lennon. Também era o o responsável por comandar partes orquestradas das canções.

Experimentos com os Beatles

Mas acima de tudo, George Martin era a favor de fazer experimentos. A história do hit “Yesterday” ilustra isso bem: os Beatles não conseguiam entender a composição de Paul McCartney até que o produtor sugeriu que a música fosse cantada pelo artista sozinho, somente com um violão.

Parece besteira nos dias de hoje, mas até então esse formato era inédito para a banda e muito raro no rock.

Também foi Martin que criou o arranjo de cordas em “Eleanor Rigby”. Anos depois, o produtor admitiu ter se inspirado na trilha sonora do filme “Psicose”, de Alfred Hitchcock.

Outras músicas como “Lovely Rita” e “Being for the Benefit of Mr. Kite!” também tiveram participação ativa do produtor, notório por botar a mão na massa e fazer tudo o que era necessário para que a canção soasse como imaginado.

Na sala de controle em estúdio, George Martin quase fazia mágica. Ao lado de seu engenheiro de som, Geoff Emmerick, o produtor conseguiu cortar e colar manualmente dois takes bem diferentes de “Strawberry Fields Forever” em um só.

Nos anos 60, isso significava literalmente cortar uma fita no ponto exato, emendando-a com outra – o que exigia altíssima destreza técnica.

Leia também:  Como “Doolittle” fez Pixies chegar ao ápice sonoro e às paradas

A obra de George Martin

Com exceção do último, “Let it Be” (1970), todos os álbuns dos Beatles foram produzidos por George Martin. E sempre com grande participação. Não dá para negar que parte do sucesso do Fab Four tem o “dedo” do profissional.

Um dos raros trabalhos da banda com poucas “impressões digitais” de Martin foi o homônimo “The Beatles” (1968), também conhecido como “White Album”. Na época, ele anunciou de forma inesperada que tiraria férias – e deixou o jovem Chris Thomas em sua função. Mesmo assim, foi creditado como produtor independente.

George Martin com John Lennon

Além dos Beatles, seu currículo como produtor incluiria ainda boa parte da carreira solo de Paul McCartney, além de Ringo Starr, America, Jeff Beck, Stan Getz, Mahavishnu Orchestra, UFO, Cheap Trick, Céline Dion e Yoshiki, entre outros.

Mas é claro que seus trabalhos mais lembrados foram com o Fab Four. Há quem conteste o título de “quinto Beatle”, mas até McCartney reconheceu a importância de Martin em entrevista concedida logo após a morte do profissional, em 2016.

“Se alguém ganhou o título de ‘quinto Beatle’, foi ele. Desde o dia em que ele deu aos Beatles nosso primeiro contrato de gravação, até a última vez que o vi, ele era a pessoa mais generosa, inteligente e musical que já tive o prazer de conhecer.”

A lista a seguir apresenta uma seleção com vários (mas não todos os) trabalhos produzidos por George Martin. Singles estão entre aspas; álbuns não acompanham o sinal gráfico.

Com os Beatles

  • Please Please Me (1963)
  • With the Beatles (1963)
  • A Hard Day’s Night (1964)
  • Beatles for Sale (1964)
  • Help! (1965)
  • Rubber Soul (1965)
  • Revolver (1966)
  • Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (1967)
  • Magical Mystery Tour (1967)
  • The Beatles (1968) / White Album
  • Yellow Submarine (1969)
  • Abbey Road (1969)

Outros artistas (lista selecionada)

  • Sidney Torch – “Barwick Green” (The Archers theme) (1951)
  • Jack Parnell – “The White Suit Samba” (1951)
  • Jimmy Shand – “Bluebell Polka” (1952)
  • Kenneth McKellar – “Ae Fond Kiss” (1952)
  • Tommy Reilly – “Melody on the Move” (1952)
  • Adrian Boult / Jean Pougnet / London Philharmonic Orchestra – The Lark Ascending (1952)
  • Peter Ustinov – “Mock Mozart” (1952)
  • Eve Boswell – “Pickin’ a Chicken” (1955)
  • Edna Savage – “Arrivederci Darling” (1955)
  • Eamonn Andrews – “The Shifting Whispering Sands” (1956)
  • Dick James – “Robin Hood” (1956)
  • The Ivor and Basil Kirchin Band – “Rock-A-Beatin’ Boogie” (1956)
  • Johnny Dankworth – “Experiments With Mice” (1956)
  • Shirley Abicair – “Smiley” (1956)
  • Glen Mason – “Glendora” (1956)
  • Mandy Miller – “Nellie the Elephant” (1956)
  • The Vipers Skiffle Group – “Don’t You Rock Me Daddy-O” (1957)
  • Jim Dale – “Be My Girl” (1957)
  • Ian Wallace – “The Hippopotamus Song” (1957)
  • Charlie Drake – “Splish Splash” (1958)
  • Peter Sellers – “A Drop of the Hard Stuff” (1958)
  • Humphrey Lyttelton – “Saturday Jump” (1959)
  • Bruce Forsyth – “I’m in Charge” (1959)
  • Flanders and Swann – At the Drop of a Hat (1960)
  • Matt Monro – “Portrait of My Love” (1960)
  • Peter Sellers and Sophia Loren – “Goodness Gracious Me” (1960)
  • Beyond the Fringe (Original Cast Recording) (1961)
  • Dudley Moore – “Strictly for the Birds” (1961)
  • Bernard Cribbins – “Right Said Fred” (1962); “Hole in the Ground” (1962); “Gossip Calypso” (1962)
  • The Alberts – “Morse Code Melody” (1962)
  • Michael Bentine – “Football Results” (1962)
  • Terry Scott – “My Brother” (1962)
  • Christine Campbell – “If This Should Be a Dream” (1963)
  • Joan Sims – “Oh Not Again Ken” (1963)
  • Shirley Bassey – “I (Who Have Nothing)” (1963)
  • David Frost and Millicent Martin – That Was the Week That Was (1963)
  • Cambridge Circus (Original Cast Recording) (1963)
  • Flanders and Swann – At the Drop of Another Hat (1964)
  • Alma Cogan – “It’s You” (1964)
  • The Scaffold – “2 Day’s Monday” (1966)
  • Ron Goodwin – Adventure (1966)
  • Edwards Hand – Edwards Hand (1969)
  • Stan Getz – Marrakesh Express (1969)
  • Ringo Starr – Sentimental Journey (1970)
  • Seatrain – Seatrain (1970)
  • Seatrain – The Marblehead Messenger (1971)
  • The King’s Singers – “The King’s Singers Collection” (1972)
  • Paul Winter Consort – Icarus (1972)
  • The King’s Singers – “A French Collection” (1973)
  • The King’s Singers – “Deck the Hall” (1973)
  • John Williams – The Height Below (1973)
  • Stackridge – The Man in the Bowler Hat (1974, released as Pinafore Days in the US and Canada)
  • Mahavishnu Orchestra – Apocalypse (1974)
  • America – Holiday (1974)
  • Tommy Steele – My Life, My Song (1974)
  • Jeff Beck – Blow by Blow (1975)
  • America – Hearts (1975)
  • America – Hideaway (1976)
  • American Flyer – American Flyer (1976)
  • Jeff Beck – Wired (1976)
  • Cleo Laine – Born On a Friday (1976)
  • Jimmy Webb – El Mirage (1977)
  • America – Harbor (1977)
  • Neil Sedaka – A Song (1977)
  • Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (1978, original soundtrack)
  • America – Silent Letter (1979)
  • Gary Brooker – No More Fear of Flying (1979)
  • Cheap Trick – All Shook Up (1980)
  • UFO – No Place to Run (1980)
  • Little River Band – Time Exposure (1981)
  • Ultravox – Quartet (1982)
  • Paul McCartney – Tug of War (1982)
  • Paul McCartney – Pipes of Peace (1983)
  • Paul McCartney – Give My Regards to Broad Street (1984)
  • Kenny Rogers – The Heart of the Matter (Kenny Rogers Album) (1985)
  • Peabo Bryson – Quiet Storm (1986)
  • Peabo Bryson – Positive (1988)
  • Andy Leek – Say Something (1988)
  • Yoshiki – Eternal Melody (1993)
  • Tommy (Original Cast Recording) (1993)
  • Larry Adler – The Glory of Gershwin (1994)
  • Celine Dion – “The Reason” (1997)
  • George Martin – In My Life (1998)
  • The Beatles – Love (2006)
Leia também:  Steve Harris revela o curioso segredo físico para seu som de baixo

* Texto por André Luiz Fernandes, com pauta e edição por Igor Miranda.

Clique para seguir IgorMiranda.com.br no: Instagram | Twitter | Facebook | YouTube.

ESCOLHAS DO EDITOR
InícioCuriosidadesQuinto Beatle? A importância de George Martin para os Beatles
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

DEIXE UMA RESPOSTA (comentários ofensivos não serão aprovados)

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui


Últimas notícias

Curiosidades