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Lemmy Kilmister era nazista? O que ele dizia sobre sua coleção de itens

Líder do Motörhead tinha grande coleção de itens nazi, mas dizia que seu interesse era pela estética e não pela ideologia do Terceiro Reich

Lemmy Kilmister, frontman do Motörhead que nos deixou em dezembro de 2015, tinha vários pontos controversos em sua vida. O principal deles certamente era sua admiração por itens e simbolismos nazistas.

Havia uma grande coleção de peças relacionadas à ideologia na casa do músico. Porém, ele sempre fez questão de declarar que não era adepto ao nazismo e manifestou-se diversas vezes de forma contrária ao racismo e a outros conceitos associados.

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O vocalista e baixista sempre teve interesse por temas de política e história militar. Era, particularmente, aficionado pelo período da Segunda Guerra Mundial.

É difícil citar exatamente quando ele começou sua extensa coleção de itens nazistas. Porém, o também falecido tecladista Keith Emerson (Emerson, Lake & Palmer) afirmou em sua autobiografia que o amigo lhe presenteou com duas facas com emblemas da Juventude Hitlerista ainda na década de 1960.

A coleção de Lemmy Kilmister

Ao autor Jon McIver, no livro “A História Não Contada do Motörhead”, Lemmy Kilmister disse que começou a se interessar realmente por itens nazistas na segunda metade da década de 80, mais precisamente durante a turnê do álbum “Rock ‘n’ Roll” (1987). Nessa época, um fã deu a ele de presente uma adaga cerimonial das forças de Hitler.

“Alguém me deu um punhal e, em seguida, cerca de seis meses mais tarde, alguém me deu uma cruz de ferro. Fiquei impressionado com o estilo dessas peças.”

Em 1999, a coleção de Lemmy já contava com uniformes inteiros e diversos itens da época da Segunda Guerra Mundial. O acervo era avaliado na época em cerca de 250 mil dólares – o que em valores corrigidos para 2021 chega a mais de 410 mil dólares.

Questionado em 2007 pelo New York Waste sobre seu interesse naquele tipo de coleção, Lemmy fazia questão de dizer que era puramente estético.

“Não coleciono apenas coisas nazistas, coleciono objetos de todos os países do Eixo. Também dos países que nem são mais mencionados como parte do Eixo, como Letônia, Lituânia, Estônia, Finlândia, Hungria. Desde o início dos tempos, os caras maus sempre têm os melhores uniformes. Napoleão, os Confederados, os Nazistas. Todos eles tinham uniformes incríveis. O uniforme da SS é brilhante! Eles eram os rockstars daquela época. O que fazer? São legais.”

Reações e outros adeptos

Em alguns momentos, Lemmy Kilmister chegava a se divertir quando as pessoas iam a sua casa e se chocavam com a coleção. Em entrevista ao IdahoStatesman.com, em 2010, ele relembrou a reação de um repórter da Rolling Stone ao ver os itens expostos em seu apartamento.

“Era bem engraçado, porque eu o levei para andar em minha casa, que parece um santuário nazista. Mas é só minha coleção. Sabe, você não pode coloca-la em um armário, não cabe. Eu só coleciono as coisas, não coleciono as ideias.”

Seu interesse pelos itens nazistas era compartilhado por outro músico famoso no meio do heavy metal: Jeff Hanneman, guitarrista do Slayer. Os dois músicos desenvolveram uma amizade em torno do interesse mútuo pela Alemanha na Segunda Guerra Mundial. O líder do Motörhead também dizia conhecer outros colecionadores, sempre estudiosos, como professores e doutores em história.

Problemas na Alemanha

Apesar das declarações, nem sempre a palavra de Lemmy Kilmister era o suficiente para mantê-lo longe dos problemas – especialmente na Alemanha, onde exibir qualquer símbolo nazista é crime.

Em 2008, durante uma turnê do Motörhead pela Europa, o músico foi indiciado pelo crime de apologia ao nazismo por conta da divulgação de um show em Aurich, na Alemanha. Na foto que promovia o evento, o artista aparecia usando um quepe da Schutzstaffel (SS), a divisão de elite das forças nazistas, com o conhecido símbolo de caveira conhecido como Totenkopf.

Frequentemente, o vocalista também aparecia usando a Eisernes Kreuz, ou Cruz de Ferro, seja estampada em seu baixo ou como um pingente. O emblema é mais antigo do que o nazismo na história da Alemanha, mas também era usado como condecoração pelas forças armadas de Hitler: militares de destaque recebiam-na como medalha de honra.

Lemmy e o antirracismo

Diante das polêmicas, o vocalista e baixista do Motörhead sempre deixou clara sua posição contra o racismo ou qualquer outro aspecto da ideologia nazista. O músico se considerava um anarquista libertário, dizendo-se contra qualquer tipo de autoridade, seja ela política ou religiosa.

Em mais de uma oportunidade, ele afirmou ter tido relações com mulheres negras e era fã de músicos negros, como Little Richard. Na década de 60, trabalhou como roadie de Jimi Hendrix. Na já citada entrevista de 2007, ele expressou seu desprezo pelo racismo e se defendeu de quaisquer acusações.

“Não é uma coisa do tipo nacionalista. Não diga que sou nazista só porque tenho uniformes. Em 1967 tive minha primeira namorada negra e várias outras desde então. Eu não entendo o racismo, nunca pensei nisso como uma opção.”

Um momento interessante e que explica bem a posição de Lemmy ocorreu em um vídeo ainda na década de 1980. O artista aparece lendo a carta de um fã que se diz negro e criticado pelas pessoas próximas de sua comunidade por gostar de heavy metal, sendo uma “desgraça para sua cor”.

Conforme traduzido pelo Tenho Mais Discos Que Amigos, o vocalista deu então uma longa resposta incentivando o garoto a fazer o que quiser e se colocando contra o racismo. As falas entre aspas simples são do jovem, as outras são do músico.

“‘Meu problema é que outros negros me diminuem e dizem que sou uma desgraça para a cor’ – Diga a eles que se f*dam, garoto. Jimi Hendrix se saiu bem, lembra?

‘Me deixa p*to porque meu pai se sente da mesma forma. Na maior parte do tempo nós só mandamos essas pessoas irem morrer mas eu não sei como lidar com meu pai. Minha mãe é tranquila com isso…’ – Bom, as mulheres realmente costumam ter mais senso que os homens, eu sempre digo.

‘Mas o que eu deveria fazer com meu pai?’ Bom, é melhor ele não assistir à TV então, porque há pessoas brancas ali, sabe? Ser assim sobre outra cor é a mesma coisa que Hitler era sobre judeus e sobre outras cores. Você não pode ser só de uma cor. Se essa porcaria vai funcionar direito em algum momento, então todos nós temos que casar entre raças e transar cegamente e virar cor de café. Mas aí, nós também acharíamos pessoas que seriam mais claras que aqueles caras, certo? Você não pode vencer com essa, mas você pode vencer só fazendo o que quer. Diga a eles para ir ao inferno, certo? Eles querem te manter seguro e aquecido na comunidade negra, e se a comunidade negra não te aguenta, mostre a eles! Vá para outro lugar. Little Richard, quando teve seus primeiros hits, foi condenado ao ostracismo completamente e abandonado pelos negros. Todos eles disseram, ‘Ah, ele se vendeu’. Ele não se vendeu. Ele estava tocando a música que curtia e as pessoas brancas também curtiam, sabe? Você deveria ser penalizado por dar alegria às pessoas? Que se ferrem, faça o que você quiser!”

* Texto por André Luiz Fernandes, com pauta e edição por Igor Miranda.

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

3 COMENTÁRIOS

    • Luis, fique à vontade para reproduzir o conteúdo. Peço apenas para que preserve a menção ao site IgorMiranda.com.br como fonte, junto do link da matéria. Abraço!

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