Por que “Don’t Let Me Down” não está em “Let it Be”, o álbum final dos Beatles

Canção romântica de John Lennon havia sido divulgada antes como lado B de single e em coletânea, o que justificou exclusão, decidida por Phil Spector

A música “Don’t Let Me Down” é uma das mais lembradas da fase final dos Beatles. Mas embora tenha sido fruto das tumultuadas gravações de “Let it Be” (1970), a faixa não consta na tracklist do álbum original.

Trazendo o pianista Billy Preston como convidado, a canção acabou ficando de fora por uma série de fatores – que refletem bem a confusão daqueles tempos.

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Criação e exclusão de Don’t Let Me Down

John Lennon foi o compositor solitário de “Don’t Let Me Down”, apesar dos créditos sempre compartilhados com Paul McCartney. Trata-se basicamente de uma canção de amor desesperada, feita para sua esposa, Yoko Ono.

McCartney gostou da composição e incentivou sua entrada ao disco, inicialmente chamado “Get Back”, que depois se tornaria “Let it Be”.

Como foi uma das primeiras músicas do projeto, “Don’t Let Me Down” acabou sendo lançada como lado B do single “Get Back” bem antes do álbum, em 11 de abril de 1969. Esse é um dos motivos para que ela não tenha entrado no disco: já era conhecida do público.

A versão de “Don’t Let Me Down” presente no single “Get Back” foi gravada em 28 de janeiro de 1969, seis dias após Billy Preston chegar às sessões. O pianista tem destaque na música e em boa parte do disco, tendo participado até do célebre Rooftop Concert.

Após o show no terraço da Apple Corps, o trabalho em torno do disco é interrompido para dar lugar a “Abbey Road”, álbum lançado no fim daquele ano. Quando o projeto “Get Back” (transformado em “Let it Be”) foi retomado um ano depois, com os Beatles praticamente findados e o produtor Phil Spector contratado para dar liga àquele material gravado em 1969, “Don’t Let Me Down” caiu fora de vez da tracklist.

Além de sua divulgação como compacto, a faixa entrou em uma coletânea chamada “Hey Jude”, que reuniu singles da fase final dos Beatles e saiu nos Estados Unidos em fevereiro de 1970, dois meses antes de “Let it Be”. É outro motivo para explicar a ausência da canção no álbum.

Beatles, Phil Spector e Let it Be… Naked

Em meio a idas e vindas, com a produção de um documentário também em andamento, os Beatles fizeram de “Let it Be” um compilado de tudo o que havia sido trabalhado no início de 1969 e início de 1970. Pela primeira vez, George Martin não estava no comando da produção: Phil Spector foi chamado, por exigência de John Lennon e George Harrison, para concluir o disco.

Spector aplicou no álbum sua famosa técnica de produção “wall of sound”, que forma uma verdadeira parede de som a partir de várias camadas de instrumentos. Isso descaracterizou bastante a ideia original, que era para ser um disco simples, com sonoridade basicamente ao vivo.

Especialmente a música “The Long and Winding Road” foi desvirtuada por Phil, ganhando elementos de orquestra, o que desagradou Paul McCartney. O produtor também inclui uma versão de “Across the Universe”, que era apenas de ensaio. Tudo isso trouxe como consequência a saída de “Don’t Let Me Down”.

O incômodo de McCartney com o trabalho de Spector foi tão grande que, em 2003, o Beatle comandou o lançamento de uma versão do álbum intitulada “Let it Be… Naked”, retirando todas as mudanças feitas pelo produtor. Com isso, “Don’t Let Me Down” voltou para a tracklist, em uma versão editada a partir das duas execuções do Rooftop Concert de 1969.

Além de “Let it Be… Naked”, a música apareceu em outros relançamentos e remixagens do último álbum dos Beatles. Além das versões do show no telhado da Apple Records e do lado B do single de 1969, existem ainda gravações anteriores de quando Billy Preston chegou ao estúdio, em 22 de janeiro de 1969, bem como demos de John Lennon que datam de 1968.

* Texto por André Luiz Fernandes, com pauta e edição por Igor Miranda.

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

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