A turnê norte-americana que Eric Clapton vem realizando atualmente deveria ter abertura do bluesman Robert Cray. Os dois possuem parceria de décadas, com um participando de trabalhos do outro com frequência.
Porém, as posições do inglês durante a pandemia parecem ter custado a amizade. De acordo com o The Washington Post, após Clapton gravar a música “Stand and Deliver” com Van Morrison, Cray optou por não realizar a excursão. Além de seu conteúdo negacionista, a música comparou obedecer às restrições impostas pelas autoridades de saúde a viver em escravidão.
Em determinado momento, a letra da canção diz:
“Você quer ser um homem livre ou escravo?
Quer usar essas correntes até estar deitado no túmulo?”
O trecho desencadeou acalorada troca de e-mails entre os antigos colegas, até que Robert, um homem negro nascido no estado americano da Geórgia – reconhecido como um dos que possui maior tensão racial em território estadunidense -, deu o assunto por encerrado.
Robert Cray se manifesta; Eric Clapton, não
Em breve declaração ao The Washington Post, Robert Cray explicou sua decisão.
“Prefiro não me associar a alguém tão extremista e egoísta. Não preciso estar próximo a Eric Clapton para seguir com a minha carreira.”
Procurado pela reportagem do jornal, Eric Clapton disse, através de seu assessor, que não se manifestaria sobre o assunto. O músico segue se apresentando apenas em lugar onde não haja restrições sanitárias que considere excessivamente rigorosas.
Negacionismo
Desde o início da pandemia, Eric Clapton se declarou radicalmente contrário a qualquer tipo de ação que visasse evitar a disseminação da Covid-19.
Após gravar a já mencionada música com Van Morrison, o músico manifestou opiniões ainda mais radicais quando sofreu reações ao receber o imunizante da AstraZeneca. Ele também compartilhou informações falsas sobre a vacinação.
Em meio a tudo isso, o músico confessou que tem sido deixado de lado por amigos e familiares devido a seu posicionamento. Falando ao canal Oracle Films, no YouTube, o guitarrista comentou que se sente relegado a um ostracismo por “pensar diferente” – o que o fez pensar em mudar de país para recomeçar a vida.
“Tentei entrar em contato com colegas músicos. Não ouço mais falar deles. Meu telefone não toca muito. Não recebo mais tantos textos e e-mails, é bem notório. Pensei seriamente sobre sair da Inglaterra com minha família. Vamos viver em outro lugar, começar em outro lugar.”
Mais recentemente, o músico havia declarado que não tocaria em nenhum local onde fosse exigido comprovante de vacinação contra Covid-19, alegando “discriminação”. Meses depois, quebrou a promessa ao tocar em um evento nos Estados Unidos que demandava a comprovação e precisou flexibilizar um pouco os atos.