Mastodon mergulha no luto e entrega um de seus melhores trabalhos em “Hushed and Grim”

Primeiro álbum duplo da banda e nono da discografia geral traz reflexões sobre o falecimento de Nick John, empresário e velho amigo dos músicos

A pandemia, o contato mais direto com as tragédias humanas e o isolamento praticado pela maioria das pessoas fizeram com que mergulhássemos no mais profundo de nossos sentimentos. Por isso, é de se esperar que os discos criados neste período sejam mais densos e reflexivos. Porém, o Mastodon teve motivos de sobra para ir um passo adiante em “Hushed and Grim”, primeiro álbum duplo de inéditas em sua discografia e nono full-length no total.

Emperor of Sand” (2017), trabalho anterior, já abordava a morte como tema principal, baseado em perdas de familiares e amigos dos músicos. A nova obra é ainda mais específica, centralizando o roteiro no falecimento de Nick John, empresário e amigo de longa data do grupo que faleceu em setembro de 2018 por conta de um câncer pancreático.

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Em entrevista à Kerrang!, o baterista e vocalista Brann Dailor comentou o impacto do momento.

“’Hushed and Grim’ é sobre luto, sobre culpa, sobre todos aqueles sentimentos ‘divertidos’. É horrível ver um amigo como Nick John sofrer e saber que não há nada que você possa fazer. Quem passou por isso sabe…”

Na mesma reportagem, o músico ressaltou que o amigo é celebrado não apenas nas canções, mas também no material gráfico.

“A capa do disco é baseada na mitologia que diz que quando morremos, o espírito se funde com uma árvore para se despedir do mundo natural antes de partir para outra dimensão. O homem na imagem é Nick John.”

Ouça “Hushed and Grim” abaixo, via Spotify, ou clique aqui para conferir em outras plataformas digitais. Uma resenha está disponível na sequência.

Um álbum para ser sentido

Tendo este cenário de fundo, não é de se surpreender que o fator emocional marque presença de forma tão ostensiva, resultando em passagens complexas sem deixar a espontaneidade do momento desaparecer. Há claros sinais de uma tentativa de exorcizar o luto através da arte.

Até por isso, mais do que ouvir, “Hushed and Grim” é um álbum para sentir. E, de preferência, ouvir várias vezes para poder absorver os mínimos detalhes.

Além de ser dividido em 15 faixas, é importante ressaltar o fato de as próprias músicas contarem com subdivisões sonoras. Em vários momentos, se você não estiver acompanhando o marcador de tempo, terá impressão que acabou, mas foi apenas uma parada seguida de mudança brusca, características que aparece aqui com maior força do que em outros momentos da discografia do quarteto. E sim, este é um disco mais elaborado em comparação a seus antecessores mais recentes.

Até por conta do padrão utilizado, fica difícil destacar alguma faixa em específico, já que elas servem como prolongamento umas das outras. Não à toa, o baixista e vocalista Troy Sanders recentemente declarou à HardDrive Radio (via Blabbermouth) ser adepto do tradicional formato da audição de uma obra em sua íntegra.

“Em um mundo perfeito, gostaríamos que os fãs ouvissem nossos discos do início ao fim, na ordem do tracklist, como era no passado. Vemos o álbum como um todo, nos conectamos com as emoções desde a capa.”

De qualquer forma, a sequência da melancólica e bela “Teardrinker” com o deleite metálico de “Pushing the Tides” e seus riffs alucinantes se sobressai. E como sempre, as alternâncias vocais proporcionam surpresas e viradas de clima saudáveis, fugindo do trivial para o ouvinte.

Aliás, importante deixar claro a dificuldade de encaixar a sonoridade em algum dos subgêneros criados com o passar dos anos. Não à toa, os membros do conjunto preferem fugir até mesmo da denominação metal para o que fazem, por conta de sua natureza limitadora.

Talvez ouvidos menos acostumados com a proposta tenham dificuldade para absorver o que o Mastodon quer oferecer em “Hushed and Grim” – começar a conhecer por álbuns como “Emperor of Sand” ou “Once More ‘Round the Sun” (2014) pode ser mais fácil.

Entretanto, não dá para deixar de destacar o fato de que se trata de um dos melhores trabalhos de uma das bandas mais relevantes e criativas do século atual em qualquer estilo musical. Nick John ficaria (ou ficou, dependendo da sua crença) orgulhoso.

O álbum está em minha playlist de lançamentos, atualizada sempre às sextas-feiras. Siga e dê o play:

https://open.spotify.com/playlist/7ebZVbyCmbHRWl6Z5AHVPd

Mastodon – “Hushed and Grim”

  1. Pain With An Anchor
  2. The Crux
  3. Sickle And Peace
  4. More Than I Could Chew
  5. The Beast
  6. Skeleton Of Splendor
  7. Teardrinker
  8. Pushing The Tides
  9. Peace And Tranquility
  10. Dagger
  11. Had It All
  12. Savage Lands
  13. Gobblers Of Dregs
  14. Eyes Of Serpents
  15. Gigantium
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João Renato Alves
João Renato Alveshttps://twitter.com/vandohalen
João Renato Alves é jornalista graduado pela Universidade de Cruz Alta (RS) e pós-graduado em Comunicação e Mídias Digitais. Colabora com o Whiplash desde 2002 e administra as páginas da Van do Halen desde 2009. Começou a ouvir Rock na primeira metade dos anos 1990 e nunca mais parou.

1 COMENTÁRIO

  1. ORIGEM LIMNITADORA DO METAL …O METAL E O UNICO GENERO MUSICA QUE ACEITA DE TUDO DESDE FUNK A FOLK ..PARA BRINCAR COM TROCADILHO . EO UNICO GENERO COM DEZENASDE SUB GENEROS DO POP DO BABY METAL A VIKING DEATH METAL DO AMMON AMORTH ..LINITADOR E A CAPACIDADE DE NAO ENTENDER ..E O MASTODON NAVEGA PELOS MARES DO METAL EM DIVERSOS SUBGENEROS E NADA LIMITANTE ,,,SI MASTODOM MUITOS NOA QUEREM EM ESPECIL “ESPECIALISTRAS” CACOFONIA PROPOSITAL ,,NAO ENTEDEM MAS E SIMPLESMENTE UMA BANDA DE METAL !! E PONTO

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