Por que Grace Slick se aposentou da música – e o que ela faz hoje em dia

Para a ex-vocalista do Jefferson Airplane, Jefferson Starship e Starship, o rock and roll é algo exclusivo para os jovens

Grace Slick foi conhecida como a voz do Jefferson Airplane e de suas bandas sucessoras, o Jefferson Starship e o Starship, além de ter uma carreira solo. Porém, desde 1989, quando sua banda mais lembrada se reuniu e lançou um álbum, a vocalista se aposentou do mundo da música.

Embora tenha se retirado da indústria musical, Grace seguiu bastante ativa no segmento da arte nos anos seguintes, só que em outro tipo: as artes plásticas. A ex-cantora promove exposições anuais em várias cidades dos Estados Unidos.

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Na música, ela chegou a fazer participações com outros artistas ao longo dos anos, incluindo o Jefferson Starship. Contudo, são bem esporádicas.

E por quê? O motivo para a cantora ter se retirado dos palcos e estúdios de gravação é bem curioso e retrata uma visão bem pessoal do mundo do rock.

Grace Slick: velha demais para o rock?

A real explicação para Grace Slick ter se aposentado da música é justamente o que muitos nomes desse segmento se negam a reconhecer: a chegada da velhice. Muito esclarecida, a artista, que tinha 50 anos quando se afastou dessa indústria, não se nega a falar sobre o assunto em entrevistas.

Ao Toronto Sun, em 2015, ela deixou evidente seu posicionamento de que o rock and roll não é para os mais velhos, especialmente no que diz respeito ao conteúdo das letras. A artista chegou a criticar os contemporâneos do Fleetwood Mac por ainda estarem na estrada mesmo em idade avançada – apesar de soarem bem.

“Vi na televisão uma filmagem do Fleetwood Mac tocando alguma coisa e eu me sentia até ok, desde que não olhasse para eles. Não conseguia olhar. Eles soavam ótimos – e se eu olhasse para outro lado e imaginasse pessoas jovens cantando, estava ok para mim. Existe algo sobre pessoas velhas cantando letras de rock and roll que me incomoda. Apenas não combina.”

A cantora ainda citou exemplos da própria carreira, que, segundo ela, deveria ter acabado uma década antes. Os sentimentos de músicas como “Nothing’s Gonna Stop Us Now” e “We Built This City” não criam mais identificação com ela, que diz sentir um certo “asco” de tais composições.

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“Estou mentindo se eu digo que ‘nada vai nos parar agora’ (‘Nothing’s gonna stop us Now’). Um caminhão vai te parar instantaneamente. Além disso, 52% das pessoas que ficam juntas se divorciam. O que você quer dizer com ‘Nothing’s Gonna Stop Us Now’? É besteira.

E ‘nós construímos essa cidade com rock and roll (‘We built this city on rock ‘n’ roll’)… qual cidade? Não há cidade construída com rock and roll.”

Rock e hip hop

Em 2007, Grace Slick foi além e declarou que todos os roqueiros com mais de 50 anos parecem imbecis e deveriam se aposentar. Porém, apenas os músicos de rock – e de hip hop.

“Você pode fazer jazz, música clássica, blues, ópera, country até os 150 anos, mas rap e rock and roll são uma forma de pessoas mais jovens colocarem aquela raiva para fora. É uma coisa boba tocar uma música que não tem mais relevância no presente ou expressa sentimentos que você não tem mais.”

Rolling Stones, a exceção

Curiosamente, nem todos os dinossauros do rock deveriam ser extintos para Grace Slick. Segundo ela, os Rolling Stones são a única exceção, por conseguirem render exatamente o mesmo que ofereciam no palco quando eram jovens.

“As únicas pessoas chamadas velhas que eu vi e realmente gostei e pensei ‘isso ainda funciona’ são os Rolling Stones. Eles fizeram algo que foi filmado em um parque na Grã-Bretanha e a forma como agiam, a forma como cantavam, a musicalidade… funcionava realmente bem. Era um bom rock and roll.”

* Texto redigido por André Luiz Fernandes com pauta e edição de Igor Miranda.

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

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