Jani Lane: os altos e baixos do vocalista do Warrant, falecido em 2011

Cantor morreu em 11 de agosto de 2011, aos 47 anos, após lutar contra o alcoolismo por anos

A morte de Jani Lane, vocalista do Warrant e grande nome do hard rock oitentista, é precedida por uma melancólica e arrastada história que parecia anunciar o que aconteceria com ele.

Falecido aos 47 anos, no dia 11 de agosto de 2011, Lane deixou a impressão de que talvez tenha atingido o máximo de fama que poderia entre o fim dos anos 1980 e o início dos anos 1990, mas que poderia ter tido uma carreira muito mais sólida após isso. Cantor, multi-instrumentista e compositor de talento, o frontman do Warrant foi engolido pelo alcoolismo a partir do momento em que sua conta bancária engordou.

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O mais jovem entre os cinco filhos de Eileen e Robert Oswald, Jani Lane tinha nome de presidente: John Kennedy Oswald. Desde cedo, mostrava talento para a música, pois, logo aos 6 anos, começou a aprender a tocar guitarra, piano e bateria com dois de seus irmãos. Sempre ligado ao rock, deu início à carreira de músico aos 11, tocando em pubs de sua cidade natal, Akron, em Ohio, Estados Unidos.

Logo após formar-se no colegial, Jani Lane foi atrás de seu sonho de trabalhar com música. Transitou por bandas e cidades até se mudar em definitivo com o baterista Steven Sweet, que viria a integrar o Warrant, para Los Angeles, em 1984. Viveu a decadência do “rock pobre” como muitos que tentaram a fama por ali, chegando a dividir uma casa com outras 12 pessoas.

Warrant e consagração

O Warrant foi formado pelo guitarrista Erik Turner no mesmo ano em que Jani Lane se mudou para Los Angeles. Além de Lane e Sweet, que entraram em 1986, e Turner, completavam a formação os músicos Jerry Dixon e o guitarrista Joey Allen.

Cerca de dois anos, veio o contrato com a Columbia Records. “Dirty Rotten Filthy Stinking Rich” (1989), disco de estreia, demorou um pouco a ser lançado porque Jani Lane sofreu um colapso nervoso ao flagrar sua namorada com o guitarrista Richie Sambora (Bon Jovi) na cama – história que veio a ser contada na música “I Saw Red“, no trabalho seguinte. Apesar do percalço, o álbum saiu e colocou o Warrant em evidência.

O trabalho seguinte, “Cherry Pie” (1990), maximizou a fama do grupo – especialmente em função da música que dá nome ao disco e seu videoclipe. Foi, inclusive, nas gravações do clipe que Lane conheceu sua futura esposa, a atriz Bobbie Brown, que namorava com Matthew Nelson (Nelson) à época.

Jani Lane sempre se mostrou um sujeito intenso e, de certa forma, impulsivo – fator de risco para que problemas relacionados a álcool e drogas aparecessem. Ele gastou o seu primeiro grande pagamento recebido da gravadora em um carro de luxo e o destruiu semanas depois. Casou-se com Bobbie Brown, que já estava grávida, menos de um ano após conhecê-la.

Com ele, tudo era muito rápido. Tanto o auge quanto a queda.

Decadência profissional de Jani Lane e problemas

Em seu terceiro álbum, “Dog Eat Dog” (1992), o Warrant não conseguiu repetir o sucesso dos álbuns anteriores. Estamos falando de discos que, somados, venderam 4 milhões de cópias somente nos Estados Unidos. Era difícil bater aquela marca em um momento onde a indústria musical estava mudando, com a ascensão do grunge e gêneros alternativos dentro do rock.

Lane não se conformava com isso e saiu do Warrant, em 1993, para apostar em uma carreira solo. Porém, voltou menos de um ano depois.

O vocalista já tinha problemas de alcoolismo relatados enquanto ainda estava no auge de sua carreira. Bobbie Brown afirma, em entrevistas e depoimentos anteriores, que o cantor se transformava em outra pessoa quando bebia. Há quem diga que ele não tinha problemas com outras drogas: a questão era mesmo com o álcool.

Apesar do cenário não ter sido favorável ao hard rock na década de 90, o sucesso do Warrant foi, certamente, comprometido pelos problemas pessoais de Jani Lane, que era o principal compositor. E o álcool, em si, também resultou no fim do casamento entre o cantor e Bobbie Brown, em 1994. A união durou apenas três anos.

No underground

Entre 1994 e 2004, o Warrant lançou discos por gravadoras modestas, fez turnês em pequenas casas de shows e sofreu com repetidas mudanças em sua formação. Sobreviveu da forma que dava.

Cansado de tudo aquilo, Jani Lane saiu da banda em janeiro de 2004. O relacionamento com ele era complicado a ponto de justificarem as próprias mudanças na formação do grupo. O próprio cantor saía, mas pedia para voltar dias depois.

Curiosamente, quando Jani Lane saiu de vez, em 2004, os demais membros da formação original da banda, que até então estava separada, voltaram a tocar juntos. Não foi por acaso: com Jaime St. James no lugar de Lane, o relacionamento era bem mais fácil, segundo os próprios músicos.

Paralelamente, Jani Lane lançou o disco solo “Back Down To One” (2003) e o álbum “Love The Sin, Hate The Sinner”, com o projeto Saints Of The Underground (2008). Ambos ficaram restritos ao underground, como tudo produzido pelo Warrant após “Dog Eat Dog”.

No âmbito pessoal, Jani Lane se casou com outra modelo/atriz: Rowanne Brewer, que ficou conhecida recentemente por expor à mídia detalhes de seu namoro com o empresário Donald Trump, que na época era candidato à presidência dos Estados Unidos. Lane e Brewer ficaram juntos entre 1996 e 2005 e tiveram uma filha.

Reunião do Warrant e decadência pessoal

Warrant e Jani Lane voltaram a se apresentar juntos em 2008, mas a reunião foi conturbada. Poucos meses depois de voltarem a tocar juntos, Lane e os músicos se desentenderam. A motivação foi, novamente, relacionada ao alcoolismo do cantor.

O vocalista subiu bêbado ao palco em várias apresentações. Além de protagonizar fiascos em suas performances – como esquecer letras, se perder nas músicas ou cantar mal -, Jani chegou a bradar “eu sou o Warrant” durante um show, ao lado de seus próprios companheiros.

Fim da linha. Dessa vez, ele foi demitido ao invés de sair por conta própria.

Erik Turner explicou, em entrevista concedida ao site Rock Music Star no ano de 2011, que a banda pagou tratamentos para Jani Lane superar a dependência. Não havia uma garrafa de bebida alcoólica sequer nos camarins. “Mas ele desaparecia e voltava bêbado – isso quando voltava”, afirmou.

A decadência pessoal piorava. O fracasso com o Warrant, os casamentos sem sucesso e a morte da mãe, em 2004, deixaram Jani Lane em frangalhos.

Entre 2009 e 2010, o vocalista foi preso duas vezes por dirigir embriagado. Também em 2009, tornou-se pública uma dívida de US$ 121 mil com a Receita dos Estados Unidos, acumulada entre 1997 e 2006.

Já no início de 2011, ano de sua morte, uma turnê solo do cantor foi cancelada devido aos problemas com o alcoolismo, apesar de ele ter voltado pouco tempo depois substituindo Jack Russell no Great White.

Os sinais de que Jani Lane estava prestes a morrer e precisava de ajuda eram claros. Apenas um milagre poderia salvá-lo. Infelizmente, isso não aconteceu.

Morte de Jani Lane: no fundo do poço

Jani Lane foi encontrado morto em um quarto de hotel em Los Angeles, em 11 de agosto de 2011, em decorrência de uma intoxicação alcoólica. Ele estava sozinho na ocasião. Remédios e uma garrafa de vodca foram encontradas no local.

Além de não carregar nenhum centavo ou documento consigo, Jani Lane estava com um bilhete no bolso de sua calça que dizia “eu sou Jani Lane” e o número de telefone de uma pessoa próxima. O recado havia sido escrito por um amigo, que previu que Lane poderia ser encontrado desacordado em algum lugar.

A situação era um pouco inusitada, pois Jani Lane havia se casado com Kimberly Nash em 2010. Até hoje, não se sabe porque Lane estava longe de sua esposa na cidade onde o casal morava. Ele foi expulso de vários hotéis nas suas últimas semanas de vida.

A partir daí, brigas na imprensa se tornaram comuns entre familiares de Jani Lane e músicos do Warrant. Mas, no fim das contas, não existe culpado. Alcoolismo é uma doença e Lane, infelizmente, não resistiu a ela.

É triste afirmar que a morte de Jani Lane era esperada. Mas não é mentira. Era uma questão de tempo.

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

2 COMENTÁRIOS

  1. uma das historias mais tristes do rock n roll, um dos maiores talentos de sua geração, vocalista soberbo com voz angelical, lembrando o também maravilhoso e saudoso brad delp do boston, musico e compositor refinado, autor de melodias e letras marcantes, extremamente subestimado posteriormente pelo sucesso esteriotipado de uma canção que nem de longe resume sua obra e encontrado morto, na miséria e decadente por não ter conseguido vencer seus demonios, por responsabilidade sua, claro, mas também pela industria cretina que fazia parte, muita falta o talento desse cara faz em tempos de musica biodegradável de streamings

  2. Poderia acrescentar o trauma que ele sofreu e que foi o motivo para o alcoolismo. Foi est1pr4d0 e drogado por um empresário e um rockeiro bem famoso, que nunca saberemos quem foi, uma pena, pois deveria pagar pelo que fez. Isso está em um livro de memórias da ex esposa dele.

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