Na metade dos anos 1990, o Brasil já havia sido conquistado pelo segundo álbum do Skank, “Calango” (1994), que veio recheado de hits como “Te Ver”, “Esmola”, “Jackie Tequila” e “Pacato Cidadão”. Contudo, o grande estouro da banda viria com o disco seguinte: o clássico “O Samba Poconé” (1996).
Com uma participação de peso e um maior nível de experimentações em estúdio, o Skank ganharia o Brasil e faria barulho em outros países do mundo com esse trabalho. O hit absoluto, “Garota Nacional” (clipe abaixo, com restrição de idade), seria o maior responsável por isso.
Em seu terceiro disco de estúdio, a banda de Belo Horizonte tomou a arriscada, mas bem-sucedida iniciativa de abandonar a intenção de soar como uma versão brasileira do dancehall jamaicano. O grupo formado por Samuel Rosa (voz e guitarra), Henrique Portugal (teclados), Lelo Zaneti (baixo) e Haroldo Ferretti (bateria) inseriu música latina, forró e até pitadas de rockabilly para formar a nova mistura sonora, mais refinada.
Em “O Samba Poconé“, é como se o Skank finalmente tivesse achado a sua cara – apesar de ter sido encarado como uma “prova de fogo” pela banda, como resumiria Samuel Rosa em entrevista para a Rolling Stone.
“Ele foi, naquele período, a prova de fogo para nós e foi maravilhoso. Apesar de ter pontas muito pop, tinha uma certa dose de experimentação dentro do espectro do Skank, como ‘Sem Terra’ e ‘Los Pretos’.”
A participação de Manu Chao
Para as gravações de “O Samba Poconé”, o Skank contou com uma participação internacional de peso: Manu Chao. O convite ao artista francês foi determinante para dar fama à banda também no exterior.
Vocalista do Mano Negra e de inúmeros outros projetos, Manu Chao é conhecido pela mistura de ritmos em seus trabalhos. Notoriamente, o cantor transita por influências latinas aliadas ao ska, o que também dá um bom indício da direção que o grupo brasileiro tomaria no disco.
Chao participa em três músicas de “O Samba Poconé”. São elas: “Zé Trindade”, “Sem Terra” e “Los Pretos”, a última com letra em espanhol.
Samuel Rosa, em seu canal do YouTube, contou a história das gravações do álbum e falou da importância da participação de Chao para a banda:
“A chancela do Manu Chao acabou valendo pra gente, sendo muito importante, uma referência do rock latino. E ele estava presente em três músicas, então isso foi muito importante para o Skank naquele momento. “
Cinema e temas sociais
Os temas abordados pela banda em “O Samba Poconé” também buscaram experimentar mais em relação ao que tinha sido feito até ali.
A influência do cinema brasileiro, especialmente dos filmes do antigo estúdio Atlântida Cinematográfica pode ser notada desde a capa do disco, criada por Gringo Cardia. A obra reúne obras do pintor José Robles, responsável pelas fachadas dos cinemas paulistas da época.
Zé Trindade, um dos grandes atores daqueles filmes ao lado de nomes como Grande Otelo, Oscarito e Renata Fronzi, foi homenageado com uma música que leva seu nome.
Vale mencionar, ainda, os temas sociais presentes no álbum. O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, por exemplo, é referenciado em “Sem Terra”, enquanto o preconceito e a segregação são abordados em “Los Pretos”.
Já os hits do trabalho abordam temas mais amenos. “É Uma Partida de Futebol”, parceria de Samuel Rosa com Nando Reis (então membro dos Titãs), romantiza a grande paixão dos brasileiros. “Garota Nacional”, por sua vez, é baseada, nas palavras do vocalista, em um estereótipo da noite de Belo Horizonte.
Foi justamente “Garota Nacional”, uma música nascida de uma inspiração mais regional, que ajudou a banda a ganhar o Brasil – e o mundo.
O sucesso do Skank com “O Samba Poconé”
Ao todo, “O Samba Poconé” vendeu cerca de 1,8 milhão de cópias, conquistando disco de diamante no Brasil e levando o Skank para o exterior. A banda excursionou pela Europa e América Latina, sendo citada até mesmo no Video Music Awards (VMA), a premiação da MTV americana, pelo clipe de “Garota Nacional”.
Além do mega-hit, foram promovidas como singles as músicas “Tão Seu” e “É Uma Partida de Futebol”. A última mencionada foi outro clássico instantâneo: tocou e ainda toca em todos os tipos de reportagens e programas de TV que abordam o esporte bretão, mesmo décadas após o lançamento.
A carreira do Skank ainda teria mais momentos de alta em popularidade, com uma boa sequência em “Siderado” (1998), o trabalho seguinte, e permaneceria em evidência por muito tempo. Todavia, não há como negar: em nenhum momento, a banda mineira foi tão popular quanto na época de “O Samba Poconé”.
* Texto desenvolvido em parceria por André Luiz Fernandes e Igor Miranda. Pauta, argumentação base e edição geral por Igor Miranda; redação, argumentação complementar e apuração adicional por André Luiz Fernandes.