Como o Van Halen voltou às origens com “For Unlawful Carnal Knowledge”

Produzido por Ted Templeman, o mesmo da fase com David Lee Roth, nono álbum da banda apostou mais nas guitarras e menos em teclados

Com a saída do vocalista David Lee Roth e a chegada de Sammy Hagar para a vaga, em 1985, o Van Halen adotou uma sonoridade mais orientada ao pop. Isso mudou, de certa forma, com o álbum “For Unlawful Carnal Knowledge”, divulgado em 17 de junho de 1991.

Entre os que gostam de peso, o nono discos da banda, abreviado conscientemente de “F.U.C.K.”, é o melhor da chamada fase “Van Hagar”, que chegava a seu terceiro trabalho consecutivo.

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Os álbuns anteriores com Sammy Hagar no vocal, “5150” (1986) e “OU812” (1988), deram ênfase maior na presença dos teclados – algo que já ocorria nos momentos finais de David Lee Roth na banda, com o disco “1984” (1984). Além disso, houve um aumento expressivo na quantidade de baladas, algo que divide os fãs até hoje.

A culpa dos teclados no Van Halen

Muitos, aliás, culpam Sammy Hagar pela então nova orientação sonora do Van Halen. Porém, o vocalista já explicou que é “inocente” em relação aos teclados.

Em entrevista a Eddie Trunk, na rádio SiriusXM, traduzida pela Guitarload, ele revelou que nem mesmo sabe tocar o instrumento e ainda apontou que o guitarrista Eddie Van Halen era o responsável por aquilo.

“Todo mundo me culpou pelos malditos teclados na era ‘Van Hagar’, começando em ‘5150’. Em ‘OU812’, ficamos bem orientados pelos teclados. Eu não fiz nada disso. Foi o que Eddie fez. Eddie queria fazer isso. Ele gostava de tocar teclados e era muito bom nisso.”

Fato é que, para o sucessor de “OU812”, o Van Halen resolveu colocar um freio nas melodias mais radiofônicas. A ideia era trazer de volta o peso de outros tempos, mesclando com a maturidade adquirida ao longo de anos de carreira.

Menos teclas, mais guitarras

O primeiro passo para retornar a um som mais próximo do passado foi trazer um produtor do passado.

“For Unlawful Carnal Knowledge” começou a ser gravado com Andy Johns, mas segundo Eddie Van Halen, em entrevista à Guitar World em 1996, Sammy Hagar não queria trabalhar com ele. A sugestão do próprio vocalista teria sido recrutar Ted Templeman, que havia produzido todos os discos do Van Halen com David Lee Roth.

Mesmo com as coisas fluindo melhor, o disco demorou cerca de um ano para ficar pronto. A demora, por outro lado, permitiu que o som ficasse mais refinado. Além disso, houve tempo para que Eddie Van Halen experimentasse com alguns amplificadores diferentes do habitual Marshall Super Lead, que sempre era usado, mas foi deixado em segundo plano por aqui.

As sessões de “For Unlawful Carnal Knowledge” foram dominadas por um amplificador Soldano SLO-100, de 1989, além de um protótipo do que viria depois a ser lançado como o Peavey 5150 assinado por Eddie. A linha de amplificadores acabou sendo lançada junto com o disco.

Até as guitarras de Eddie mudaram por aqui. Ele abandonou seu clássico modelo Frankenstrat, que na época era produzida pela Kramer (modelo 5150 Baretta), para adotar uma Ernie Ball Music Man personalizada.

Se o guitarrista estava fazendo testes diferentes, os outros integrantes recorriam ao “feijão com arroz”, tão necessário para a época. Sammy Hagar seguia cantando bem como de costume, mas o processo de gravação em geral deu maior destaque a Michael Anthony, cujo baixo voltou a estar audível na mixagem, e Alex Van Halen, que adotou um som de bateria mais direto, próximo do “clássico” do instrumento.

As mudanças resultaram em uma sonoridade revigorada. O Van Halen voltava a ter peso, mas de um jeito diferente.

Os destaques de “For Unlawful Carnal Knowledge”

A força do Van Halen já aparece nos primeiros segundos de “For Unlawful Carnal Knowledge”, com a peculiar introdução do primeiro single, “Poundcake”.

Nela, Eddie usou uma furadeira portátil próxima dos captadores da guitarra, o que gerou o som característico. Ele usaria a ferramenta nos shows e no clipe da música, que foi bastante tocado na MTV.

Quem gosta dos momentos mais melódicos da banda também não se decepcionou por aqui. Basta observar que “Top of the World” tem uma passagem oriunda do final de “Jump”, hit do álbum “1984”. A faixa traz um clima bem “ganchudo” – e tem backing vocals de Steve Lukather, do Toto.

O som mais “pasteurizado” das teclas foi substituído pelo piano, mais orgânico, em algumas músicas. O exemplo mais claro está na ótima “Right Now”. Foi uma forma inteligente que a banda encontrou de mesclar a sonoridade do passado com o então presente, agradando aos fãs de todas as fases.

Há, ainda, boas faixas como “Runaround”, “Judgement Day” e “The Dream is Over”, além de uma pequena homenagem a Wolfgang Van Halen. O filho de Eddie e futuro baixista do Van Halen acabava de nascer, o que rendeu a bela instrumental “316” – cujo título faz referência ao dia 16 de março, aniversário de Wolfie.

Bons resultados para o Van Halen

“For Unlawful Carnal Knowledge” trouxe um Van Halen renascido e isso também se refletiu nos números do álbum. Além do 1º lugar nas paradas dos Estados Unidos, mantido por três semanas em seguida, e das posições de número 5 e 6 na Austrália e Alemanha, respectivamente, o trabalho conquistou o Grammy de Melhor Performance de Hard Rock em 1991.

Nos EUA, aliás, o registro vendeu mais de três milhões de cópias, rendendo certificação de platina tripla. Rolaram, ainda, disco de prata no Reino Unido e platina no Canadá, pelas 60 mil e 80 mil cópias comercializadas em cada país, respectivamente.

“Poundcake”, “Runaround”, “Right Now” e “Top of the World” foram os singles, com destaque para o primeiro, que também obteve ótimos resultados. As faixas “The Dream Is Over” e “Man on a Mission” ainda foram promovidas como compactos para rádios.

A turnê também rendeu o álbum ao vivo “Live: Right Here, Right Now”, lançado em 1993. Era o primeiro disco oficial da banda gravado em cima dos palcos – dá para acreditar?

“For Unlawful Carnal Knowledge” seria o penúltimo álbum do Van Halen com Sammy Hagar nos vocais. Após o sucessor “Balance” (1995), a banda faria uma tentativa de reunião com David Lee Roth, mas ficaria com Gary Cherone, gravando o polêmico “Van Halen III” (1998). Hagar retornou ao grupo entre 2003 e 2005, mas registrou apenas algumas faixas inéditas para a coletânea “The Best of Both Worlds” (2004), sem compor um trabalho completo.

* Texto desenvolvido em parceria por André Luiz Fernandes e Igor Miranda. Pauta, edição geral e argumentação-base por Igor Miranda; redação geral, argumentação e apuração adicional por André Luiz Fernandes.

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

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