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Como o curioso e genial Eddie Van Halen mudou a história da guitarra

Lendário guitarrista foi inventivo não só em técnicas, como, também, em uso de equipamentos e ferramentas

Eddie Van Halen nos deixou. O guitarrista foi, certamente, um dos mais inventivos da história de seu instrumento. Não só pelas técnicas ao tocar, mas pelas ideias que tinha ao combinar equipamentos e ferramentas.

Até hoje, não houve ninguém que conseguisse soar como Eddie Van Halen. Diversos estudiosos da guitarra concordam em citá-lo, junto de Jimi Hendrix, como um dos maiores revolucionários do instrumento.

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Tentarei explicar, a seguir, algumas das inovações que consagraram Eddie como um dos responsáveis por mudar a história da guitarra. No entanto, uma música vale mais do que mil palavras. Basta ouvir qualquer guitarrista de rock que tenha se lançado após 1978 para perceber como Van Halen estava presente na sonoridade de todos, especialmente dos mais virtuosos.

Yngwie Malmsteen, Randy Rhoads, Uli Jon Roth, George Lynch, Dimebag Darrell, Steve Vai, Joe Satriani e Tom Morello são só alguns dos milhares de músicos que foram influenciados por Eddie Van Halen. Até mesmo baixistas, como Billy Sheehan, absorveram técnicas e estilos de timbragens do guitarrista.

Tapping

A grande invenção de Eddie Van Halen veio ao tocar sua guitarra. Trata-se da técnica de tapping, que já existia, mas foi aprimorada nas mãos do gênio.

A primeira demonstração do tapping da forma como Eddie tocava está em ‘Eruption’, logo nos primeiros minutos do álbum de estreia do Van Halen, autointitulado e lançado em 1978. Para fazê-la, o guitarrista fazia uso das duas mãos no braço do instrumento.

Músicos como Harvey Mandel, Emmett Chapman, Steve Hackett e até Jimmy Page faziam tapping ou algo semelhante no passado, mas foi Eddie Van Halen o responsável por lapidar e solidificar a ideia. Eddie, aliás, foi influenciado por Jimmy Page, do Zeppelin, ao criar tal forma de se tocar: ele descobriu que dava para usar as duas mãos no braço da guitarra enquanto desenvolvia o solo da música ‘Heartbreaker’.

“Adoro o som de ‘Eruption’. Nunca ouvi uma guitarra com aquele som antes. Enquanto a gente gravava o primeiro álbum do Van Halen, cheguei mais cedo no estúdio e comecei a aquecer, pois tinha um show no fim de semane e eu queria treinar meu solo na apresentação. Nosso produtor, Ted Templeman, chegou por acaso e perguntou: ‘o que é isso, vamos gravar’. Toquei duas ou três vezes e deixamos assim”, relembrou Eddie Van Halen, ao falar de ‘Eruption’ e o desfile da técnica de tapping na gravação, em entrevista à revista ‘Guitar World‘.

Ele reconhece que não foi o inventor do tapping, diga-se de passagem. “Nunca falei que inventei ou não essa técnica. Só faço o que faço. É meu som. Uso tantos ‘truques’ ou efeitos porque não podia comprar um pedal de wah-wah, ou algum outro pedal… todos esses brinquedos que outros guitarristas tinham. Por isso, eu experimentava e segua tocando. Se você é músico, você apenas toca até o dia que morrer. Não é um trabalho comum”, declarou, à mesma revista, em outra ocasião.

É importante destacar, inclusive, que uma das várias modificações costumeiramente feitas por Eddie em suas guitarras era o próprio braço do instrumento. Ele utilizava braços mais largos, para facilitar na técnica de tapping.

Alavanca

Eddie Van Halen também inovou a utilizar a ponte Floyd Rose, com alavanca, em sua guitarra – que, aliás, foi toda modificada por ele, mas abordo esse tópico em outro momento.

As guitarras convencionais traziam, em suas pontes, um sistema de tremolo que não permitia tanta variação ao utilizar a alavanca. Já o Floyd Rose, criado em 1976, alterava bem mais a sonoridade, além de travar a afinação – algo que o tremolo comum não fazia.

Eddie utilizava um sistema Floyd Rose com ponte semi-flutuante, que permitia movimentar a alavanca apenas para baixo, não para cima. Nessa configuração, vale destacar que uma corda quebrada não desafina a guitarra – e a intenção inicialmente de Van Halen ao utilizar Floyd Rose era justamente a estabilidade da afinação.

Para gravar o primeiro álbum do Van Halen, Eddie Van Halen ainda usava um tremolo convencional da Fender, mas mexeu em toda a instalação para atendê-lo, chegando até a pingar uma gota de óleo três-em-um para deixar tudo mais escorregadio.

Conforme a banda conquistava maior sucesso e gozava de orçamento devido, Eddie passou a alterar ainda mais seus equipamentos, mas com uma pegada mais sofisticada. Foi aí que ele passou a adotar, de vez, o sistema Floyd Rose.

Amplificadores

Como um bom guitarrista de baixo orçamento, Eddie Van Halen não trabalhava tanto com pedais de efeito. Então, ele apostava nos amplificadores, que sempre eram modificados.

O grande segredo estava em usar amplificadores valvulados Marshall com um transformador Variac, que muda a voltagem. Porém, não era para mais, já que isso faria as válvulas derreterem – era para menos, pois o som ficava saturado e com distorção natural mesmo em um volume mais baixo.

A inovação fez com que vários fabricantes de amplificadores adotassem um botão que simula, basicamente, a técnica de Eddie com os Variac: o botão “master”. Dessa forma, separaram-se os knobs que mexem no volume da distorção e o geral, ou o volume de um canal e o geral.

“O amplificador Marshall que trouxe da loja onde trabalhava só funcionava se você o aumentasse totalmente. Qualquer volume mais baixo e você perderia a distorção. Eu precisava da distorção, mas era impossível tocar com o volume tão alto, então tentei de tudo – e queimava um fusível duas vezes por hora”, relembrou, em artigo para o ‘Popular Mechanics‘.

“Felizmente, esbarrei com o transformador Variac. Comprei outro amplificador Marshall sem saber que era europeu (voltagem diferente). Fiqei esperando ele aquecer e quando toquei, não saía nada. Fiquei puto. Saí e voltei uma hora depois. Não sabia que estava em 220v, então, coloquei o volume e soava como um Marshall poderoso, mas com volume bem baixo. Foi quando notei algo com a voltagem”, completou, revelando como passou a usar o Variac em seus amplificadores.

Captação

Outro charme de Eddie Van Halen estava no uso de captação humbucking (bobina dupla) em uma guitarra Stratocaster – mais especificamente, em sua Frankenstrat. Ele foi um dos primeiros a fazer essa alteração na configuração, senão o primeiro, o que oferecia uma sonoridade mais reforçada que uma Strato comum e mais estalada que uma Gibson Les Paul, por exemplo.

Além disso, o humbucker na guitarra era instalado em uma posição inclinada. Isso trazia uma sonoridade peculiar, especialmente para as cordas das extremidades – a mizinha e a mizona -, cujos sons eram registrados em pontas ainda mais agudas ou graves, a depender da corda.

Com o tempo, claro, as guitarras passaram a ter configurações mais sofisticadas. A Wolfgang, por exemplo, era como uma guitarra comum, mas com as técnicas de eletrônica rebuscadas de Eddie.

Outra mudança curiosa feita nas guitarras dele foi o uso de parafina derretida para revestir a fiação do captador. A técnica fazia com que a microfonia fosse reduzida, pois os fios se mexiam menos.

Ao ‘Popular Mechanics’, ele comentou: “Captadores podem ter um som muito irritante de microfonia. Achei que a causa poderia ser a vibração dos fios da captação. Não sei de onde veio essa ideia, mas o que eu fiz foi comprar uma chapa quente e barras de parafina, além de uma lata de café Yuban para colocar a cera. Estraguei vários captadores, pois as armações de plástico derretiam antes de eu poder puxar o captador. A primeira vez que eu consegui acertar, junto do Variac, a combinação era ideal. Era como o paraíso para mim”.

Vale destacar que antes de chegar ao modelo Frankenstrat, Eddie já era do tipo que mexia em suas captações. “Eu tinha uma Les Paul Goldtop, pois adorava Eric Clapton. Mas a minha tinha captação P-90 single coils e a dele, humbuckers. Eu esculpi a parte traseira da minha guitarra e coloquei um humbucker. Nos shows, as pessoas ficavam se perguntando como eu tirava aquele som de humbucker com um P-90. Elas não viam o humbucker, então, nunca saberiam o que estava lá”, declarou, ao ‘Popular Mechanics’.

Suporte

Eddie Van Halen chegou a patentear uma de suas invenções mais curiosas: um suporte para usar a guitarra deitada enquanto está em pé. A ideia era facilitar o uso da técnica de tapping.

O protótipo do suporte foi construído em madeira. Depois, evoluiu para material de acrílico. Não demorou muito até que ele dispensasse o suporte, mas serviu para ajudá-lo a desenvolver ainda mais a técnica de guitarra com as duas mãos no braço.

D-Tuna

Com maior aceitação entre guitarristas, o D-Tuna foi outra ferramenta criada por Eddie van Halen. Trata-se de uma peça que muda rapidamente a afinação da corda mais grave, a mizona, descendo para um tom mais grave.

Algumas músicas do Van Halen traziam afinação em “drop D”, que é quando apenas uma corda tem sua afinação alterada – neste caso, para um tom mais grave, enquanto as demais cordas seguem a mesma tonalidade padrão. Para não perder tempo no palco, Eddie inseria o D-Tuna para reafinar apenas a mizona.

Com o tempo, o sistema evoluiu e passou a ser integrado em todas as guitarras Wolfgang vendidas por sua marca oficial, a EVH. Em uma segunda versão, a ferramenta ganhou o nome de D2H, sendo adotada em guitarras sem Floyd Rose.

Criatividade de Eddie Van Halen

É importante pontuar que o grande charme de Eddie Van Halen não estava em técnicas ou alterações de equipamentos. Estava em sua mente, com sua criatividade gigantesca para compor melodias e arranjos.

Diversos solos de Eddie são cantaroláveis, mesmo com fraseados rápidos. Há, ainda, riffs históricos de várias músicas que mostram como o músico tinha facilidade para construir canções.

Um dos solos mais geniais de Eddie Van Halen não está na discografia oficial do Van Halen, mas, sim, em uma música de Michael Jackson. Trata-se de ‘Beat It’, que ele fez em poucos minutos, de forma improvisada, e não cobrou nada por isso, pois estava fazendo um favor ao produtor do Rei do Pop, Quincy Jones.

Para outros momentos de genialidade de Eddie, dê o play em músicas como ‘Ain’t Talkin’ Bout Love’, ‘Runnin’ with the Devil’, ‘Jump’, ‘Panama’, ‘Why Can’t This Be Love’, ‘Humans Being’, ‘Hot for Teacher’, ‘Poundcake’, ‘Unchained’, ‘Right Now’, ‘Could This Be Magic’, ‘And the Cradle Will Rock’ e por aí vai. A lista é imensa, assim como seu legado.

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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