O guitarrista Sylvain Sylvain, conhecido por ter integrado o New York Dolls, morreu na última quarta-feira (13), aos 69 anos.
A informação foi confirmada por Lenny Kaye, também guitarrista, mas da banda de Patti Smith. Em um texto emocionante, Kaye exaltou o legado deixado pelo músico, que nasceu em Cairo, no Egito, e mudou-se para os Estados Unidos quando ele ainda era criança.
“Syl amava o rock and roll. Sua alegria no palco e seu sorriso radiante enquanto atacava sua guitarra revelaram a sensação que ele deve ter sentido aos 10 anos, emigrando de Cairo com sua família em 1961, o navio chegando ao porto de Nova York e vendo a Estátua da Liberdade pela primeira vez.
Foi ele quem olhou através da avenida Lexington e viu a placa do hospital New York Doll. Syl e um amigo do colégio, Billy Murcia, estavam no mercado de trapos na época, o apropriadamente chamado Truth and Soul, com suéteres tricotados e com um lado da atitude do rock. Com outro colega de classe, John Genzale, e depois, Arthur Kane, David Johansen e Jerry Nolan, eles se tornaram um quasar no firmamento do rock, incorporando o lixo, o glam, o garagem-ao-punk, a afirmação ambissexual da música que tocava mais alto.
Seu papel na banda foi o de sustentação, mantendo os satélites giratórios de seus companheiros de banda em precisão. Embora ele tenha tentado bravamente manter a banda em atividade, no final a fábula moral dos Dolls os oprimiu, não antes de semear uma influência que engendraria muitas gerações de rock ainda por vir.
Os New York Dolls anunciaram o futuro, facilitaram a dança. Desde o momento em que vi seu pôster pela primeira vez na parede do Village Oldies em 1972, anunciando shows como residente no Mercer Hotel na mesma rua durante sua ascensão meteórica, os New York Dolls foram o centro aquecido dessa música que admiramos, a banda que faz você querer formar uma banda.
Syl nunca parou. Em sua vida solo, ele foi bem-vindo em todo o mundo, da Inglaterra ao Japão, mas acima de tudo nas tocas de Nova York, que foi onde o encontrei há alguns anos no Bowery Electric. Ainda Syl. Seus cachos saca-rolhas, salto incansável, exultando em viver seu sonho, pedindo à multidão para cantar junto – e assim vamos nós. Seus nomes gêmeos, espelhados, tornam-se nós.
Obrigado Sylvain x2, pelo seu amor, pela sua fé e pela maneira como você acertou aquele acorde mizão. Sleep, Baby Doll”.
https://www.youtube.com/watch?v=Ctg5FCS1wCM
Desde 2019, sabia-se que Sylvain Sylvain lutava contra um câncer, em região do corpo não especificada. O músico lançou, em abril daquele ano, uma campanha de crowdfunding para que internautas ajudassem com as despesas médicas dele.
“Não tenho conseguido trabalhar desde o ano passado e tenho mais cirurgias programadas. Amo a vida! Por mais difícil que esteja sendo a vida para mim nos últimos dois anos, quero viver e sei com o seu amor e apoio terei a melhor chance que poderia ter.”
Sobre Sylvain Sylvain e New York Dolls
Sylvain Sylvain foi um dos integrantes originais do New York Dolls, banda formada em 1971 que foi responsável por reforçar o glam rock nos Estados Unidos. Em meio a tantas mudanças de formação, o guitarrista nunca deixou a banda – fez parte até o fim, em 1976, ao lado do vocalista David Johansen, participando também da reunião entre 2004 e 2011.
Vale lembrar que o New York Dolls nunca conquistou a fama devida. Embora tenha sido muito influente, a banda lançou apenas dois álbuns pouco vendidos, ‘New York Dolls’ (1973) e ‘Too Much Too Soon’ (1974), antes de sucumbir ao cenário de decadência no qual os próprios músicos se enfiaram.
O legado, porém, é imenso. Além de terem sido importantes para o desenvolvimento do hard/glam rock e até do proto-punk no início da década de 1970, os Dolls seguiram inspirando bandas que furaram a bolha de seus subgêneros, como Kiss, Ramones, Guns N’ Roses, The Smiths, The Damned e por aí vai.
Em 2004, o New York Dolls voltou à ativa com apoio de Morrissey, tocando no festival do vocalista, o Meltdown, em Londres. Apenas três integrantes originais/clássicos participaram: Sylvain Sylvain, o vocalista David Johansen e o baixista Arthur Kane. O guitarrista Johnny Thunders e o baterista Jerry Nolan faleceram ainda no início dos anos 1990.
Arthur Kane, inclusive, morreu semanas após a apresentação no Meltdown, mas isso não freou a reunião, que gerou três álbuns: ‘One Day It Will Please Us to Remember Even This’ (2006), ‘Cause I Sez So’ (2009) e ‘Dancing Backward in High Heels’ (2011).
O rompimento definitivo ocorreu em 2011, quando David Johansen preferiu seguir envolvido com seus outros projetos.
Em meio a esses períodos de inatividade do New York Dolls, Sylvain Sylvain trabalhou em diversos projetos, como o Teadrops, The Criminal$ e She Wolves, além de sua carreira solo.
