5 discos clássicos do rock que não tiveram boas vendas

A relação entre arte e mercado é curiosa. Há trabalhos bons e ruins que têm reconhecimento comercial, assim como existem registros de bom e mau gosto que são aclamados pelo público.

A situação que mais me chama a atenção é a de bons discos que não conseguem boas vendas. Há aqueles que encalham para sempre e os que demoram a engrenar.

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Na lista abaixo, há cinco clássicos do rock que, definitivamente, não tiveram boas vendas. Os trabalhos em questão conquistaram repercussão no underground e se tornaram influentes – com exceção do primeiro, que ainda teve um sucesso comercial maior que os demais, mas muito longe do esperado (e merecido).

Beach Boys – “Pet Sounds” (1966)

Um dos primeiros álbuns do chamado art rock, “Pet Sounds é, sem dúvidas, um dos trabalhos mais influentes, não só do rock, mas da música como um todo. É citado, frequentemente, como um dos melhores registros da história, seja por críticos ou por outros músicos.

Contudo, “Pet Sounds” não foi tão bem recebido comercialmente quanto se esperava. Na época, os Beach Boys já eram um sucesso comercial e, aqui, resolveram mudar sua pegada. A transição não foi bem assimilada de início e a Capitol Records, gravadora, não fez a devida divulgação.

Apesar de ter entrado nas paradas de vários países, “Pet Sounds” logo saiu dos charts e não conseguiu bater os recordes de vendas de antes. Nos Estados Unidos, por exemplo, estima-se que tenham sido vendidas cerca de 500 mil cópias na época. Somente no ano de 2000, conseguiu um disco de platina, por um milhão de álbuns comercializados.

Esperava-se mais, visto que “Pet Sounds” foi muito elogiado pela imprensa especializada. A efeito de comparação, o álbum é citado como a maior influência de “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, dos Beatles, que chegou a números muito maiores em termos de vendas.

Curiosamente, dois meses depois, a Capitol lançou uma coletânea com os maiores hits dos Beach Boys, “Best Of Beach Boys”, que chegou às 500 mil cópias nos Estados Unidos com mais agilidade que “Pet Sounds”.

The Velvet Underground & Nico – “The Velvet Underground & Nico” (1967)

O icônico disco de estreia do Velvet Underground foi ignorado pelo público em geral, bem como pela crítica especializada. E há explicações curiosas para tal ocorrido.

A principal é a ação judicial que envolveu a banda e o ator Eric Emerson. Na imagem de trás do LP, havia uma foto da banda com a projeção de Emerson por trás. Naquela época, o ator havia sido preso por posse de drogas e estava desesperado por dinheiro, então, ele processou o grupo por ter usado a sua imagem de forma indevida, sem autorização.

Ao invés de lançar uma versão alternativa, a Verve Records, subsidiária da Interscope Geffen A&M, simplesmente cancelou a distribuição do álbum por dois meses, até que a situação se resolvesse nos tribunais. Somente as cópias que já estavam no mercado ganharam uma “versão”, com um adesivo em cima da foto. E quando o trabalho voltou a chegar em novos mercados, “Sgt. Pepper’s…”, dos Beatles, já havia sido lançado.

Outra explicação para o fiasco é o próprio material do disco. As músicas tratavam de temas controversos e eram experimentais em sua estrutura melódica. O registro foi banido de algumas rádios, enquanto que, em outras, sequer despertou o interesse.

No fim das contas, somente 30 mil cópias de “The Velvet Underground & Nico” foram vendidas na época. O número fez com que Brian Eno desse uma declaração que se tornou icônica com o tempo: “cada um que comprou uma dessas 30 mil cópias acabou dando início a uma banda”.

Stooges – “Raw Power” (1973)

O terceiro disco dos Stooges é considerado um de seus melhores trabalhos. “Raw Power” foi lançado pela poderosa Columbia Records, teve a produção de David Bowie e contava com diversos ingredientes para sacramentar a explosão dos Stooges, mas isto não aconteceu.

Os primeiros discos dos Stooges, lançados pela Elektra, já não vinham de bom histórico comercial. Apesar disso, a banda, considerada uma das pioneiras do punk, seguia como uma das grandes apostas do mercado fonográfico, já que faziam muito sucesso no underground americano.

Mas não engrenou. “Raw Power” obteve uma modesta 182ª posição nas paradas americanas, apesar de ter conquistado uma repercussão melhor no Reino Unido. O insucesso aliado aos problemas que os integrantes tinham com álcool e drogas fizeram com que eles fossem demitidos da Columbia e encerrassem suas atividades em 1974.

Apesar de tudo isso, “Raw Power” é citado como o disco favorito de diversos nomes do rock em vários segmentos, seja do punk, do alternativo ou até mesmo do hard rock.

New York Dolls – “New York Dolls” (1973)

Os New York Dolls, assim como os Stooges, eram promissores. E, em 1973, ainda estavam para lançar seu primeiro disco de estúdio, autointitulado, com a produção de Todd Rundgren.

A banda de Nova York tocava em seu território com frequência e conquistava fãs com facilidade. Os shows eram sempre lotados e a experiência proporcionada pelas apresentações, ao menos segundo relatos da época, era boa.

A Mercury Records ofereceu um contrato de US$ 25 mil para que a banda lançasse dois discos. Esperava-se o sucesso já no primeiro, mas não aconteceu. O álbum, autointitulado, fracassou em vendas, apesar de ter conquistado a crítica especializada na época.

Estima-se que, na época, o debut do New York Dolls tenha vendido cerca de 100 mil cópias. Mesmo nos dias de hoje, não parece ter passado das 500 mil. O trabalho seguinte, “Too Much Too Soon”, também foi um fiasco em termos comerciais.

Por outro lado, os New York Dolls tiveram grande importância no punk, que explodiria nos anos seguintes. O visual glam trabalhado pelo grupo também exerceu influência no hard rock oitentista.

Ramones – “Ramones” (1976)

É justo dizer que, diferente dos outros álbuns dessa lista, o disco de estreia dos Ramones acabou lançado por um selo praticamente independente. A Sire Records era uma gravadora de sucesso que havia começado a trabalhar de forma independente na década de 1970. A empresa distribuiu o disco nos Estados Unidos e no Reino Unido, enquanto a Philips se responsabilizou pelo restante da Europa.

Ainda assim, esperava-se que o álbum de estreia dos Ramones obtivesse maior sucesso comercial. Em termos de influência, não se discute: é um dos discos mais importantes do punk rock. Mas as vendas decepcionaram.

Após o seu lançamento, o disco conquistou uma tímida 111ª posição nos charts da Billboard e só conseguiu disco de ouro nos Estados Unidos em 2014. No Reino Unido, outro mercado em potencial, nem chegou a entrar nas paradas.

Os Ramones continuaram imbatíveis no underground, mas nunca conseguiram um verdadeiro hit comercial. Nem mesmo o disco “End Of The Century” (1980), que amaciou a sonoridade, conseguiu o resultado esperado.

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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