Quando Vinnie Vincent foi chutado da própria banda, o Invasion

Guitarrista não era unanimidade em sua própria banda e teria sido alvo de artimanha para que colegas aproveitassem seu contrato para outro projeto

Vinnie Vincent se tornou famoso por ter integrado o Kiss entre os anos de 1982 e 1984. Apesar de ter sido um dos responsáveis por fazer o grupo renascer em termos criativos, com os álbuns ‘Creatures of the Night’ e ‘Lick it Up’, o guitarrista criou bastante problema em sua rápida passagem pela formação. Acabou saindo e criou sua própria banda, o Vinnie Vincent Invasion.

Nâo foi de imediato. Em seus primeiros meses fora do Kiss, Vincent preferiu se ausentar do mercado musical e viajou para vários países da Europa e Ásia. De volta aos Estados Unidos, ainda em 1984, ele retomou os trabalhos e fundou o projeto próprio, onde seria o chefe.

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O primeiro convocado para a formação foi o baixista Dana Strum, que trabalhava como músico e uma espécie de “olheiro” de talentos em Los Angeles. Foi ele, inclusive, o responsável por indicar os guitarristas Randy Rhoads e Jake E. Lee para a banda de Ozzy Osbourne. Strum trouxe com ele o baterista Bobby Rock, também conhecido no cenário local.

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Faltava um vocalista. Vinnie, então, recrutou Robert Fleischmann, que teve uma passagem rápida pelo Journey antes da chegada de Steve Perry. Com a banda formada, a fama de Vincent e a reputação nos bastidores de Dana Strum, não foi difícil conseguir um contrato com uma gravadora: a Chrysalis assinou com o grupo, que lançou seu primeiro álbum em 1986.

Vinnie Vincent Invasion em rara foto com Robert Fleischmann, que saiu logo após o lançamento do primeiro álbum

Fleischmann acabou dando lugar a Mark Slaughter após uma divergência contratual. O novo cantor aparece no clipe de ‘Boyz Are Gonna Rock’ emulando os vocais de seu antecessor, mas tudo bem: eram os anos 80, então, bizarrices como essa acabavam passando. Efetivado, Mark também acompanhou a banda na turnê de divulgação.

Vale destacar que nesse meio-tempo, o vocalista sueco Göran Edman, que fez fama ao lado de Yngwie Malmsteen, chegou a ser testado para entrar na banda e gravar algumas demos, mas não foi efetivado. “Eu fiquei encucado com o fato de ele não conseguir pronunciar o nome de Vinnie”, relembra Dana Strum, em entrevista ao Metal-Rules, sobre a quase-entrada de Edman. “Ficava pensando em quando saíssemos em turnê e ele apresentasse ‘Winnie Wincent’. Nessa época, também conheci Mark, que era um garoto bem ansioso, e apostei nele. Vinnie queria muito Göran, mas eu fui o responsável por ele não entrar”, completou.

O fim do Vinnie Vincnt Invasion

O Vinnie Vincent Invasion ainda lançou um segundo álbum, ‘All Systems Go’ (1988), e fez turnês, inclusive abrindo para Alice Cooper e Iron Maiden, antes dos conflitos se acentuarem. Naquele ano, Vincent e Dana Strum brigaram feio e o baixista não apenas saiu da banda, como levou o vocalista e até mesmo o contrato – Dana e Mark formaram outra banda, o Slaughter, trabalhando novamente com a Chrysalis.

Ao Metal-Rules, Dana Strum relembra que o momento em que rompeu a parceria com Vinnie Vincent foi “feio”. “Estávamos no camarim e não lembro o que aconteceu. Eu não bebia muito, mas fiquei raivoso. Apenas mandei ele se f*der e saí fora. […] Ele olhou para mim já sabendo que tudo estava acabado. Porém, eu falei que eu tocaria até ele encontrar um substituto. Isso nunca aconteceu e eu fiquei tocando até um show em Anaheim. Naquele dia, peguei minhas coisas, bati a porta do carro e fui embora. Sair daquela estupidez foi o melhor dia da minha vida”, afirmou.

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Dessa forma, o Vinnie Vincent Invasion chegou ao fim. A história passa a impressão de que Vinnie Vincent foi demitido de sua própria banda, especialmente por ter perdido o contrato com a gravadora. Dana Strum nega que tenha “roubado” o acordo, orçado em US$ 4 milhões, ao supostamente transferi-lo para o Slaughter. Porém, é fato que os dois primeiros álbuns da nova banda saíram pela mesma gravadora à qual o Invasion pertencia.

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Vale destacar que Vincent se tornou um sujeito extremamente recluso a partir dos anos 90. No início daquela década, gravou um álbum que nunca foi lançado, intitulado ‘Guitars From Hell’, com Robert Flischmann nos vocais. O cantor também participou do EP ‘Euphoria’, este divulgado de forma oficial em 1996. E só. Sumiu do mundo.

O guitarrista chegou a reaparecer em 2011 de uma forma que não esperava: foi preso sob acusação de agredir a esposa e, na época, policiais encontraram cães mortos em um contêiner na residência do casal. Pagou fiança e respondeu em liberdade. Em 2018, chamou atenção ao participar de alguns eventos relacionados ao Kiss, dividiu palco (sem tocar) com Gene Simmons, mas não passou disso. Nada de música nova vindo do misterioso Vinnie Vincent.

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Enquanto isso, o Slaughter fez bastante sucesso com seu primeiro álbum, ‘Stick It To Ya’ (1990), e conseguiu boa repercussão com o segundo, ‘The Wild Life’ (1992). Os trabalhos seguintes não obtiveram o mesmo reconhecimento. O guitarrista do grupo, Tim Kelly, morreu em um acidente de carro em 1998. Foi substituído por Jeff Blando, que gravou o disco mais recente da banda, ‘Back to Reality’ – lançado em 1999, há mais de duas décadas.

A música a seguir, ‘Burning Bridges’, foi composta pelo Slaughter como um recado a Vinnie Vincent. Ouça:

Invasion, Slaughter e Chrysalis

Em entrevista ao podcast Decibel Geek, o vocalista Mark Slaughter relembra que o vínculo de sua banda com a Chrysalis só teve início porque já existia um acordo que ele assinou ao deixar o Invasion. “Tanto eu quanto Dana e Bobby assinamos um acordo onde mesmo saindo da banda, tínhamos que gravar quatro músicas para eles ainda naquele ano. Fizemos isso na virada para 1989, mas com Blas Elias na vaga de Bobby. ‘Fly to the Angels’ é uma dessas músicas. Demos as gravações ao empresário do Kansas, Bud Carr, e a gravadora quis nos contratar. Eles já tinham rompido com Vinnie por conta de outros desentendimentos”, afirmou.

O cantor relata que era muito difícil trabalhar com o guitarrista. “Vinnie se recusava a fazer entrevistas em rádios. Ele dizia: ‘Tem elevador? Não vou subir de escada’. Não sei por que, mas eu subia essas escadas, fiz a entrevista. Conheci muitas pessoas e cumpria esse tipo de agenda que artistas consolidados sempre fizeram. Chegou em um ponto onde Vinnie me abordou com o empresário dele e perguntou se eu iria ficar com ele ou com Dana. Eu preferia estar na sarjeta com Dana”, disse.

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All Systems Go foi um erro?

Em uma de suas reaparições em eventos relacionados ao Kiss, em 2018, Vinnie Vincent disse que o segundo álbum do Invasion, ‘All Systems Go’, foi um “erro” e “nunca deveria ter existido”. “Rob deveria ter ficado no projeto. O som básico daquele disco era como (Jimmy) Page e (Robert) Plant – era Rob e eu. O primeiro disco foi ótimo. Era minha visão, Rob cantando, tudo foi bem. A segunda versão disso nunca deveria ter acontecido. Eu tinha o poder, deveria tê-lo tomado”, afirmou.

O músico disse, ainda, que a situação só se prolongou por questões comerciais. “As pessoas envolvidas não deveriam ter se envolvido, mas havia uma máquina publicitária… como um produto. Tinha a ver apenas com publicidade e tendência. As músicas eram realmente boas, mas as gravações não saíram como eu teria feito. Nunca deveria ter lançado gravações assim. Quando digo gravações: o primeiro disco, sim; o segundo, não; e aquele cantor (Mark Slaughter) era insuportável”, pontuou.

Sem citar nomes, mas com referências claras, o guitarrista chegou a declarar que Mark Slaughter “não sabe cantar” e reduziu o nível de sua música a “pior do que uma banda local de bar”. “Tentei manter Rob, pois dizia: ‘não há como esse outro cara, que não consegue cantar, que reduziu minha música a um nível pior do que uma banda local de bar, estar em minha criação’. E a Chrysalis mudou a direção e queriam render grana rápida com o jovem garoto, que apelava para as adolescentes […] Eles disseram que queriam uma grana rápida. E eu disse que ou manteriam minha criação com Rob, ou eu sairia”, afirmou.

Vincent comentou que ficou “preso” por questões contratuais. “Eles disseram que eu devia mais dois discos (após o primeiro ter sido lançado) e que eu faria a turnê, não poderia acabar ali, porque a máquina estava movendo. Então, eu tinha empresários que não olhavam para o Vinnie, olhavam para si”, declarou.

O guitarrista ainda disse que a mágica do Vinnie Vincent Invasion acabou com ‘All Systems Go’. “Com o primeiro disco, todas as revistas de rock diziam que era o melhor em muito tempo. Ele era diferente. Na época, as bandas soavam como Judas Priest ou como Poison. As rádios piraram. Vendeu muito e de forma rápida. Assim que esse indivíduo sem talento apareceu, tudo acabou. Então, gravamos o clipe de ‘Boyz Are Gonna Rock’ com alguém falso, era como fake news […] Uma coisa levou à outra e só piorou. Fiz o segundo disco e tive aquelas ótimas músicas que deveriam soar como o primeiro disco. Segue o mesmo som, a mesma paixão, a mesma intensidade, o mesmo poder, e isso não estava lá”, afirmou.

Na época dessas declarações, Mark Slaughter chegou a rebater as falas de que ele não teria talento. “Há uma diferença, chamada de ‘estrada’. Ainda estou fazendo música. A estrada está aqui. Vá fazer música. Ele fez ótimas músicas, mas desde que saímos em 1988, não houve música nova. Ele pode falar tudo que quiser de negativo sobre mim, mas é onde estamos. Amo minha origem, amo quem excursionou comigo e amo os fãs que conhecemos, seja com o Vinnie Vincent Invasion ou com o Slaughter. Somos gratos. E é isso”, afirmou.

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Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

1 COMENTÁRIO

  1. Matéria bem completa, parabéns. Acho Vinnie Vicent um guitarrista virtuoso, mas parecia ser muito orgulhoso, e o orgulho precede a queda. Ele foi um dos poucos instrumentistas que sabiam tocar que passou pelo KISS. A formação original do KISS é composta somente por instrumentistas medíocres, sendo o Gene Simmons o pior de todos de longe. Eric Car e Vinnie Vicent foram os melhores que passou pelo KISS, sem dúvidas.

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