O Green Day divulgou, nesta sexta-feira (7), seu 13° álbum de estúdio. O disco, intitulado “Father of All Motherfuckers” – ou “Father of All…”, na versão censurada -, chega a público por meio da Reprise Records.
Em seu novo álbum, o Green Day afirma, em material de divulgação bastante prolixo, ser influenciado por “soul, Motown, glam e hinos maníacos”. As letras abordam “a vida E a morte da festa” e “o estilo de vida de não dar a mínima”.
Com 10 músicas de durações curtas, “Father of All…” totaliza apenas 26 minutos de tracklist. Trata-se do disco de menor tempo de rodagem da carreira do grupo, superando até o trabalho de estreia, “39/Smooth” (1990), e seus 31 minutos.
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Em entrevistas, a banda explica que reduziu a duração das músicas e trabalhou em um formato mais radiofônico devido aos padrões atuais da música, consumida no streaming de forma imediatista. Há quem especule que também seja uma forma do grupo protestar contra a Warner, gravadora que está lançando “Father of All…” como o último do contrato, o que deixa a situação ainda mais curiosa.
Ouça o álbum a seguir, via Spotify ou YouTube (playlist):
Resenha: Green Day está intrigante em Father of All…
A essa altura do campeonato, fica difícil esperar algo do Green Day. A banda se reinventou e mostrou que ainda tinha algo a dizer em “American Idiot” (2004), mas se perdeu e ficou pretensiosa nos últimos trabalhos – chegando ao ponto de lançar três discos como se fossem um só.
Por esse e outros elementos, “Father of All…” é um trabalho, no mínimo, intrigante. Aqui, o Green Day abandona todo o preciosismo dos registros mais recentes e volta a fazer uma sonoridade que remete um pouco aos primeiros álbuns da discografia, lá no início dos anos 1990.
Porém, cuidado: remete apenas um pouco. Ainda soa esquisitão como o Green Day atual, com direito ao frontman Billie Joe Armstrong abusando de vocais agudos com efeitos, mas traz um pouco da essência dos velhos tempos. E essa solidez, curiosamente, parece vir da boa cozinha de Mike Dirnt (baixo) e Tré Cool (bateria), além dos momentos menos experimentais do líder da banda.
A faixa título abre como um proto-punk retrô, com palminhas, refrão grudento e vocal quase desfigurado pelos já citados efeitos. “Fire, Ready, Aim”, em seguida, descamba para o pop rock, com repetição de clichês nos backing vocals.
O material começa a evoluir nas músicas seguintes. De letra ácida, a divertida “Oh Yeah!” traz um sample de “Do You Wanna Touch Me (Oh Yeah)”, versão de Joan Jett para a música “Do You Wanna Touch Me?”, de Gary Glitter. A banda explica que sampleou o cover para não dar royalties a Glitter, preso por abusar sexualmente de três meninas e suspeito de outros casos de pedofilia. Os direitos autorais serão doados a ONGs.
“Meet Me on the Roof” resgata ainda mais o Green Day dos velhos tempos, com aquele groove característico – ainda que o vocal agudo de Billie Joe Armstrong incomode. “I Was a Teenage Teenager” preserva a mesma essência, seja pelas letras ou pela performance de Billie Joe, já cantando de forma “normal”. “Stab You in the Heart”, por sua vez, é um punkabilly ardido que não impressiona, mas diverte.
A caída “Junkies on a High” e a repetitiva “Take the Money and Crawl” são dispensáveis, mas a conclusão com “Graffitia” retoma os momentos empolgantes do álbum. Cadenciada, a faixa é construída na pegada “hino do rock” e ainda surpreende com uma queda rítmica na segunda metade.
Não dá para saber até que ponto o Green Day está “sério” em “Father of All…” e algumas respostas podem chegar apenas com semanas a mais de avaliação do material, porém, o resultado não só intriga, como, também, diverte. O disco tem seus momentos dispensáveis, mas o contexto geral agrada e ainda provoca o ouvinte a conferir o álbum de novo. Talvez o streaming não seja tão maléfico assim.
Veja a capa e a tracklist de “Father of All…”:
1. Father of All…
2. Fire, Ready, Aim
3. Oh Yeah!
4. Meet Me on the Roof
5. I Was a Teenage Teenager
6. Stab You in the Heart
7. Sugar Youth
8. Junkies on a High
9. Take the Money and Crawl
10. Graffitia