The Works, o álbum que uniu o melhor dos dois mundos do Queen há 35 anos

Queen – “The Works”
Lançado em 27 de fevereiro de 1984

O início dos anos 1980 representou enorme desgaste para o Queen. Os feitos entre 1980 e 1981 foram invejáveis – emplacando “Another One Bites The Dust” e “Crazy Little Thing Called Love”, o álbum “The Game” (1980) e foi o único da banda a atingir o 1° lugar das paradas dos Estados Unidos –, mas a protocolar trilha sonora “Flash Gordon” (1980) e o decepcionante “Hot Space” (1982), com flertes desconexos à música disco e ao R&B, colocaram o quarteto britânico em crise.

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As relações pessoais entre os integrantes já não eram das melhores, especialmente devido ao envolvimento do assessor pessoal do vocalista Freddie Mercury, Paul Prenter, nas atividades do Queen. O guitarrista Brian May e o baterista Roger Taylor dizem em entrevistas que Prenter, que trabalhou para Mercury entre 1980 e 1984, desdenhava da influência de veículos midiáticos para promover o grupo, além de ter isolado o cantor, o impedindo de ter contato com fãs. Não à toa, os dois músicos retrataram o funcionário do frontman como uma espécie de vilão na cinebiografia “Bohemian Rhapsody”.

Com tantos problemas internos, o Queen tirou uma folga, algo que nunca havia sido feito em 10 anos, durante parte de 1983. Brian May trabalhou no projeto Star Fleet Project, ao lado de Eddie Van Halen e outros nomes, enquanto Roger Taylor e Freddie Mercury trabalharam em álbuns solo – “Strange Frontier” e “Mr. Bad Guy”, respectivamente. O quarteto se reuniu somente no mês de agosto para trabalhar no álbum que viria a ser “The Works”, lançado em 27 de fevereiro de 1984.

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Os méritos de The Works

Em suma, “The Works” é o trabalho que “Hot Space” deveria ter sido. O álbum de 1984, 11° da discografia, agrega as novas influências sonoras que Freddie Mercury e o baixista John Deacon queriam trazer antes, como a pegada discoteca e as pitadas de funk/R&B, mas sem deixar de lado a essência roqueira que havia consagrado o grupo no passado e era tão defendida por Brian May e Roger Taylor.

A proposta se mostrou melhor definida logo na primeira música de “The Works”, que é “Radio Ga Ga”. A composição de Roger Taylor reúne o melhor dos dois mundos – o rock e as outras influências – com maestria. “I Want To Break Free”, com autoria de John Deacon, virou um clássico tanto pela melodia envolvente quanto pelo icônico videoclipe, em que os músicos aparecem vestidos de mulher.

Também merecem ser destacadas a balada “It’s A Hard Life”, com show a parte de Freddie Mercury; a hard e imponente “Hammer To Fall”; e a bem trabalhada “Keep Passing The Open Windows”, cheia de momentos que lembram o Queen dos primórdios. A rockabilly “Man On The Prowl” falha ao tentar repetir “Crazy Little Thing Called Love”, mas não compromete. E a lentinha “Is This The World We Created…?” é bem reflexiva, só que, por algum motivo, não soa tão poderosa no álbum quanto nas reproduções ao vivo.

Apenas duas faixas parecem derrapar em “The Works”: a forçada “Machines”, toda guiada por sintetizadores desnecessários, e “Tear It Up”, que até promete empolgar ao usar a guitarra de Brian May como fio condutor, mas soa como “mais do mesmo”. No entanto, a audição não se compromete com esses dois momentos.

Período “exótico”

A repercussão de “The Works” foi boa, porém, marcou um momento curioso na carreira do Queen por ter feito muito sucesso em todos os lugares do mundo, exceto nos Estados Unidos, principal mercado fonográfico do planeta. A relação da banda com o território americano, que já vinha fraca, se deteriorou de vez nessa ocasião.

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Após as vendas modestas de “Hot Space” no país, em contraponto ao relativo sucesso feito no restante do globo, o clipe de “I Want To Break Free” serviu para sepultar a banda de vez nos Estados Unidos. “Perdemos o contato com os Estados Unidos. Nosso vídeo de ‘I Want To Break Free’ foi mal interpretado, por estarmos vestidos como mulheres. Eles não acharam isso engraçado, mas hoje o Foo Fighters faz isso, como no clipe de ‘Learn To Fly’, e todos morrem de rir. Na época, o vídeo foi um sucesso na Europa e na Austrália, mas na América foi a nossa ruína”, afirmou Brian May, em entrevista à Rolling Stone.

Os Estados Unidos também passavam por uma crise de identidade com sua própria cultura pop naquele período: na época, havia sido criado o Parents Music Resource Center (PMRC), comitê que aumentou o controle dos pais sober o acesso de crianças e adolescentes a músicas de conteúdo tido como “questionável”. Álbuns considerados “subversivos” recebiam um selo da PMRC, indicando o teor do material. “The Works” não foi agraciado com o adesivo, mas o momento não era bom para quem tentava fazer algo diferente.

E o que fazer?

Quem não tem cão, caça com Delilah (a gata de estimação de Freddie Mercury): o próprio Queen abdicou dos Estados Unidos após tantos problemas e, pela primeira vez em sua carreira, não fez turnê no país para promover o álbum. Sendo assim, outros mercados foram explorados, como África, Oceania, Ásia e até América do Sul, com shows históricos no Rock in Rio de 1985.

Consequentemente, “The Works” obteve apenas um modesto 23° lugar nas paradas americanas e não emplacou nenhum single de verdade, já que não havia turnê para suporte. Porém, o disco conquistou a segunda posição no Reino Unido, conquistando certificação de platina tripla por lá, e foi bem em vários outros países da Europa. A histórica performance no Live Aid em 1985, transmitida pela TV para 1,5 bilhão de pessoas, ajudou ainda mais a promover o grupo em seu novo momento.

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No fim das contas, “The Works” ajudou a formatar um “novo Queen”, que poderia ter sido ainda mais prolífico se Freddie Mercury não tivesse ficado doente, já naquela época, após contrair o vírus da Aids. A fórmula encontrada no álbum era tão interessante que foi explorada – e até desgastada – nos dois lançamentos seguintes, “A Kind Of Magic” (1986) e “The Miracle” (1989). O 11° trabalho de estúdio do Queen tem suas derrapadas e não está, exatamente, entre os melhores da carreira da banda, mas merece certo destaque na discografia.

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Freddie Mercury (vocal, piano, teclados, guitarra adicional)
Brian May (guitarra, violão)
John Deacon (baixo, violão, guitarra adicional, teclados)
Roger Taylor (bateria, teclados, bateria eletrônica)

Músico adicional:
Fred Mandel (piano em 4, teclados, sintetizadores)

01. Radio Ga Ga
02. Tear It Up
03. It’s A Hard Life
04. Man On The Prowl
05. Machines (Back To Humans)
06. I Want To Break Free
07. Keep Passing The Open Windows
08. Hammer To Fall
09. Is This The World We Created…?

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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