Novo disco de Slash, ‘Living The Dream’ é pouco inspirado e mal produzido

Slash – ‘Living The Dream’ [2018]

Slash é, inegavelmente, um dos maiores guitarristas da história do rock. Ao mesmo tempo, porém, o músico é dono de uma discografia bem irregular.

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Com o Guns N’ Roses, apesar dos clássicos “Appetite For Destruction” (1987) e “Use Your Illusion I / II” (1991), houve momentos em que, por falta de inspiração ou conflitos internos, foi necessário lançar trabalhos como o tapa-buraco “GN’R Lies” (1988) e o álbum de covers “The Spaghetti Incident?!” (1993). Os projetos posteriores, Slash’s Snakepit e Velvet Revolver, sofreram da “maldição do segundo disco”. Até suas participações em músicas de outros artistas são, por vezes, questionáveis.

Parecia que a carreira solo de Slash, compartilhada com o vocalista Myles Kennedy e a banda The Conspirators (formada por Todd Kerns no baixo, Brent Fitz na bateria e Frank Sidoris na guitarra rítmica), não seria atingida pela inconsistência de outros momentos de sua discografia – apesar de “World On Fire” (2015) deixar a desejar. Infelizmente, não foi o que aconteceu: “Living The Dream”, álbum mais recente do projeto, não atingiu o patamar dos trabalhos anteriores e remete aos momentos menos inspirados da trajetória de Saul Hudson.

A falta de inspiração parece, mesmo, ser o principal problema de “Living The Dream”, porque não é um disco ruim – só é bastante protocolar e burocrático. As fórmulas dos álbuns anteriores são utilizadas à exaustão, mas sem o mesmo sucesso. As construções rítmicas e melódicas de outros momentos se repetem muito e nem mesmo Slash, que costuma ser implacável em seus solos, não conseguiu costurar fraseados de impacto por aqui.

– Leia: Slash fala sobre novo disco e revela que título tem duplo sentido político

Em comparação a outros discos, a única diferença notável – e, até certo ponto, positiva – está na forma que Myles Kennedy trabalhou seus vocais. Em “Living The Dream”, ele preferiu explorar mais os registros graves, o que deixou algumas músicas menos enjoativas do que poderiam ficar. Em algumas canções, como “My Antidote”, os gritos fizeram falta, mas a opção “salvou” outras faixas.

Outro ponto negativo de “Living The Dream” está em sua sonoridade – ou seja, na produção, assinada por Michael “Elvis” Baskette. Em recente entrevista, Slash contou que preferiu gravar o disco de forma digital em vez dos tradicionais recursos analógicos. O motivo, segundo ele, foi meramente financeiro. “Finalmente me permiti fazer isso digitalmente, porque se usa menos equipamentos, gasta-se menos tempo e reduz-se muitas coisas”, disse.

– Leia: Novo disco de Slash não tem muitas ‘jornadas épicas’, diz Myles Kennedy

Usar recursos digitais não é, por si só, um problema. A maior parte de bandas e artistas em atividade nos dias de hoje faz uso de tais ferramentas, já que estúdios com equipamento analógico são, mesmo, inviáveis. Aqui, o problema parece ser de mau uso: as guitarras soam magras, o baixo mal aparece e a bateria teve péssima timbragem, já que a caixa soa quase como bumbo. A ausência de peso e consistência no instrumental prejudicou diversas músicas, como a abertura “The Call Of The Wild”, “The Great Pretender” – que chega a soar amadora – e a já citada “My Antidote”.

Mesmo com todos esses problemas, há bons momentos em “Living The Dream”. Os dois primeiros singles do álbum, “Mind Your Manners” e “Driving Rain”, são excelentes. “Boulevard Of Broken Hearts” é uma das poucas canções em que se apresenta algo de diferente. Já citadas, “The Call Of The Wild” e “My Antidote” são boas, mas poderiam impressionar se ganhassem uma dose de peso e precisão instrumental.

Por outro lado, há faixas dispensáveis no álbum. “Serve You Right”, por exemplo, é muito repetitiva. Também mencionada anteriormente, “The Great Pretender” é atrapalhada pela produção, mas soa equivocada em sua essência. Já “Lost Inside The Girl”, apesar de seu riff que remete ao Slash’s Snakepit, tem um refrão capaz de te fazer perder a paciência. E os fillers preocupam: músicas como “Read Between The Lines” e “Slow Grind” não desagradam, mas são esquecíveis.

– Leia: Slash admite que letras do Guns N’ Roses são ‘meio sexistas’

Seguirei tentando entender por que Slash lançou “Living The Dream”. Seja em termos artísticos ou de produção, a impressão é que o álbum foi concluído às pressas, tendo em vista as agendas apertadas do guitarrista, que voltou ao Guns N’ Roses em 2016, e de Myles Kennedy, que também tem o Alter Bridge e sua carreira solo. Admiro artistas que se mantenham produtivos, especialmente na parte criativa, mas “Living The Dream” pode ser facilmente definido como “desnecessário”.

Slash, A7X, Cornell e mais: os novos discos e músicas de rock e metal de hoje

Slash (guitarra)
Myles Kennedy (vocal, guitarra)
Frank Sidoris (guitarra)
Todd Kerns (baixo)
Brent Fitz (bateria)

01. The Call Of The Wild
02. Serve You Right
03. My Antidote
04. Mind Your Manners
05. Lost Inside The Girl
06. Read Between The Lines
07. Slow Grind
08. The One You Loved Is Gone
09. Driving Rain
10. Sugar Cane
11. The Great Pretender
12. Boulevard Of Broken Hearts

* Siga IgorMiranda.com.br no InstagramFacebook e Twitter.

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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Com o Guns N’ Roses, apesar dos clássicos “Appetite For Destruction” (1987) e “Use Your Illusion I / II” (1991), houve momentos em que, por falta de inspiração ou conflitos internos, foi necessário lançar trabalhos como o tapa-buraco “GN’R Lies” (1988) e o álbum de covers “The Spaghetti Incident?!” (1993). Os projetos posteriores, Slash’s Snakepit e Velvet Revolver, sofreram da “maldição do segundo disco”. Até suas participações em músicas de outros artistas são, por vezes, questionáveis.

Parecia que a carreira solo de Slash, compartilhada com o vocalista Myles Kennedy e a banda The Conspirators (formada por Todd Kerns no baixo, Brent Fitz na bateria e Frank Sidoris na guitarra rítmica), não seria atingida pela inconsistência de outros momentos de sua discografia – apesar de “World On Fire” (2015) deixar a desejar. Infelizmente, não foi o que aconteceu: “Living The Dream”, álbum mais recente do projeto, não atingiu o patamar dos trabalhos anteriores e remete aos momentos menos inspirados da trajetória de Saul Hudson.

A falta de inspiração parece, mesmo, ser o principal problema de “Living The Dream”, porque não é um disco ruim – só é bastante protocolar e burocrático. As fórmulas dos álbuns anteriores são utilizadas à exaustão, mas sem o mesmo sucesso. As construções rítmicas e melódicas de outros momentos se repetem muito e nem mesmo Slash, que costuma ser implacável em seus solos, não conseguiu costurar fraseados de impacto por aqui.

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Em comparação a outros discos, a única diferença notável – e, até certo ponto, positiva – está na forma que Myles Kennedy trabalhou seus vocais. Em “Living The Dream”, ele preferiu explorar mais os registros graves, o que deixou algumas músicas menos enjoativas do que poderiam ficar. Em algumas canções, como “My Antidote”, os gritos fizeram falta, mas a opção “salvou” outras faixas.

Outro ponto negativo de “Living The Dream” está em sua sonoridade – ou seja, na produção, assinada por Michael “Elvis” Baskette. Em recente entrevista, Slash contou que preferiu gravar o disco de forma digital em vez dos tradicionais recursos analógicos. O motivo, segundo ele, foi meramente financeiro. “Finalmente me permiti fazer isso digitalmente, porque se usa menos equipamentos, gasta-se menos tempo e reduz-se muitas coisas”, disse.

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Usar recursos digitais não é, por si só, um problema. A maior parte de bandas e artistas em atividade nos dias de hoje faz uso de tais ferramentas, já que estúdios com equipamento analógico são, mesmo, inviáveis. Aqui, o problema parece ser de mau uso: as guitarras soam magras, o baixo mal aparece e a bateria teve péssima timbragem, já que a caixa soa quase como bumbo. A ausência de peso e consistência no instrumental prejudicou diversas músicas, como a abertura “The Call Of The Wild”, “The Great Pretender” – que chega a soar amadora – e a já citada “My Antidote”.

Mesmo com todos esses problemas, há bons momentos em “Living The Dream”. Os dois primeiros singles do álbum, “Mind Your Manners” e “Driving Rain”, são excelentes. “Boulevard Of Broken Hearts” é uma das poucas canções em que se apresenta algo de diferente. Já citadas, “The Call Of The Wild” e “My Antidote” são boas, mas poderiam impressionar se ganhassem uma dose de peso e precisão instrumental.

Por outro lado, há faixas dispensáveis no álbum. “Serve You Right”, por exemplo, é muito repetitiva. Também mencionada anteriormente, “The Great Pretender” é atrapalhada pela produção, mas soa equivocada em sua essência. Já “Lost Inside The Girl”, apesar de seu riff que remete ao Slash’s Snakepit, tem um refrão capaz de te fazer perder a paciência. E os fillers preocupam: músicas como “Read Between The Lines” e “Slow Grind” não desagradam, mas são esquecíveis.

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Seguirei tentando entender por que Slash lançou “Living The Dream”. Seja em termos artísticos ou de produção, a impressão é que o álbum foi concluído às pressas, tendo em vista as agendas apertadas do guitarrista, que voltou ao Guns N’ Roses em 2016, e de Myles Kennedy, que também tem o Alter Bridge e sua carreira solo. Admiro artistas que se mantenham produtivos, especialmente na parte criativa, mas “Living The Dream” pode ser facilmente definido como “desnecessário”.

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Slash (guitarra)
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