Resenha: ‘Firepower’ traz Judas Priest renovado, pesado e com qualidade

Resenha: Judas Priest – ‘Firepower’ (2018)

Admito: nunca fui grande fã de Judas Priest. Poderia selecionar apenas alguns de discos da extensa discografia da banda – 18 álbuns no total – como grandes destaques, como os clássicos “British Steel” (1980) e “Screaming For Vengeance” (1982), os pesados “Painkiller” (1990) e “Jugulator” (1997) e os registros iniciais “Sad Wings of Destiny” (1976) e “Stained Class” (1978). Não significa, de forma alguma, que seja uma banda ruim: apenas não sou admirador de carteirinha.

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Dito isso, já posso destacar que “Firepower” entra para a galeria dos meus discos preferidos do Judas Priest. É, ainda, o melhor trabalho lançado pela banda neste século. “Demolition” (2001), ainda com Tim “Ripper” Owens, não tem fôlego; “Angel of Retribution” (2005), que marca o retorno de Rob Halford, não mostra a que veio; “Nostradamus” (2008), exagera no épico e é cansativo; e “Redeemer of Souls” (2014) soa como um registro de banda de garagem – até os membros do Priest já revelaram, pelas entrelinhas, que não gostaram de como o disco soou.

Demorou um bom tempo para o Judas Priest voltar a acertar a mão. Todavia, antes tarde do que nunca: “Firepower” é um registro de qualidade e mostra não só uma banda pouco disposta a se aposentar, como, também, um grupo que está buscando atualizar sua sonoridade sem esquecer de sua história.

A faixa título, que abre o disco, é, sem exageros, uma das melhores da carreira do Judas Priest. O adjetivo “feroz” é perfeito para descrevê-la, pois é pesada e veloz além da conta. As bases de guitarra bem construídas por Glenn Tipton e Richie Faulkner e a bateria intensa de Scott Travis são os destaques. “Lightning Strike”, primeiro single do álbum, chega na sequência e agrada, embora tenha um andamento um pouco mais burocrático.

Em seguida, “Evil Never Dies” chama a atenção por sua boa letra e pelo bom solo de guitarra. A melódica “Never The Heroes” é o primeiro momento de cadência do álbum, colocando o timbre de voz natural de Rob Halford na linha de frente. “Necromancer” passa um pouco despercebida, enquanto “Children Of The Sun” retoma a cadência de uma forma mais pulsante. O peso da cozinha, formada por Travis e pelo baixista Ian Hill, é uma verdadeira aula para quem quer praticar heavy metal bem tocado.

Tocada no piano, a vinheta “Guardians” anuncia uma das melhores músicas do álbum: “Rising From Ruins”. Muito melódica, a faixa tem passagens que grudam na cabeça. “Flame Thrower”, outro destaque do álbum, é quase hard rock e conta com riffs incríveis e um groove que sai do lugar comum. Já “Spectre” aposta no heavy tradicional, de batida mais cadenciada. Halford chega a incorporar King Diamond no meio da canção.

A essência 80’s heavy metal aparece, de forma seguida em “Traitors Gate”, que coloca riffs de guitarra bem puristas na linha de frente e um refrão pra lá de obscuro, e na curta “No Surrender” é um hard n’ heavy de respeito. Já “Lone Wolf” – uma das melhores músicas do disco – impressiona por sua influência doom. “Sea Of Read” encerra o álbum de forma melódica e quase melancólica. Guiada somente por voz e violão em metade de sua duração, o destaque é Rob Halford e sua interpretação sempre sincera.

No geral, além de ser o melhor disco do Judas Priest em 20 anos, “Firepower” mostra que a banda não está disposta a repetir fórmulas – muitas delas, criadas pelo próprio grupo e repetidas por sucessores no heavy metal. Aqui, o Priest explora diversos momentos de sua carreira – o speed metal de “Painkiller”, o heavy clássico de “British Steel” e até o hard n’ heavy dos anos 1970 – e inclui até referências externas, como passagens típicas de doom metal e insights semelhantes aos de álbuns da carreira solo de Rob Halford.

As composições soam renovadas, a produção de Tom Allen e Andy Sneap – que será guitarrista da turnê de divulgação após o Mal de Parkinson de Glenn Tipton ter avançado – tem muitos méritos e a performance técnica de cada integrante, incluindo o mais jovem deles, Richie Faulkner, é digna de aplausos.

Com exceção de uma ou duas faixas, lá para o meio do disco, que não convenceram tanto e de algumas letras que poderiam ir além do ficcional, “Firepower” é consistente por completo. Tem cara de clássico. Quem gosta de heavy metal não pode deixar esse disco passar.

Nota 8,5

Rob Halford (vocal)
Glenn Tipton (guitarra)
Richie Faulkner (guitarra)
Ian Hill (baixo)
Scott Travis (bateria)

1. Firepower
2. Lightning Strike
3. Evil Never Dies
4. Never the Heroes
5. Necromancer
6. Children of the Sun
7. Guardians
8. Rising from Ruins
9. Flame Thrower
10. Spectre
11. Traitors Gate
12. No Surrender
13. Lone Wolf
14. Sea of Red

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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