Ozzy Osbourne contou com dois guitarristas distintos entre o falecimento de Randy Rhoads, em 19 de março de 1982, e a efetivação de Jake E. Lee, já em 1983. O primeiro foi Bernie Tormé (Gillan, Desperado), que integrou o grupo entre o fim de março e o início de abril de 1982. Depois, entrou Brad Gillis (Night Ranger), que ficou de abril a dezembro do mesmo ano.
O período em questão abrangeu duas turnês: a “Diary Of A Madman Tour” e a “Speak Of The Devil Tour”. A primeira ocorreu entre novembro e agosto de 1982 – ou seja, contou com as participações de Randy Rhoads, Bernie Tormé e Brad Gillis em diferentes datas. A segunda abrangeu o período entre dezembro de 1982 e maio de 1983 e, além de Gillis, contou com Jake E. Lee nas guitarras.
O período com Bernie Tormé
Bernie Tormé chegou para “apagar o incêndio”: precisava substituir Randy Rhoads o mais rápido possível. Apesar do falecimento do guitarrista, ainda existiam dezenas de datas da “Diary Of A Madman Tour” a serem cumpridas. Apenas oito shows, de 20 a 30 de março, foram cancelados. Foi o tempo que Ozzy Osbourne e seus músicos encontraram para ensaiar com Bernie e tentarem se recuperar emocionalmente para as apresentações.
Em recente entrevista ao Ultimate Classic Rock, Bernie Tormé relatou ter encontrado um cenário “horrível” ao encontrar Ozzy e seus músicos. “Cheguei em uma quinta-feira e Randy havia falecido no sábado anterior. Não havia passado uma semana. Ninguém falou comigo no dia em que cheguei, exceto Don Airey (tecladista). A atmosfera era terrível, com razão”, afirmou.
Bernie Tormé detalhou como cada músico se sentia com relação ao futuro da banda. “Suponho que, em algum nível, Tommy (Aldridge, baterista) e Don (Airey) queriam seguir em frente. Ozzy (Osbourne) não tinha o menor desejo nisto e Rudy (Sarzo, baixista), certamente, também não”, disse.
Depois de uma audição e três dias de ensaios, os músicos foram para o palco. E Bernie Tormé não se deu bem. O primeiro show de Bernie – no 1° de abril de 1982, em Bethlehem, Estados Unidos – foi, segundo ele, “horrível”. “Não estava com meus amplificadores, nem meus pedais e estava com apenas uma guitarra. Três ou quatro músicas tinham afinações diferentes e eu usei uma péssima guitarra alugada. Além disso, eu não sabia as músicas. Era difícil ouvir algo no palco, com aquele castelo e tudo. Só dava para escutar a caixa da bateria e Ozzy”, afirmou.
Tormé revelou, ainda, que Ozzy Osbourne chorava o tempo todo durante a turnê. “Saía do palco e o via atrás, chorando sem parar. Nos dias de folga, estava sempre fora de si. Ele não estava disposto a superar. Foi um terror, porque sua carreira ficou na m*rda por anos e ele não teve uma vida depois graças a Randy”, disse.
Boicote?
Apesar de relatar apoio da banda e da empresária Sharon Osbourne em continuar no posto de guitarrista, Bernie Tormé disse que estava sendo “boicotado”. “Antes do show no Madison Square Garden, não tive passagem de som. Disseram-me, depois, que a gravadora queria colocar Earl Slick como guitarrista. Fiquei p*to. Estou aqui, levando esses shows adiante, você me pede para ficar e depois faz isto?”, revelou, ainda ao Ultimate Classic Rock.
No fim das contas, Bernie Tormé tocou apenas sete shows e foi substituído por Brad Gillis, também de forma provisória. Eles se conheceram por acidente. “A gravadora americana não queria Brad, mas ele não conseguia agendar uma audição e viajou com a nossa equipe. Em um dia, no café da manhã, o vi com uma guitarra na mesa. Ele sabia todas as músicas e havia visto Randy tocar. ‘Estou aqui porque a gravadora quer que você saia’, ele disse.”
Segundo Bernie, Don Airey era o único que não queria um novo músico. “Eu disse, ‘Don, quero ir para casa e este cara é ótimo, deixe-o fazer um teste’. Já havia dito a Ozzy e Sharon que estava fora, mas ficaria até arrumarem um substituto. Depois, descobri que eles estavam carregando o substituto, mas não o haviam testado”, afirmou, surpreso.
O período com Brad Gillis
Brad Gillis ocupou a vaga de Bernie Tormé de forma quase imediata. O último show de Tormé ocorreu no dia 10 de abril de 1982, enquanto que o primeiro de Gillis aconteceu três dias depois, no dia 13.
O músico do Night Ranger contou, em entrevista concedida à Guitar World no ano de 2013, que havia assistido a um show de Ozzy Osbourne com Randy Rhoads. “Vi Ozzy meses antes de Randy morrer. Diziam que Randy era o próximo Eddie Van Halen, então fui assistir ao show – e ele me impressionou. Estava dirigindo quando ouvi a notícia de que ele havia falecido em um acidente de avião. Lembro de encostar meu caminhão e ficar pensando em como as coisas podem se perder tão facilmente”, afirmou.
Gillis conta que já estava no Night Ranger quando entrou para a banda de Ozzy Osbourne. “Nós do Night Ranger não queríamos tocar muito por aí até termos um contrato e estourarmos. Então, comecei uma banda chamada Alameda All Stars. Tocávamos em pubs e sempre havia algumas músicas de Ozzy no repertório”, disse.
Foi em um desses shows que Brad Gillis foi convidado para se juntar à banda de Ozzy Osbourne. “Após Randy morrer, alguém nos viu tocando e me disseram para tentar uma audição com Ozzy. Pensei, ‘é, claro’, mas esse ‘alguém’ era Preston Thrall (irmão de Pat Thrall, que tocou com Tommy Aldridge na banda de Pat Travers). Dias depois, recebi uma ligação por volta das oito da manhã. Na outra linha, uma mulher dizia, ‘oi, Bradley, aqui é Sharon Arden, empresária de Ozzy Osbourne, e gostaríamos que você viesse até Nova York para um teste'”, afirmou.
Brad contou ter pensado que era um trote, mas que Ozzy Osbourne também conversou com ele e pediu para que aprendesse a tocar 18 músicas. “Tive dois dias para aprender todas as músicas. Ozzy estava com Bernie Tormé como interino e queria me levar para ver alguns shows da turnê. Então, assisti às apresentações e passei quatro dias treinando por 12 horas cada”, disse.
No primeiro show, em Binghamton, Nova York, Brad Gillis cometeu apenas um erro. “Em ‘Revelation (Mother Earth)’, entrei na parte rápida um pouco antes e Ozzy me disparou um olhar mortal”, comentou o guitarrista.
Apesar de estar com Ozzy Osbourne, um superstar já naquela época, Brad Gillis preferiu seguir com o Night Ranger. “Fizemos vários shows e gravamos ‘Speak Of The Devil’, mas não sentia que aquilo era ideal para mim. A banda de Rudy Sarzo, o Quiet Riot, havia conseguido um contrato de uma gravadora naquela época e ele saiu. O Night Ranger também conseguiu um contrato, então rolei os dados e decidi pelo Night Ranger”, afirmou o músico. Vale destacar que Sarzo foi substituído provisoriamente por Pete Way.
Como citado por Brad Gillis, durante seu período com Ozzy Osbourne, ele registrou as guitarras do disco ao vivo “Speak Of The Devil”. O repertório consiste apenas em versões de músicas do Black Sabbath.
Ozzy Osbourne não queria lançar “Speak Of The Devil”. O álbum só foi feito porque ele devia dois discos à Jet Records. Anteriormente à morte de Randy Rhoads, o Madman e seus músicos trabalhavam no disco ao vivo que viria a ser “Tribute”, que acabou sendo engavetado e divulgado somente em 1987.