Confira 5 músicas consideradas machistas comentadas por mulheres

O Dia Internacional da Mulher, celebrado no dia 8 de março, é uma data para reforçar a luta pela igualdade de gênero. Sabe-se que ainda é necessário muito avanço neste quesito, mas as mulheres têm conquistado, cada vez mais, visibilidade em nossa sociedade.

A igualdade de gênero também deve estar presente na música. Infelizmente, não é o que acontece: ainda há músicas de sucesso que trabalham suas letras a partir de temáticas machistas.

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O portal G1 fez uma interessante reportagem com comentários de mulheres que apontaram o teor machista em cinco músicas famosas no Brasil. Veja, abaixo, quais são as canções e o que foi dito sobre elas.

“Amiga da minha mulher” – Seu Jorge

O que diz a música: 

“Ela é amiga da minha mulher; Pois é, pois é
Mas vive dando em cima de mim; Enfim, enfim
Ainda por cima é uma tremenda gata; Pra piorar minha situação
Se fosse mulher feia tava tudo certo; Mulher bonita mexe com meu coração (2x)
Não pego, eu pego, não pego, eu pego, não pego não”

As críticas à letra da música: 

“Essa música me dá um embrulho no estômago, não gosto dela. E olha que adoro as músicas que Seu Jorge canta, mas essa traz um desrespeito para as mulheres. Quem é esse cara que acha que é dono da mulher e da amiga dela? Essas situações clichês do machismo precisam ser quebradas para que possamos avançar. Temos 70 anos da evolução feminina, com um número de mulheres empreendedoras maior que o dos homens, entretanto, ainda vivemos no país do coronelismo” – Suzana Pires, atriz, escritora e estudiosa sobre o feminismo.

“É um machismo bem sutil, mais fácil de se consumir porque não é explícita. Mas o conceito gira em torno de uma não racionalização do homem, como se fosse um animal quando se trata de relação. Agem de acordo com o instinto, ou seja, se for uma mulher atraente, ele vai trair, não vai resistir” – Ingrid Figueiredo, estudante de direito e integrante da Marcha Mundial das Mulheres.

Explicação do artista: 

“Surpresa total saber que pensam isso da música, nunca ouvi ninguém reclamar. Inclusive, minha esposa é superativista, feminista e ela seria a primeira a reclamar, a letra nem sairia da minha casa, pois ela vê tudo. Não acho que a canção seja machista, nem que coloque a mulher para baixo. Temos essa preocupação, tenho uma filha de 21 anos, sou casado há 17 […] Respeito a opinião de quem acha ela machista, mas se entenderam desse jeito, queria explicar que não foi nossa intenção, jamais” – Pretinho da Serrinha, m dos compositores de “Amiga da minha mulher”.

* Seu Jorge foi procurado pela reportagem do G1, mas a assessoria do cantor disse que ele havia chegado de viagem e não conseguiria responder em tempo.

“As mina pira” – Fernando e Sorocaba

O que diz a música: 

“Tá tudo programado no apê do Guarujá; Hoje não vai prestar
O churrascão vai comer solto; A champa não pode faltar
Liga pra quatro ou cinco amigas; Traz o biquíni que hoje o sol tá de rachar
As mina pira, pira; Toma tequila, sobe na mesa, pula na piscina
As mina pira, pira; Entra no clima, tá fácil de pegar, pra cima!”

As críticas à letra da música: 

“[…] A música ´As mina pira´ me parece um exemplo perfeito de como a violência sexual pode ser tratada de forma não apenas natural, mas também alegre e festiva. O ritmo animado da música esconde uma letra que parece mais uma receita de como estuprar uma mulher: prepara-se uma festa, convidam as mulheres, a bebida é liberada até que elas fiquem bêbadas e fáceis de pegar. Aí então o vocalista chama os amigos homens: ´pra cima´. Se a mulher acredita estar com amigos, em um lugar seguro para consumir álcool, e um homem procura tirar proveito dessa confiança para fazer com ela algo que ela não consentiria caso estivesse sóbria, isso não tem outro nome: é estupro” – Veronica Toste, socióloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Explicação do artista: 

“Ela (a música) conta a história de uma festa entre amigos, na piscina, com comida, bebida e diversão. A letra não induz à ideia de domínio do homem sobre a mulher e muito menos à ideia de uma orgia. É apenas uma festa, com churrasco, bebida e diversão igualmente usufruída entre ambas partes, com consentimento mútuo de todas as ações. Inclusive, o clipe retrata essa diversão e animação comuns em qualquer festa e/ou encontro de amigos” – Sorocaba, um dos cantores e compositores da música.

“Lôra burra” – Gabriel, O Pensador

O que diz a música: 

“Lôra burra, lôra burra
Elas estão em toda parte do meu Rio de Janeiro
E às vezes me interrogo se elas tão no mundo inteiro
À procura de carros, à procura de dinheiro
O lugar dessas cadelas era mesmo no p*teiro
Não eu não sou machista, exigente talvez
Mas eu quero mulheres inteligentes, não vocês”

As críticas à letra da música: 

“Sei que o cantor quis fazer uma crítica para as mulheres fúteis, mas acho que cada mulher pode e tem a liberdade para escolher o que ela quiser ser, sem precisar ser xingada ou excluída da sociedade por isso. Ser chamada de cadela não é legal em nenhuma ocasião. Já pintei o cabelo de loiro, já segui modismos e nem por isso sou burra ou inferior a outras mulheres” – Lorena Vieira, bióloga.

Explicação do artista: 

“Fiz a letra de forma chocante, proposital, para sacudir mesmo a mulher, mas tirei do meu repertório porque minha visão mudou muito. Parei de cantá-la em 2003 pelo mal-estar que eu sentia com o exagero que a letra tem, mesmo que a intenção por trás de tudo fosse pedir para as mulheres se valorizarem. […] Não estou curtindo mais a letra de Lôra Burra, não combina mais comigo esse jeito de falar certas coisas. Hoje, não critico a mulher que quer exercer sua sexualidade. O moralismo de 20 anos atrás é muito ultrapassado” – Gabriel, O Pensador, cantor e compositor da música.

“Puxa, agarra e beija” – Turma do Pagode

O que diz a música: 

“Se rolar um sinal, uma olhada que seja
Puxa, agarra e beija; Puxa, agarra e beija
Mordidinha no lábio, como quem deseja
Puxa, agarra e beija; Puxa, agarra e beija”

As críticas à letra da música: 

“No primeiro trecho, ela diz ´se rolar um sinal, uma olhada que seja´. Ou seja, ao homem seria dado o direito de possuir aquela mulher, essa é a mesma lógica do abusador que diz que culpa é da mulher porque estava usando short muito curto ou porque estava com roupa provocantes. […] Ela (a música) reforça o machismo e a objetificação do corpo feminino transformando a mulher em uma coisa que, independente de sua vontade, pode ser agarrada, puxada e beijada. As mulheres sofrem com a opressão machista, de homens, alguns embriagados, que se acham no direito de te tocar, de te puxar e de te agarrar” – Maria Eduarda, transexual, profissão não revelada.

Explicação do artista: 

O grupo Turma do Pagode foi procurado pelo G1, mas a assessoria disse que os músicos estão de férias e não foram localizados a tempo.

“Mulher não manda em homem” – Vou Pro Sereno


O que diz a música: 

“Com tanta roupa suja em casa, você vive atrás de mim
Mulher foi feita para o tanque, homem para o botequim
Vê se não me amola, para com isso mulher
Eu bebo em casa ou aonde eu bem quiser
Não vem com essa de querer vir me buscar
Agora mesmo é que eu não vou pra casa descansar”

As críticas à letra da música: 

“As mulheres ocupam cargos iguais aos dos homens, muitas têm rotina dupla, ganham bem. Essa coisa de que a gente tem que ficar em casa lavando roupa no tanque e servindo ao marido ficou lá atrás, nos anos 60. As mulheres têm vida própria, ninguém quer pilotar fogão para encher a barriga de homem” – Nathália Caetano, publicitária.

Explicação do artista: 

“Não acho que seja algo ofensivo, vejo como uma grande brincadeira. Hoje, as mulheres ocupam cargos importantes. Nos shows, elas cantam, dançam. Além disso, se um homem falar sério que lugar de mulher é no tanque corre o risco de apanhar ou ser preso. Na segunda parte, a gente troca a palavra e diz que a mulher foi feita para o shopping” – Julio Sereno, vocalista do grupo Vou Pro Sereno.

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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