“Evolução” é a palavra que tem guiado os trabalhos mais recentes do Opeth. Formada nos anos 1990, a banda sueca se destacou na década de 2000 com trabalhos consistentes, que misturavam o death metal a elementos da música progressiva e do jazz fusion. Trabalhos como “Damnation” (2003) e “Ghost Reveries” seguem como verdadeiros clássicos para quem gosta de som pesado.
A questão é que nem mesmo o AC/DC e o Motörhead, em suas longas trajetórias, fizeram o mesmo som por muito tempo – e olha que são bandas com fama de “repetitivas”. Não seria, também, o caso do Opeth, ainda mais por contar com músicos técnicos e de muita bagagem musical. Dessa forma, não é estranho pensar que o grupo, em algum momento, apostaria em novas sonoridades.
Foi o que aconteceu a partir da atual década. O Opeth passou a desvencilhar-se do metal, especialmente dos elementos mais extremos. A mudança foi gradual: “Heritage” (2011) ainda é bem pesado, mas Mikael Åkerfeldt abandona os vocais guturais e gritados que o consagraram anteriormente. “Pale Communion” (2014) já é menos intenso e tem uma pegada mais orientada ao rock progressivo.
Enfim, em “Sorceress” (2016), parece que a evolução do Opeth chegou a um ponto de equilíbrio. Era notável que, nos dois lançamentos anteriores, o grupo estava em busca de uma nova identidade. Neste registro mais atual, que chegou a público nesta sexta-feira (30), a banda conseguiu aliar o que fez de melhor em sua discografia.
Sou um pouco suspeito para me posicionar com relação às duas fases do Opeth. Não sou grande admirador de vertentes mais extremas do metal, nem de vocais guturais. Naturalmente, iria preferir os discos mais atuais.
Mas reconhecer que “Sorceress” é um grande disco vai além de preferências pessoais. O álbum soa consistente do início ao fim. Por mais que experimentar seja algo natural na música, já não dava mais para o Opeth seguir “aventureiro” em seus trabalhos. Precisava mostrar um modelo a ser seguido.
É o que propõe a banda em “Sorceress”. Ao longo de suas 11 músicas – considerando as curtas faixas de introdução e encerramento -, há um híbrido perfeito entre rock e metal progressivo, com pitadas retrô e momentos instrumentais pontuais de pegada experimental.
A abertura acústica “Persephone” abre caminho para a ótima faixa que dá nome ao álbum, em uma mistura de Pink Floyd com os momentos menos grosseiros do Mercyful Fate. Soa retrô, mas sem se ancorar demais em referências. “The Wilde Flowers” me lembra alguns momentos do último disco do Ghost, “Meliora”, mas com técnica muito mais apurada e rebuscada. A transição entre o fantástico solo de guitarra e o momento em que a música simplesmente cai, lá para o 3° minuto, é incrível.
A acústica “Will O The Wisp” mostra a habilidade da banda em compor boas músicas, enquanto “Chrysalis”, mais pesada, traz um desfile de domínio instrumental. Joakim Svalberg brilha nos teclados. As climáticas e acústicas “Sorceress 2” e “The Seventh Sojourn”, instrumental, são quase duas vinhetas. Poderiam estar em momentos diferentes da tracklist, mas, ainda assim, são bons momentos.
Com quase nove minutos, “Strange Brew” é a faixa mais longa do disco. Nem assim, sua audição é cansativa. Começa calminha, mas logo descamba para um fusion que evidencia a técnica de Martin “Axe” Axenrot na bateria. As mudanças de andamento a engrandecem ainda mais. Canção incrível.
“A Fleeting Glance” começa guiada pelo violão, mas logo o instrumental entra de vez. A faixa é leve, mas soa densa. Os backing vocals aparecem bem por aqui. “Era” lembra “Strange Brew” em seu andamento: inicia-se devagar, quase parando, até que a banda começa a tocar. Os riffs e as passagens lembram Rush. O “refrão”, ao fim, cativa de primeira. “Persephone (Slight Return)” fecha o disco com uma curta trilha de piano.
O primeiro passo para compreender “Sorceress” como um grande disco é tirar da cabeça a imagem de que o Opeth é uma banda de metal. Não é mais. Há, sim, alguns elementos metálicos ao longo do álbum. Porém, a música praticada pelo grupo foge de rótulos e de referências excessivas.
“Sorceress”, para mim, é o melhor disco da carreira do Opeth. E ele merece a sua atenção também.
Nota 9
Mikael Åkerfeldt (vocal, guitarra)
Fredrik Âkesson (guitarra)
Martin Mendez (baixo)
Martin Axenrot (bateria)
Joakim Svalberg (teclados)
01. Persephone
02. Sorceress
03. The Wilde Flowers
04. Will O The Wisp
05. Chrysalis
06. Sorceress 2
07. The Seventh Sojourn
08. Strange Brew
09. A Fleeting Glance
10. Era
11. Persephone (Slight Return)