30 anos sem o subestimado Phil Lynott

Phil Lynott passou um pouco da conta do clube dos 27. Caso morresse na icônica idade, teria feito o suficiente: no segundo semestre de 1977, o Thin Lizzy já havia gravado álbuns como “Jailbreak” e “Johnny The Fox” (ambos de 1976) e registrado “Bad Reputation”, lançado em setembro de 1977. O esmagador ao vivo “Live And Dangerous”, que chegou às prateleiras em 1978 com gravações dos dois anos anteriores, poderia fechar a cereja do bolo e consagrar, de vez, Lynott como um grande ídolo do rock.
A história, porém, não canonizou Phil Lynott no que diz respeito à construção de um mártir. No período do auge do Thin Lizzy, conquistado com “Live And Dangerous”, o guitarrista Brian Robertson saiu da banda. O reforço era um velho conhecido, mas não deixava de ser uma “contratação de peso”: Gary Moore, um dos melhores guitarristas que já pisaram por esse planeta, substituiu Robertson. O grupo lançou “Black Rose: A Rock Legend” em 1979, ainda desfrutando de seu melhor momento.
Os anos 1980 chegaram e, com isso, a decadência. Os álbuns “Chinatown”, “Renegade” e (o ótimo) “Thunder And Lightning” afastaram o Thin Lizzy dos Estados Unidos, principal mercado fonográfico do mundo. As adversidades chegaram e os vícios de Phil Lynott em álcool e drogas se acentuaram.
Esperava-se que Phil Lynott fosse acostumado a adversidades, por tudo que passou nos anos 1950 e 1960. Sua trajetória na infância e adolescência, aliás, reflete a dureza do roqueiro no qual se transformou. Nascido na Inglaterra, Lynott foi filho de uma mulher irlandesa e de um homem da Guiana (à época, Guiana Inglesa). Praticamente não teve relação com o pai. Mudou-se para a Irlanda com a avó, aos quatro anos. Em um país pouco miscigenado, de grande maioria branca e conservadora, Phil cresceu como um degenerado.
Não ligava. Ao menos segundo Scott Gorham, em entrevista concedida anos atrás. “Nunca o ouvi reclamar sobre isso [ser um negro em um país de maioria branca]. Acho que ele já tinha em mente que era diferente e que lidaria com isso. Foi o que fez”, disse.
A partir dos anos 1960, dedicou-se à música. Inicialmente influenciado por grupos como The Mamas & The Papas e artistas da Motown, começou a envolver-se com bandas a partir de 1965. Passeou entre vários projetos até consolidar o Thin Lizzy, em meados de 1969, com Eric Bell e o velho conhecido Brian Downey.
Até o Thin Lizzy se consagrar com a icônica versão para “Whiskey In The Jar”, em 1973, Phil Lynott quase desistiu do projeto para apostar em uma nova banda com Ritchie Blackmore e Ian Paice, ambos do Deep Purple, no ano anterior. Valeu a pena ficar – os álbuns do Lizzy são o reflexo da genialidade de Lynott, que ia além do trivial em seu trabalho, seja pelas melodias pulsantes ou pelas letras muito bem escritas.
O auge do Thin Lizzy durou pouco, mas Phil Lynott e sua trupe deixaram uma série de discos que trouxeram uma mistura irresistível de swing e peso. Nomes consagrados do heavy metal, como Metallica e Iron Maiden, se revelam influenciados pelo grupo.
Mesmo tendo passado por muitas dificuldades até chegar ao estrelato, a década de 1980 levou Phil Lynott do fracasso ao colapso – literalmente, pois, em 1986, sofreu um colapso e morreu em 4 de janeiro de 1986, há 30 anos, vítima de insuficiência cardíaca e pneumonia, devido a uma septicemia (infecção grave do organismo por germes). Dissequei os últimos dias de Lynott em outro texto, que também merece sua leitura.
Para que o mártir fosse construído, Phil Lynott deveria ter morrido quase dez anos antes. Sairia de cena no auge e consolidaria o seu trabalho, algo que levou a sério até que sua saúde não permitisse mais. É muito provável que, em função disso, Lynott não seja enxergado como um mito dentro do rock.
Gostaria, porém, que Phil Lynott pudesse ter vivido por mais tempo. Com a cabeça equilibrada, não duvido que voltasse anos depois com trabalhos arrebatadores, como fizeram nomes do porte de Aerosmith, Alice Cooper e outros monstros da década de 1970 que se afundaram após alguns anos no auge. Resta imaginar.
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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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