...

Entrevista: NX Zero atinge ponto de maturidade com novo disco, “Norte”

O NX Zero está, ao mesmo tempo, mais roqueiro e menos roqueiro em seu novo álbum, “Norte”, lançado no mês passado por meio da gravadora Deck. O contraponto se repete em várias características. Em suma, ao mesmo tempo que a banda flerta com vertentes mais tradicionais do rock, reduzindo o vínculo com o hardcore e com estilos mais distorcidos, as composições também trazem uma pegada de outros estilos, mais grooveados.
As 12 faixas de “Norte” trazem mais guitarra, apesar de menos distorção. O cuidado com as seis cordas é maior, especialmente pelos riffs, melhor preparados. A cozinha aparece mais, mesmo sendo, agora, menos barulhenta. Di Ferrero mudou pouco, mas apresenta a voz mais encorpada. Ainda sobre vocais, os conhecidos apoios de Gee Rocha são raros, quase escassos – algo que dava a pegada melódica que era tão valorizada anteriormente. As composições, naturalmente, trazem temas mais maduros e críticos. As letras dialogam com o mesmo público que colocou o NX Zero no topo dez anos atrás, com o bem-sucedido álbum autointitulado. Os fãs cresceram: antes adolescentes, agora são jovens adultos, com preocupações diferentes. O quinteto também amadureceu.
Fato é que o NX Zero está diferente – e, ao menos para mim, mudou para melhor. Em entrevista exclusiva, o baixista Caco Grandino falou sobre a evolução da banda em “Norte” e sobre essa nova fase do grupo, que, pela primeira vez desde “Diálogo?” (2004), trabalhou com um produtor diferente de Rick Bonadio: o escolhido da vez foi Rafael Ramos. Até a turnê promete ter um novo norte. Confira:
Igor Miranda: Em primeiro lugar, parabéns pelo álbum. “Norte” é o melhor trabalho de vocês, em minha opinião. E foi um dos que mais demoraram a sair: três anos desde “Em comum”. A qualidade alcançada nesse disco é fruto desse tempo maior de preparo?

Caco Grandino: “Sim, nesse período vivemos muitas coisas diferentes e nos aprofundamos muito em um novo processo de produção, buscando novas referencias e vivencias para continuar a compor, mas tudo com muita calma e principalmente respeitando cada música com uma obra única”.
Igor Miranda: Até que ponto, também, o período de mudanças passado especialmente entre 2012 e 2014 interferiu nesse produto final?

Caco Grandino: “Com certeza. Nesse meio tempo, mantivemos a calma e encontramos uma nova maneira de trabalhar, em todos os sentidos, tanto na parte do Business quanto na parte de criativa da banda, que nesse ponto foi crucial para o ‘Norte’. Passamos a respirar novos ares, buscamos novas referencias, gravamos ao vivo no rolo com o Rafa Ramos… Todos esses fatores somaram muito no resultado final”.
Igor Miranda: “Norte” vem na contramão do EP “Estamos no começo de algo muito bom…”. Enquanto o EP tem uma perspectiva relaxada e meio zen, o álbum soa alternativo e traz certa densidade, um groove diferente. Ambos, porém, têm algo em comum: um distanciamento ainda maior do hardcore (algo iniciado no “Em comum”) que influenciou a banda nos primeiros discos. Até os backing vocals nos refrães, que geralmente davam uma cara radiofônica para as músicas, foram deixados um pouco de lado. Vocês realmente têm ouvido coisas diferentes (a ponto de isso levar sonoridades diferentes), ou vocês sentem que só recentemente puderam trabalhar em músicas mais espontâneas, sem tanta visão mercadológica?

Caco Grandino: “Sempre tivemos total liberdade para compor, tanto com o Rick quanto com o Rafa. O que muda é a maneira de como a música é feita. O tipo de direcionamento que queremos dar para nossa carreira. Nisso o produtor e fundamental no processo criativo”.
Igor Miranda: O CD ainda está aí, firme e (nem tão) forte, no entanto, com “Norte”, vocês lidaram com outros dois formatos: plataformas de streaming, com um lançamento que foi até feito de surpresa, e o vinil, numa perspectiva bem retrô. O que levou vocês, que já venderam tantos CDs no Brasil, a trabalhar com essa orientação de mercado diferente?

Caco Grandino: “Você precisa se adequar ao seu mercado. Entender para qual direção ele esta apontando. E como tudo indica que a música será cada vem mais digital e embarcada em dispositvos como celulares, tablets e outros gadgets, o CD físico e o vinil se tornam um produto mais premium para galera que gosta de ter o encarte, pegar o disco na mão, apreciar, enfim, da mesma forma como fazíamos com o vinil antigamente, era preciso parar para escutar em algum lugar que tivesse uma vitrola, e dedicar um tempo para apreciar o disco. Por isso a ideia de lançar um vinil também”.
Igor Miranda: “Norte” é o primeiro disco full de vocês, desde “Diálogo?”, a contar com um produtor diferente de Rick Bonadio. O que mudou no processo de trabalho desse novo álbum em comparação ao que era feito anteriormente?

Caco Grandino: “Fizemos tudo da maneira antiga (risos). Gravamos ao vivo em rolo, ensaiamos muito para isso, sempre ouvindo o que fazíamos e buscando melhorar a cada take. Era assim que os discos eram gravados antigamente e sentimos que, dessa forma, conseguimos imprimir nossas emoções muito fortemente em cada música. E a nossa verdade registrada da maneira mais sincera possível”.
Igor Miranda – Cifras: Gostaria que vocês comentassem como foi essa parceria com Lulu Santos na música “Fração de segundo”.

Caco Grandino: “Comentar? (risos) Eu tenho que agradecer! É uma honra para todos nós ter o Lulu no disco, ainda mais como instrumentista, pois pouca gente sabe que, além do maior hitmaker do Brasil, ele é um dos primeiros guitarristas a usar realmente o slide na guitarra aqui no Brasil, e era exatamente o que queríamos para essa música”.
Igor Miranda: Destaco outra música em específico para ouvir um pouco da banda: até que ponto “Por amor” é um desabafo? A composição estava engasgada?

Caco Grandino: “Como disse, tudo que está no ‘Norte’ foi feito da maneira mais sincera possível”.
Igor Miranda: Para fechar, gostaria de saber o que é planejado para a sequência e o que os fãs podem esperar para os próximos meses.

Caco Grandino: Estamos produzindo o novo show da tour, que iniciaremos dia 19 de setembro na AudioClub aqui em São Paulo. Será uma proposta um pouco diferente do que apresentamos nos últimos anos, e a galera pode ficar ansiosa sim, vai ser animal. (risos)
Ficha técnica
NX Zero – “Norte”
Formatos: CD, LP e download digital
Gravadora: Deck
Lançado em 7 de agosto de 2015
Músicos:
Di Ferrero (vocal)
Gee Rocha (guitarra)
Fi Ricardo (guitarra)
Caco Grandino (baixo)
Dani Weksler (bateria)
Músico adicional:
Lulu Santos (guitarra slide na faixa 4)
Faixas:
1. Modo Avião
2. Meu Bem
3. Mandela
4. Fração de Segundo
5. Por Amor
6. Personal Privê
7. Vibe
8. Pedra Murano
9. Breve Momento
10. Gole de Sorte
11. Milianos
12. Marcas de Expressão
ESCOLHAS DO EDITOR
InícioEntrevistasEntrevista: NX Zero atinge ponto de maturidade com novo disco, "Norte"
Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

DEIXE UMA RESPOSTA (comentários ofensivos não serão aprovados)

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui


Últimas notícias

Curiosidades