Mamonas Assassinas. Um fenômeno reverenciado até os dias de hoje. Veio, chocou o Brasil, e infelizmente se foi, mas mantém um legado de reconhecimento quase unânime nessas terras – algo difícil em um país com proporções continentais e culturas diversas.
Há exatos 20 anos, era lançado o primeiro e único disco dos Mamonas Assassinas, autointitulado. Um álbum construído, aos poucos, desde 1990, quando o Utopia, grupo que antecedeu os Mamonas, se formou e começou a se apresentar em Guarulhos, São Paulo. Constituída por Dinho nos vocais, Bento Hinoto na guitarra, Júlio Rasec nos teclados e os irmãos Samuel e Sérgio Reoli respectivamente no baixo e na bateria, a banda começou tocando covers de clássicos do rock e logo embarcou para um projeto autoral, com influências de Titãs, Barão Vermelho e Rush.
Lançaram “A fórmula do fenômeno”, que foi um fracasso – das mil cópias produzidas, apenas cem foram vendidas. Flertando cada vez mais com paródias e composições cômicas, decidiram mudar de nome e de proposta. De Utopia, passaram a se chamar Mamonas Assassinas.
Após conhecerem o até então desconhecido produtor Rick Bonadio e enviarem uma demo para algumas grandes gravadoras do Brasil, os guarulhenses conseguiram um contrato com a EMI. Com pouco menos de dois meses, o disco de estreia já estava nas prateleiras do Brasil e, em questão de dias, os Mamonas eram sensação nacional. Não era pra menos: lançaram um álbum envolvente, cativante, versátil e sem uma música mediana sequer.
O humor marca presença nas composições desse disco, com toques de ironia e certo criticismo que muitos nem perceberam à época. O carisma do performático quinteto é incontestável: principalmente do frontman Dinho, que chegava a ser desengonçado.
No entanto, vale destacar que os músicos eram muito versáteis e habilidosos naquilo que era proposto. Muitas vezes passa despercebido, mas o instrumental do único álbum dos Mamonas é muito bem feito e, mesmo que de forma cômica, passeia sem equívocos por diversos gêneros musicais, como rock, metal, samba, pagode, baião, forró, pop e por aí vai. Eles tinham competência em seus postos e deixavam isso claro, inclusive, nos shows.
Em menos de 40 minutos, 14 faixas envolventes conquistaram o país. O funk rock “1406”. A luso-folclórica “Vira-Vira”. A latina “Pelados em Santos”. A roqueira “Chopis centis” (paródia de “Should I Stay Or Should I Go”, do The Clash). O baião-rock “Jumento celestino”. A vinheta “Sabão crá-crá”. A quase balada “Uma arlinda mulher”. A grooveada “Cabeça de bagre II”. A clássica “Mundo animal”. A incontestável “Robocop gay”. O brega-metal “Bois don´t cry” (com paródias de “Tom Sawyer”, do Rush, e “The Mirror”, do Dream Theater). O caricato thrash metal “Débil metal”. A curta “Sábado de sol”. Por fim, o pagode “Lá vem o alemão”. A piada era consistente.
Estima-se que a bolacha tenha vendido três milhões de cópias em apenas um ano. Atualmente, esse número deve ter, no mínimo, dobrado. Os Mamonas se tornaram sensação no Brasil – e até fora dele, com hits emplacados na Argentina, por exemplo -, lotaram arenas em seus shows e apareciam praticamente toda semana em programas de televisão. Foram R$ 275 milhões de lucro somente em 1995.
Infelizmente, durou pouco. Em 2 de março de 1996, um acidente aéreo na Serra da Cantareira matou os cinco integrantes da banda. Não dá para saber o que seriam dos Mamonas Assassinas se a trajetória não tivesse tido bruscamente interrompida. No entanto, um disco foi suficiente para que eles continuem sendo lembrados.
Mamonas Assassinas: “Mamonas Assassinas”
Lançado em 23 de junho de 1995
Gravadora: EMI
Produção: Rick Bonadio
Dinho: vocal, violão na faixa 7
Bento Hinoto: guitarra, violão, backing vocals
Samuel Reoli: baixo
Sérgio Reoli: bateria, backing vocals
Júlio Rasec: teclados, vocal adicional nas faixas 2 e 7
01. 1406
02. Vira-Vira
03. Pelados em Santos
04. Chopis centis
05. Jumento celestino
06. Sabão crá-crá
07. Uma arlinda mulher
08. Cabeça de bagre II
09. Mundo animal
10. Robocop gay
11. Bois don´t cry
12. Débil metal
13. Sábado de sol
14. Lá vem o alemão