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Entrevista com Somba: cheiro retrô e vintage em novo disco dos mineiros

Foto: Ricardo Laf
O som do Somba chega a assustar de tão retrô. Com a sonoridade típica da década de 1970, a banda poderia se equiparar a nomes de destaque do rock nacional da época, como Made In Brazil, Mutantes e Casa das Máquinas – se não tivesse sido feito tantos anos depois, é claro.
Em seu novo trabalho, “Homônimo” (2014), a proposta do grupo de Belo Horizonte, que está na estrada há 17 anos e se define como uma “jam band”, é semelhante à de seus discos antecessores, “Clube da Esquina dos Aflitos” (2003) e “Cuma?” (2007). O rock seco, com pitadas do boogie rock e algo da psicodelia, segue firme e certeiro. No entanto, para mim, soa melhor em “Homônimo” – seja pelas composições ou pela produção, assinada por Anderson Guerra.
Confira abaixo a entrevista exclusiva com o guitarrista e vocalista Guilherme Castro:
Igor Miranda: São 17 anos de banda e três discos lançados. Musicalmente, “Homônimo” (2014) não apresenta tantas diferenças em relação a “Clube da Esquina dos Aflitos” (2003) e “Cuma?” (2007). Mas há sempre uma mudança. O que mudou em “Homônimo”, desde o processo ao produto final?

Guilherme Castro: “O que mudou é que pela primeira vez pudemos trabalhar com um produtor musical externo a banda. Também resolvemos investir mais fundo em uma sonoridade mais aproximada dos nossos referenciais musicais. Procuramos um estúdio que trabalhasse nessa linha mais ‘vintage’, todo analógico e um produtor que soubesse extrair isso dos equipamentos e da banda. Assim encontramos o Anderson Guerra, um cara que confiamos e que tem esse perfil. Ele elaborou muito bem a resposta ao que queríamos. Outra coisa diferente também — até em consequência disso — é que esse álbum contou com mais participações especiais, o que o difere um pouco do ‘Cuma?’. E penso que é um álbum mais maduro e sério, questionador das obsolescências da vida moderna e do discurso fácil e linear. É um álbum que articula o velho e o novo de uma maneira bem orgânica. O próprio resultado final exemplifica isso: ele foi lançado em vinil, CD e distribuição digital”.
Capa de “Homônimo (2014)
O aspecto sonoro de maior destaque na produção de “Homônimo” é a textura de gravação um pouco “velha”. Não parece um disco de 2014 em função do som vintage. Parece ter vindo diretamente da década de 1970. Esse foi o maior objetivo almejado com a gravação em equipamentos analógicos?

Guilherme: “Como disse, esse foi um dos objetivos. Mas ele vem como resultado dessa ideia de articulação entre o velho e o novo. As canções são novas, refletem nosso tempo e têm uma temática mais contemporânea, fazendo um questionamento sobre a vida moderna. Além disso, essa sonoridade reflete mais nossas influências musicais que, em grande parte, são artistas das décadas de 60 e 70. É como se ativasse uma memória afetiva em relação às sonoridades que escutávamos em nossa formação musical. Isso nos situa sensorialmente entre eles, o que pra nós é algo muito bom e gratificante”.
Ainda sobre esse ponto vintage, destaco que gostei muito dessa proposta. Adoro a forma como soam os discos nacionais e até internacionais da década de 1970. Mas a banda não considera perigoso trabalhar com algo que pode ser considerado “envelhecido”?

Guilherme: “Há sempre algum perigo sim… alguns podem sim taxar esse álbum de retrógrado, parado no tempo, anacrônico, etc. Mas quem tiver um pouco mais de boa vontade e disposição para escutar além dos 15 segundos usuais dos dias de hoje, verá que não é bem assim. Há conteúdo, proposta, dentro de uma execução bem feita. Não é só um produto comercial. É uma proposta artística. E como tal, sempre há esse tipo de risco da incompreensão. Mas acho que faz parte do afazer do artista correr esses riscos”.
Foto: Ricardo Laf

Há músicas mais curtas e diretas em “Homônimo”. Essa medida serve para aproximar públicos diferentes ou a ideia ainda é trabalhar somente com um nicho de público?

Guilherme: “Nossas músicas em geral são assim. São raras as músicas que ultrapassam os 4 minutos, mesmo nos discos anteriores. A gente as estica um pouco quando fazemos ao vivo, em uma Jam. Mas como canções, elas são curtas, bem na média fonográfica. O negócio é que elas são muito díspares, distintas entre si. Mas essa variedade não tem a ver com uma estratégia para alcançar públicos distintos. Ela apenas reflete a filosofia da banda, de ser uma Jam Band, onde não é muito o estilo em si o que a caracteriza, mas sim, a forma de tocar. Jambands como Phish ou The Grateful Dead também têm essa marca. Tocam blues, rock, country, mambos, jazz, etc, tudo de uma maneira própria e original. Nós também temos essa veia e acreditamos que o disco fica mais arejado e em consonância com nossa personalidade e nossa formação”.
Entre as participações no disco, a que tem um nome de maior peso é o naipe de metais do Skank, mas há outras boas participações. Como foi contar com esse pessoal nas gravações e o que mais chamou a atenção nesse processo?

Guilherme: “Foi ótimo! A galera do naipe de metais do Skank já era conhecida nossa desde que éramos colegas na escola de música da UFMG. Desde então, sempre rolou uma admiração mútua que pode ser posta em prática nessa gravação. Além disso, tivemos as brilhantes participações de Lorena Amaral cantando magistralmente ‘By Heart and Soul’, as meninas do Caffeine Trio, juntamente com Ernane Teixeira (violinista) e Anderson Guerra (Violão) em ‘Rocambole’, e ainda a participação linda de Érico Fonseca (trompetista da OFMG) em ‘Carne Fraca’ e de Bruno Pimenta (flauta) em ‘Vem pro meu lado negro, Nega!’. Todos abrilhantaram ainda mais o álbum. Rolou um clima muito bom durante as sessões de gravação, saindo tudo muito despojado, sincero e expressivo. Isso nos ajudou a ter ainda mais confiança no que estávamos fazendo”.
Com “Homônimo” devidamente lançado, quais são os planos para 2015?

Guilherme: “Bem, participamos do Psicodália 2015, um superfestival em Rio Negrinho/SC, uma experiência muito boa. Além disso, nossos planos são divulgar um pouco mais o álbum, fazendo mais shows e lançando um DVD do show de lançamento gravado no Teatro Francisco Nunes. Também vamos começar um trabalho em futuras músicas que comporão um novo álbum, daqui a um ou dois anos”.
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Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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