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Royal Blood lança o disco que você precisa ouvir em 2014

Royal Blood: “Royal Blood” (2014)

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Uma banda original, inovadora, que apresente influências concisas mas, ao mesmo tempo, não se torne caricatura do que já foi feito. Parece ser impossível surgir algo desse jeito no cenário. Músicos tentam diversas formações acompanhados de voz, baixo e bateria: uma guitarra, duas guitarras, três guitarras, guitarra e teclado, duas guitarras e teclado, guitarra e violão… tem vez que até excluem o baixo. Até o momento, poucos conseguem fazer o que indica a minha primeira frase.
Com menos do que isso, o Royal Blood conseguiu. O duo britânico, formado por Mike Kerr (vocal e baixo) e Ben Thatcher (bateria) não precisou do tradicional instrumento de seis cordas para fazer o que muito guitarrista tenta: som pesado de verdade. Não é só deixar a afinação mais grave. Não se trata de inserir velocidade em excesso ou deixar a música arrastada demais. Não é uma questão de repetir clichês de forma enlouquecida. A solução passa longe disso. Trata-se de talento.
O Royal Blood surgiu em 2013 e no meio do ano em questão, o baterista Matt Helders, do Arctic Monkeys, causou leve burburinho ao utilizar uma camiseta da banda durante um show no Glastonbury Festival. À época, o duo sequer havia lançado nenhuma música, mas meses depois seria confirmado como atração de abertura do grupo de Helders. Quatro singles foram lançados até o primeiro disco, autointitulado, que chegou ao público no final de agosto.
A qualidade do debut impressiona. O Royal Blood tem originalidade o suficiente para soar inovador e background o bastante para saber de onde tirar. O duo é claramente influenciado por nomes do passado, como Led Zeppelin, Cream e Black Sabbath. Ao mesmo tempo, absorveu um pouco do frescor recente de Jack White e Queens Of The Stone Age. O rock praticado pelo duo tem um pouco da crueza do blues e do garage, uma pitada do alternativo e, especialmente, peso.
A abertura com a faixa título desmistifica qualquer necessidade de guitarra no som do grupo. Não só pelo baixo repleto de efeitos ser encorpado o suficiente, mas também porque ele trabalha diretamente com a bateria. O som fica dinâmico, forte e incisivo. Mike Kerr também é um bom intérprete vocal: traz sentimento à canção. Começamos muito bem. “Come On Over” dá sequência com um riff tão pesado que dá uma (boa) agonia na alma. Diante do que Kerr pode fazer com seu instrumento, resta-nos pensar: não estamos sendo enganados? Não se trata de uma guitarra mesmo? Não.
“Figure It Out”, um dos destaques do trabalho, começa sem muito barulho ou pretensão, mas cresce de forma incrível nos arredores do refrão. O disparo de riffs tira o fôlego do ouvinte. O momento “solo”, então, com show da bateria de Ben Thatcher, altamente influenciada por John Bonham, dispensa bons adjetivos. “You Can Be So Cruel” tem uma pitada de rock alternativo. Mais melódica, lembra um pouco o que Jack White tem feito ultimamente. Boa música.
“Blood Hands” começa devagar e se mantém um pouco arrastada no refrão. A faixa não é ruim, mas trata-se de um momento de respiro durante a audição. O descanso se faz necessário porque a ótima “Little Monster” dá sequência. Os interessantes versos alternam entre pancada e calmaria. O refrão, por sua vez, é melódico e grudento na medida certa. E há um solo propriamente dito que é muito bom. A curtinha “Loose Change” volta a lembrar um pouco o trabalho de Jack White, justamente pelo peso moderado.
“Careless” tem uma pitada de Queens Of The Stone Age, pelo instrumental que consegue ser pesado e divertido ao mesmo tempo. A bateria de Ben Thatcher é o que deixa tudo mais gostoso nessa faixa. “Ten Tonne Skeleton” mostra que Mike Kerr pode ser considerado um Tom Morello do baixo: os sons que ele tira do instrumento são muito incomuns. E irresistíveis. A arrastada “Better Strangers” fecha o disco com uma rítmica deliciosa, um solo incrível e um pós-solo melhor ainda. O álbum acaba justamente com sua faixa mais longa, com 4 minutos e 10 segundos de duração.
O Royal Blood acertou em praticamente tudo. Nas composições, nas performances, em todo o processo de produção e até mesmo na duração do disco – dez faixas, pouco mais de 30 minutos. Deixa a sensação de que o grupo pensou no álbum como unidade, sem fillers ou encheção de linguiça. A audição do trabalho de estreia do duo revelação é altamente recomendada: trata-se de um sério candidato a melhor lançamento de rock do ano.

Nota 9

Mike Kerr (vocal, baixo)
Ben Thatcher (bateria)

01. Out of the Black
02. Come On Over
03. Figure It Out
04. You Can Be So Cruel
05. Blood Hands
06. Little Monster
07. Loose Change
08. Careless
09. Ten Tonne Skeleton
10. Better Strangers

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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Uma banda original, inovadora, que apresente influências concisas mas, ao mesmo tempo, não se torne caricatura do que já foi feito. Parece ser impossível surgir algo desse jeito no cenário. Músicos tentam diversas formações acompanhados de voz, baixo e bateria: uma guitarra, duas guitarras, três guitarras, guitarra e teclado, duas guitarras e teclado, guitarra e violão… tem vez que até excluem o baixo. Até o momento, poucos conseguem fazer o que indica a minha primeira frase.
Com menos do que isso, o Royal Blood conseguiu. O duo britânico, formado por Mike Kerr (vocal e baixo) e Ben Thatcher (bateria) não precisou do tradicional instrumento de seis cordas para fazer o que muito guitarrista tenta: som pesado de verdade. Não é só deixar a afinação mais grave. Não se trata de inserir velocidade em excesso ou deixar a música arrastada demais. Não é uma questão de repetir clichês de forma enlouquecida. A solução passa longe disso. Trata-se de talento.
O Royal Blood surgiu em 2013 e no meio do ano em questão, o baterista Matt Helders, do Arctic Monkeys, causou leve burburinho ao utilizar uma camiseta da banda durante um show no Glastonbury Festival. À época, o duo sequer havia lançado nenhuma música, mas meses depois seria confirmado como atração de abertura do grupo de Helders. Quatro singles foram lançados até o primeiro disco, autointitulado, que chegou ao público no final de agosto.
A qualidade do debut impressiona. O Royal Blood tem originalidade o suficiente para soar inovador e background o bastante para saber de onde tirar. O duo é claramente influenciado por nomes do passado, como Led Zeppelin, Cream e Black Sabbath. Ao mesmo tempo, absorveu um pouco do frescor recente de Jack White e Queens Of The Stone Age. O rock praticado pelo duo tem um pouco da crueza do blues e do garage, uma pitada do alternativo e, especialmente, peso.
A abertura com a faixa título desmistifica qualquer necessidade de guitarra no som do grupo. Não só pelo baixo repleto de efeitos ser encorpado o suficiente, mas também porque ele trabalha diretamente com a bateria. O som fica dinâmico, forte e incisivo. Mike Kerr também é um bom intérprete vocal: traz sentimento à canção. Começamos muito bem. “Come On Over” dá sequência com um riff tão pesado que dá uma (boa) agonia na alma. Diante do que Kerr pode fazer com seu instrumento, resta-nos pensar: não estamos sendo enganados? Não se trata de uma guitarra mesmo? Não.
“Figure It Out”, um dos destaques do trabalho, começa sem muito barulho ou pretensão, mas cresce de forma incrível nos arredores do refrão. O disparo de riffs tira o fôlego do ouvinte. O momento “solo”, então, com show da bateria de Ben Thatcher, altamente influenciada por John Bonham, dispensa bons adjetivos. “You Can Be So Cruel” tem uma pitada de rock alternativo. Mais melódica, lembra um pouco o que Jack White tem feito ultimamente. Boa música.
“Blood Hands” começa devagar e se mantém um pouco arrastada no refrão. A faixa não é ruim, mas trata-se de um momento de respiro durante a audição. O descanso se faz necessário porque a ótima “Little Monster” dá sequência. Os interessantes versos alternam entre pancada e calmaria. O refrão, por sua vez, é melódico e grudento na medida certa. E há um solo propriamente dito que é muito bom. A curtinha “Loose Change” volta a lembrar um pouco o trabalho de Jack White, justamente pelo peso moderado.
“Careless” tem uma pitada de Queens Of The Stone Age, pelo instrumental que consegue ser pesado e divertido ao mesmo tempo. A bateria de Ben Thatcher é o que deixa tudo mais gostoso nessa faixa. “Ten Tonne Skeleton” mostra que Mike Kerr pode ser considerado um Tom Morello do baixo: os sons que ele tira do instrumento são muito incomuns. E irresistíveis. A arrastada “Better Strangers” fecha o disco com uma rítmica deliciosa, um solo incrível e um pós-solo melhor ainda. O álbum acaba justamente com sua faixa mais longa, com 4 minutos e 10 segundos de duração.
O Royal Blood acertou em praticamente tudo. Nas composições, nas performances, em todo o processo de produção e até mesmo na duração do disco – dez faixas, pouco mais de 30 minutos. Deixa a sensação de que o grupo pensou no álbum como unidade, sem fillers ou encheção de linguiça. A audição do trabalho de estreia do duo revelação é altamente recomendada: trata-se de um sério candidato a melhor lançamento de rock do ano.

Nota 9

Mike Kerr (vocal, baixo)
Ben Thatcher (bateria)

01. Out of the Black
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03. Figure It Out
04. You Can Be So Cruel
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Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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