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Sem firulas: rock n’ roll com leve pitada punk da Vendettas merece ser ouvido

Vendettas: “Vendettas” (2014)
Entre os materiais que recebo de bandas independentes, consigo classificar e separar mentalmente os trabalhos de duas formas. Existem aqueles grupos que querem trazer algo novo, e aqueles que apenas desejam reafirmar algo que já foi criado. São duas propostas diferentes. Analiso dentro de cada campo para me certificar sobre a qualidade do que é proposto.
A Vendettas, antes de tudo, não quer reinventar a roda. Talvez seja pretensioso demais que a banda se rotule como “rock de calçada” – apesar de parecer uma brincadeira -, porque essas denominações que não existem, na verdade, são apenas tentativas de encontrar identidades específicas quando simplesmente não é necessário. Despretensioso, o grupo quer fazer rock n’ roll com boas letras, refrães interessantes e foco nas guitarras. Serve?
Para mim, serve. Autointitulado, o primeiro disco do quarteto de Caxias do Sul (RS) é simplório e direto, como o rock n’ roll deve ser. Como a faixa de abertura, por exemplo, é. “A culpa é do calor” dá início aos trabalhos com leves pitadas do punk rock da década de 1970, em especial na bateria. Riffs em acordes, baixo discreto, solo simples, voz rasgada e letra bem feita completam o resumo da ótima canção. A faixa seguinte, “Amigo”, começa com um countrycore dançante, por incrível que pareça, que se estende pelos versos. A pitada southern da canção é aliada a um direto rock n’ roll e uma melodia bem grudenta.

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“Embriagado”, um punk rock/rockabilly afável e elétrico, dá sequência sem perder o clima da anterior. É o tipo de som que, com certeza, funciona ao vivo, especialmente pelas boas trilhas de guitarra. “Fins de semana” tem boa composição e, novamente, ótimo trabalho nas seis cordas. Mas nessa faixa, um problema do grupo começa a se destacar: a limitação na criatividade na linha de bateria.
“Pare o trem” se aproveita de uma das progressões melódicas mais clichês da música popular como um todo para projetar um rock n’ roll interessante, que cresce muito na ponte e no refrão. Cortesia da performance vocal do Bruno Meneguzzi. O solo também é ótimo. “Sinais amarelos”, que tem um toque de pop rock contemporâneo, volta a destacar as guitarras de forma sensacional. É uma das melhores faixas, se não a melhor, do disco. Todo o instrumental trabalha muito bem.
“Tempestade” começa a anunciar o fim. Oitava entre dez faixas, a balada garante a aparição do violão em uma faixa radiofônica, de audição gostosa e boa letra. “Underground Rock Bar”, pesada, tem uma veia punk rock interessante. Meio stoner, diria, especialmente pelo riff principal. Faixa acima da média. “Vamos ser famosos” termina o disco do jeito que ele começou: com rock n’ roll na essência. Progressões distorcidas do blues dão a base para, novamente, mais uma composição lírica bem sacada e levemente canastrona. Ótimo encerramento.
O disco de estreia da Vendettas soa muito bem. A masterização, feita no Abbey Road Studios – aquele mesmo, o eterno – deu um tapa na produção, que já me parecia ser boa. Os timbres de todos os instrumentos estão ótimos. Para um primeiro álbum, o trabalho de estúdio deu uma pinta para lá de profissional. Um ponto me conquistou: são apenas dez faixas e 34 minutos de duração. Não acho que um disco precise ter muito mais do que isso.
Poucos aspectos me deixaram receosos com a Vendettas. Detalhes, ressalto. As músicas são ótimas, a banda é boa e a proposta está definida. Isso é o que mais importa. Vez ou outra, acho que o baixo poderia receber mais destaque e até liberdade para linhas mais soltas. A bateria poderia ser mais inventiva, para garantir maior dinamismo. O grupo também pode investir em faixas um pouco mais distintas dos clichês do rock n’ roll, sempre válidos mas nem sempre autossuficientes. A já destacada “Sinais amarelos” é um exemplo diferenciado.
No mais, o álbum é um cartão de visitas de um quarteto talentoso, que deve atingir patamares de relevância no underground nacional se continuar com o trabalho muitíssimo bem feito. Quem sabe, até mais do que isso. Qualidade não falta.

Nota 8

Bruno Meneguzzi (vocal, guitarra)
Leandro Rios (guitarra)
Lucas Damasceno (baixo)
Claiton Lize (bateria)

01. A culpa é do calor
02. Amigo
03. Embriagado
04. Fins de semana
05. Inverno
06. Pare o trem
07. Sinais amarelos
08. Tempestade
09. Underground Rock bar
10. Vamos ser famosos

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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Vendettas: “Vendettas” (2014)
Entre os materiais que recebo de bandas independentes, consigo classificar e separar mentalmente os trabalhos de duas formas. Existem aqueles grupos que querem trazer algo novo, e aqueles que apenas desejam reafirmar algo que já foi criado. São duas propostas diferentes. Analiso dentro de cada campo para me certificar sobre a qualidade do que é proposto.
A Vendettas, antes de tudo, não quer reinventar a roda. Talvez seja pretensioso demais que a banda se rotule como “rock de calçada” – apesar de parecer uma brincadeira -, porque essas denominações que não existem, na verdade, são apenas tentativas de encontrar identidades específicas quando simplesmente não é necessário. Despretensioso, o grupo quer fazer rock n’ roll com boas letras, refrães interessantes e foco nas guitarras. Serve?
Para mim, serve. Autointitulado, o primeiro disco do quarteto de Caxias do Sul (RS) é simplório e direto, como o rock n’ roll deve ser. Como a faixa de abertura, por exemplo, é. “A culpa é do calor” dá início aos trabalhos com leves pitadas do punk rock da década de 1970, em especial na bateria. Riffs em acordes, baixo discreto, solo simples, voz rasgada e letra bem feita completam o resumo da ótima canção. A faixa seguinte, “Amigo”, começa com um countrycore dançante, por incrível que pareça, que se estende pelos versos. A pitada southern da canção é aliada a um direto rock n’ roll e uma melodia bem grudenta.

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“Embriagado”, um punk rock/rockabilly afável e elétrico, dá sequência sem perder o clima da anterior. É o tipo de som que, com certeza, funciona ao vivo, especialmente pelas boas trilhas de guitarra. “Fins de semana” tem boa composição e, novamente, ótimo trabalho nas seis cordas. Mas nessa faixa, um problema do grupo começa a se destacar: a limitação na criatividade na linha de bateria.
“Pare o trem” se aproveita de uma das progressões melódicas mais clichês da música popular como um todo para projetar um rock n’ roll interessante, que cresce muito na ponte e no refrão. Cortesia da performance vocal do Bruno Meneguzzi. O solo também é ótimo. “Sinais amarelos”, que tem um toque de pop rock contemporâneo, volta a destacar as guitarras de forma sensacional. É uma das melhores faixas, se não a melhor, do disco. Todo o instrumental trabalha muito bem.
“Tempestade” começa a anunciar o fim. Oitava entre dez faixas, a balada garante a aparição do violão em uma faixa radiofônica, de audição gostosa e boa letra. “Underground Rock Bar”, pesada, tem uma veia punk rock interessante. Meio stoner, diria, especialmente pelo riff principal. Faixa acima da média. “Vamos ser famosos” termina o disco do jeito que ele começou: com rock n’ roll na essência. Progressões distorcidas do blues dão a base para, novamente, mais uma composição lírica bem sacada e levemente canastrona. Ótimo encerramento.
O disco de estreia da Vendettas soa muito bem. A masterização, feita no Abbey Road Studios – aquele mesmo, o eterno – deu um tapa na produção, que já me parecia ser boa. Os timbres de todos os instrumentos estão ótimos. Para um primeiro álbum, o trabalho de estúdio deu uma pinta para lá de profissional. Um ponto me conquistou: são apenas dez faixas e 34 minutos de duração. Não acho que um disco precise ter muito mais do que isso.
Poucos aspectos me deixaram receosos com a Vendettas. Detalhes, ressalto. As músicas são ótimas, a banda é boa e a proposta está definida. Isso é o que mais importa. Vez ou outra, acho que o baixo poderia receber mais destaque e até liberdade para linhas mais soltas. A bateria poderia ser mais inventiva, para garantir maior dinamismo. O grupo também pode investir em faixas um pouco mais distintas dos clichês do rock n’ roll, sempre válidos mas nem sempre autossuficientes. A já destacada “Sinais amarelos” é um exemplo diferenciado.
No mais, o álbum é um cartão de visitas de um quarteto talentoso, que deve atingir patamares de relevância no underground nacional se continuar com o trabalho muitíssimo bem feito. Quem sabe, até mais do que isso. Qualidade não falta.

Nota 8

Bruno Meneguzzi (vocal, guitarra)
Leandro Rios (guitarra)
Lucas Damasceno (baixo)
Claiton Lize (bateria)

01. A culpa é do calor
02. Amigo
03. Embriagado
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Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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