Apesar dos deslizes, disco póstumo “Xscape” evidencia talento de Michael Jackson

Michael Jackson: “Xscape” (2014)

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Dificilmente um disco póstumo agrada. Muitas vezes não faz justiça ao trabalho em vida do artista em questão. Mas isso não pode ser dito sobre “Xscape”. Trabalhado em segredo desde 2013, o segundo álbum póstumo de Michael Jackson foi lançado em 9 de maio sob muitas expectativas. Afinal, qualquer projeto que envolva o incontestável Rei do Pop gera comentários e esperanças por fãs e até mesmo admiradores de momento – algo que Jackson sempre teve, graças ao respeito que tinha na indústria fonográfica, e que garantiu os recordes que bateu.
É óbvio que o objetivo de “Xscape” é contestável. O produtor L.A. Reid e os envolvidos estavam, sim, atrás de grana. Ainda mais porque começaram a trabalhar no projeto quatro anos após a morte de Michael Jackson. O fato do repertório contar com músicas não aproveitadas pelo Rei do Pop em vida pode gerar o pré-conceito de que elas não têm qualidade o bastante para integrar um disco do cantor. Claro que não.
O importante é que o conteúdo está disponível para o público, cuja opinião é mais importante do que um julgamento inicial de que o material não tem qualidade. “Xscape” é bom o bastante para ser um disco de Michael Jackson, apesar de curto – apenas oito faixas constam no registro. A seleção, no entanto, foi boa. O trabalho feito é melhor do que no álbum póstumo anterior, “Michael”, de 2010, por conta do time de produtores que teve bom senso nos momentos de intervenção das músicas originais.
A abertura com “Love Never Felt So Good” é radiofônica, retrô e carismática. Tem a marca do produtor Timbaland, mas é soul/R&B de origem. A canção, gravada originalmente em 1983, já está nas rádios de todo o mundo. “Chicago” é boa o bastante para integrar o disco “Invincible” (2001). Evidencia a boa voz de Jackson e tem um refrão interessante.
“Loving You”, um pop-R&B, entraria em “Bad” (1987). Não combinaria. Tipicamente oitentista, o disco não suportaria uma faixa que cabe muito mais na contemporaneidade. Melódica, a canção conquista de primeira. “A Place With No Name”, gravada em 1998 e adaptada do hit “A Horse With No Name”, do America, também traz um ar de século XXI, especialmente pela batida. Mas não mantém o nível de qualidade.
“Slave To The Rhythm”, gravada em meados de 1987, volta a mostrar como Michael Jackson é atemporal: a música se encaixa perfeitamente nos dias atuais. Talvez uma variação maior de bases a tornasse mais interessante, mas não deixa de ser boa. “Do You Know Where Your Children Are”, feita em 1991, é repetitiva e maçante. Ponto negativo do disco, que fica em baixa com a confusa “Blue Gangsta” e a pouco destacável faixa título, salva pelo bom trabalho de apoio vocal.
É interessante ressaltar que a edição deluxe de “Xscape” tem as versões originais das oito faixas, que podem ser comparadas com as adaptações que, evidentemente, trazem as marcas dos produtores do disco póstumo – que são muitos. Além de também garantirem uma audição gostosa, as originais têm a sonoridade pouco diferente das editadas, o que faz crer que o disco não tenta enganar o público. A deluxe também tem um dueto desnecessário com Justin Timberlake, considerado por muitos o sucessor de Michael Jackson. Parceria feita especialmente para vender um pouco mais.
O disco ressalta, mais uma vez, o talento que o mundo perdeu em 2009. Michael Jackson era um bom compositor – é coautor de seis das oito faixas – e excelente cantor. Nos palcos, ainda proporcionava um show visual com muita dança. Por mais negativo que seja afirmar isto, até as sobras do Rei do Pop têm peso de ouro – apesar de algumas faixas realmente soarem como “sobras”.

Nota 7,5 (8,5 se analisado com as versões originais)

01. Love Never Felt So Good
02. Chicago
03. Loving You
04. A Place With No Name
05. Slave To The Rhythm
06. Do You Know Where You Children Are
07. Blue Gangsta
08. Xscape

(O lançamento deluxe tem todas as faixas acima em versões originais e um dueto de “Love Never Felt So Good” com Justin Timberlake)

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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