O dilema da pista VIP (e o porquê de eu não ser tão contra)

A vinda de shows grandes para o Brasil sempre revive a questão: a pista VIP é algo correto? Justo? Muitos conservam a opinião de que não passa de uma exploração, que produtoras de shows são compostas apenas por porcos capitalistas, entre outros pontos muitas vezes cercados por exageros.
Minha opinião acaba indo um pouco contra a maré geral entre os fãs de rock e metal, público que valoriza muito os shows de bandas internacionais que chegam ao Brasil – muitas vezes, com razão. Não sou contra a pista VIP. Quando o assunto é “exploração”, ela acaba sendo um problema bem menor em comparação a outros pontos.
É evidente que a pista VIP precisa ter uma regulamentação mais específica. Exemplo que vivi na pele: show do KISS na Arena Anhembi, final de 2012. Os ingressos que estavam à venda inicialmente eram só de pista comum. Depois, colocaram à venda um passaporte VIP que dava direito a um open bar e ao espaço tradicional das pistas especiais. Para ter esse privilégio, era necessário pagar mais R$ 300. Ora, então por que não colocaram o ingresso de pista VIP no começo? Simples: para evitar que estudantes, grande parte do público desses shows, pagassem meia-entrada. Fora que o tal open bar acabou antes do final da apresentação, na última música.
O principal mal de toda a questão dos ingressos de shows é a meia-entrada. Não a concessão do direito em si, mas a forma como ela é regulamentada. Conheço muitas pessoas que falsificam grade horária para pagarem um preço mais acessível por tais ingressos. Por conta disso, as produtoras de shows aumentam o valor das entradas. Quem compra meia-entrada, leva pela “metade do dobro”. Além da facilidade para adulterar esse tipo de documentação (o que poderia ser resolvido com uma regulamentação e unificação de registros estudantis, como uma “carteirinha única”), os seguranças nas entradas das apresentações sequer conferem esses documentos. Falo por experiência própria e relatos de colegas.
A pista VIP é uma oportunidade para fãs com melhor condição financeira assistirem ao show mais próximo do palco, sem muita “muvuca”. Não vejo isso como injusto, apesar de algumas casas de shows destinarem o espaço inteiro da frente do palco à pista VIP. O ideal seria a metade do espaço da frente do palco. Se feito direito, é só uma forma para a empresa lucrar mais, fazer esse capital girar e trazer mais turnês para o Brasil. Ou as pessoas ainda acreditam que as bandas só voltam para cá porque “amam o país”? Capitalismo funciona assim. Podemos discutir se o sistema em si é justo, mas inserida nessa realidade, a VIP não é injusta.
Já vi comentários mais tradicionalistas ainda sobre a pista VIP. Alguns dizem que o “pessoal da VIP é playboy”, “coxinha”, “não agita”. É claro que sempre vai ter um ou outro ricão que aparece por lá só “pela balada”. Mas ele comprou o ingresso. Não tem direito de estar ali? E o fato de “não agitar”: todo mundo precisa assistir ao show pulando e gritando? Na essência, o rock é um estilo que prega a libertação e o respeito às diferenças entre as pessoas. Não deveriam ter fãs enchendo o saco de outros por assistirem apresentações de forma mais calma. Cada um faz do jeito que quer, desde que não atrapalhe ou incomode o outro. Sem cagar regra, por favor.
(Como nesse vídeo que encontrei nos confins da internet)
Daí vem a questão da “justiça” no que diz respeito a um fã na pista comum passar 12 horas na fila para pegar grade, enquanto outro, que não é tão admirador assim, vai para a VIP. Não é sempre assim: tem quem dá um jeito de pegar grade só para contar para os outros e tem quem compre VIP porque é muito fã da banda. O da pista comum pode até merecer mais estar próximo do palco (apesar de eu continuar achando que o público do rock/metal endeusa demais os músicos, bem como esse desejo de estar extremamente próximo deles). Assim como eu mereço ser milionário porque trabalho em dois empregos, escrevo para outros sites e ainda estou terminando minha faculdade. Mas “merecer” é, sempre, algo muito subjetivo e relativo.
Reforço novamente que a pista VIP deve receber uma melhor padronização e não deve ocupar todo o espaço frontal do palco. Mas o conceito em si não é injusto, acredito eu. Para consertar a questão da VIP, além de toda a padronização, deve-se regulamentar a meia-entrada de forma mais eficiente. Falsificar uma grade horária de escola ou faculdade é absurdamente fácil e sabemos que muitos fazem isso sem pudor.
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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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