Não é exagero dizer que “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” é o disco mais importante da história. Até porque, é assim que o oitavo álbum dos Beatles é citado por boa parte dos especialistas e críticos musicais.
Divulgado em 1° de junho de 1967, “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” completa 50 anos de lançamento nesta ilustre quinta-feira de 2017. E para entender a sua importância, é necessário realizar um teletransporte mental a meio século atrás.
O rock e o próprio pop ainda estavam em estágio embrionário de desenvolvimento na década de 1960. O mundo havia visto o surgimento de grandes nomes, como Elvis Presley e Frank Sinatra, mas a música popular, como um todo, era simplória.
A complexidade chegou em grande escala após o lançamento de “Pet Sounds”, dos Beach Boys, divulgado em 1966. O álbum foi a grande inspiração para “Sgt. Pepper’s”, mas não obteve tanto sucesso ou reconhecimento na época. O cenário era interessante para os Beatles: o grupo se propôs a ampliar o que foi feito em “Pet Sounds” e, por não contarem com a mesma concorrência em termos de popularidade, acabariam com o título de “inovadores”.
Ainda assim, “Sgt. Pepper’s” inovou. A aura experimental encontrada nesse disco é inédita, até mesmo, se comparada a “Pet Sounds”.
Imagem arranhada: o combustível
A imagem dos Beatles estava um pouco arranhada antes do lançamento de “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”. O principal fator negativo para isso era uma declaração de John Lennon, que disse: “os Beatles são maiores que Jesus Cristo”. Depois disso, o quarteto foi alvo de diversas críticas e até de um princípio de tumulto durante um show nos Estados Unidos.
Com a polêmica – e com o cansaço gerado pela agenda puxada -, os Beatles decidiram parar de fazer shows. A decisão inédita também não foi bem recebida pelos fãs, que queriam ver a banda nos palcos. O grupo se justificou, dizendo, também, que suas músicas estavam ficando complexas demais para serem reproduzidas por apenas quatro pessoas em apresentações ao vivo.
Tudo isso serviu como combustível para que os Beatles superassem a si próprios. E isso aconteceu.
Inovação
Para tirar a pressão de seus ombros, os Beatles trabalharam como se não fossem os Beatles. Após sugestão de Paul McCartney, o grupo adotou a alcunha que dá nome ao disco: a banda de corações solitários do Sargento Pimenta, em tradução grosseira para o português.
Apesar de ser uma atitude simplória, a “mudança” fez com que John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr trabalhassem no novo disco sem a mentalidade de que deveriam entregar um típico disco dos Beatles. O ambiente era propício para experimentos e inovações.
Boa parte dos experimentos de “Sgt. Pepper’s” está no uso de técnicas distintas de gravação, como o processamento de sinal, registro por meio de unidade DI, controle de diapasão, processamento digital via Ambiophonics e Automatic double tracking (ADT), técnica que realça sons por meio de delays. Alguns desses métodos soam até obsoletos hoje em dia, mas criaram camadas e texturas inéditas até então.
Musicalmente, “Sgt. Pepper’s” ofereceu uma espécie de “guia” para trabalhos de rock e pop que viriam na sequência. A pegada teatral, e a mistura de diversas influências a uma concepção psicodélica marcam o álbum, que tem pitadas de avant-garde, música clássica, blues, jazz e muito mais.
A concepção artística de “Sgt. Pepper’s” também era ousada. O trabalho gráfico, que começa na capa e perpassa por todo o encarte, se tornou icônico. Foi, também, um dos primeiros álbuns conceituais – com uma temática que guia todas as letras – da música.
Êxito
“Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” fez sucesso merecidamente. Em 2011, estimava-se que mais de 32 milhões de cópias do álbum haviam sido vendidas em todo o mundo. A crítica especializada ainda aplaude “Sgt. Pepper’s” e o cita como um dos discos mais influentes da história da música – se não o mais importante.
Entretanto, a importância de “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” vai além dos números e do reconhecimento da crítica. O oitavo disco de estúdio dos Beatles ditou – e ainda dita – tendências na música pop. Cinquenta anos depois, “Sgt. Pepper’s” soa como se tivesse sido feito hoje mesmo.