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Grave Digger “do velho testamento” faz show poderoso em Brasília

Em grande forma e privilegiando os clássicos, alemães comprovam legado de 45 anos; noite heavy também teve apresentações veementes de Ambush e Nightwölf

Se muitas vezes os discos mais recentes do Grave Digger passam a impressão de uma banda no piloto automático, ao vivo a história muda de figura. Os alemães estão em grande forma, provando que a máxima futebolística “treino é treino, jogo é jogo” também pode ser aplicada numa lógica de estúdio x palco.

Celebrando 45 anos de heavy metal, os “coveiros” liderados pelo inesgotável Chris Boltendahl estão com novo guitarrista, Tobias Kersting, que caiu como uma luva na formação. Além disso, contam com um repertório digno “do velho testamento” — ou seja, que privilegia os clássicos gravados por eles nas décadas de 1980 e 1990.

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Equação elementar, mas que resulta num show poderoso, como pôde ser visto na Toinha, em Brasília, na noite de terça-feira (11). Foi a primeira de quatro datas nesta que é a 14ª passagem do grupo pelo Brasil — shows em Curitiba (12/11), São Paulo (14/11) e Limeira (15/11) completam ainda nesta semana a turnê atual.

Mas não bastaria somente essa relação de fidelidade com o público brasileiro para saírem do palco aclamados. Os alemães tiveram que suar a camisa, pois os suecos do Ambush e a brasiliense Nightwölf fizeram apresentações de abertura veementes, elevando o sarrafo numa noite em que banda principal e bandas “coadjuvantes”, por assim dizer, protagonizaram uma sintonia rara de se ver.

Nightwölf

Pontualmente às 19h30, o Nightwölf abriu os trabalhos diante de um público ainda pequeno, mas interessado no que vinha do palco. Formada em 2017, a banda pratica um heavy metal tradicional fortemente influenciado por Judas Priest, sobretudo da fase “Painkiller” (1990), e com ênfase na devoção ao estilo.

O vocalista Milton Monteiro entrou em 2024 e não gravou o debut “The Cult of the Wolf” (2023), mas já se mostra entrosado e apto a colocar sua identidade nas músicas. Destacaram-se “Kill the Light”, “Reign in Metal”, muito bem recebida pelos headbangers presentes, e “Unleash the Beast”, que encerrou o set.

A faita-título, “The Cult of the Wolf”, inclusive tem seu riff principal inspirado em “The Keeper of the Holy Grail”, do Grave Digger. De certa forma, acabou sendo uma homenagem, com o Nightwölf fazendo as honras da casa para os alemães.

Repertório:

  1. Lvpvs Cvltvs (intro)
  2. Glory or Death
  3. Kill the Light
  4. The Cult of the Wolf
  5. Perpetual Crime
  6. Do and Die
  7. Reign in Metal
  8. Unleash the Beast

Ambush

O Ambush já havia tocado em Brasília, no Conic, em 2022. Agora na segunda passagem, a banda encontrou uma estrutura ainda melhor e soube tirar bom proveito disso. O som estava excelente, com ótima definição das guitarras, e a iluminação deu um charme especial à apresentação, totalmente calcada na estética oitentista.

Os suecos acabaram de lançar o quarto álbum, “Evil in All Dimensions”, que foi contemplado no show com um total de cinco músicas. “Maskirovka”, com uma levada galopante, funcionou muitíssimo bem e foi a mais festejada dentre as novas.

Foto de celular: Guilherme Gonçalves

Os pontos altos, no entanto, foram as já conhecidas “Possessed by Evil” e “Desecrator”, com refrãos irresistíveis; “Hellbiter”, uma espécie de “Desert Plains”, do Judas Priest, revisitada pelo Ambush; e “Natural Born Killers”, até então o maior clássico da banda oriunda de Växjö, no sul da Suécia.

O guitarrista fundador Olof Engkvist é praticamente idêntico a um jovem K.K. Downing, na indumentária e na forma de tocar. Já Karl Dotzek, colega de instrumento, mas que entrou em 2020, se assemelha muito a Andy Sneap, que assumiu uma das guitarras do Judas após Glenn Tipton se afastar por questões de saúde. Logo, a conexão com a banda inglesa é inevitável em várias instâncias.

Porém, o vocalista Oskar Jakobsson amplia esse leque, transitando por diferentes referências, de Bruce Dickinson (visual) a Kai Hansen (voz). Extremamente carismático, ele é o grande diferencial do grupo sueco, um dos nomes mais interessantes da chamada New Wave of Traditional Heavy Metal (NWOTHM).

Repertório:

  1. Firestorm
  2. Possessed by Evil
  3. Evil in All Dimensions
  4. Maskirovka
  5. Desecrator
  6. Hellbiter
  7. Come Angel of Night
  8. Heavy Metal Brethren
  9. Natural Born Killers
  10. Don’t Shoot (Let ‘em Burn)

Grave Digger

Desde a saída do guitarrista Axel Ritt (membro de 2009 a 2023), o Grave Digger passou a adotar uma nova (velha?) postura. Chris Boltendahl deixou claro que gostaria de voltar a simplificar as coisas. Em estúdio, menos teclado e mais guitarra. Ao vivo, menos firula e mais riff. Basicamente, esse é o lema da banda atualmente.

A escolha de Tobias Kersting como novo guitarrista é a materialização dessa ideia. Tecnicamente falando, ele provavelmente está um degrau abaixo de Axel Ritt, mas o espírito de palco é bem menos espalhafatoso e casa com a proposta atual.

O que se tem é um Grave Digger mais básico, cru, mas extremamente eficaz. Com uma pegada mais contundente e que fica explícita desde os primeiros riffs de “Twilight of the Gods” abrindo o show. Aliás, essa mentalidade é levada tão a sério que a banda abrevia essa música sem dó e sequer toca a parte “acústica” dela.

O que poderia até ser considerado um desleixo acaba passando despercebido, pois o show flui com naturalidade e potência. “The Grave Dancer”, a nova “Kingdom of Skulls” e a cadenciada “The Keeper of the Holy Grail” seguram o nível lá no alto até a chegada do primeiro grande clássico: “The Dark of the Sun”, do disco mais popular e, talvez, importante da banda, “Tunes of War” (1996).

Pode-se dizer que esse álbum sacramentou a transição do Grave Digger de um grupo de heavy tradicional da década de 1980 para um expoente do power metal noventista. Caminho que, agora, os alemães parecem querer desfazer, pelo menos conceitualmente.

Ainda assim, é impossível se descolar de hinos power como “The Round Table (Forever)”, “Excalibur” e “Rebellion (The Clans Are Marching)”, que cativam a parcela majoritária de fãs da banda. Por mais nu e cru que o Grave Digger queira soar, a temática histórica, medieval e com ênfase nas lendas do Rei Arthur estará sempre impregnada. E tudo bem que haja esse contraste.

A parte derradeira do show é um deleite para fãs da velha guarda, com “Circle of Witches”, “Witch Hunter” e “Heavy Metal Breakdown”. Para se ter ideia, as duas últimas remontam a discos homônimos de 1984 e 1985, respectivamente. Da formação atual, só o vocalista Chris Boltendahl os gravou. Mesmo assim, a banda — completa por Jens Becker (baixo) e Marcus Kniep (bateria) — entrega uma execução fiel e vigorosa desses clássicos, que ajudaram a moldar o metal alemão.

Após quase 1h30 de show, ficou provado que ao vivo a reputação dos “coveiros” alemães segue inabalável. Que em breve o Grave Digger possa voltar aos trilhos também em estúdio. E sem capa feita com uso de inteligência artificial, por favor.

Grave Digger – ao vivo em Brasília

  • Data: 11 de novembro de 2025
  • Local: Toinha
  • Turnê: 45th Anniversary Tour
  • Produtora: Caveira Velha Produções

Repertório:

  1. Twilight of the Gods
  2. The Grave Dancer
  3. Kingdom of Skulls
  4. Under My Flag
  5. Valhalla
  6. The Keeper of the Holy Grail
  7. The Dark of the Sun
  8. The Curse of Jacques
  9. Shadows of a Moonless Night
  10. The Round Table (Forever)
  11. Excalibur
  12. The Devils Serenade
  13. Back to the Roots
  14. Rebellion (The Clans Are Marching)
  15. Scotland United
  16. Circle of Witches
  17. Witch Hunter
  18. Heavy Metal Breakdown

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Guilherme Gonçalves
Guilherme Gonçalves é jornalista formado pela Universidade Federal de Goiás (UFG). É repórter do Globo Esporte e atua no jornalismo esportivo desde 2008. Colecionador de discos e melômano, também escreve sobre música e já colaborou para veículos como Collectors Room, Rock Brigade e Guitarload. Atualmente, é redator na Rolling Stone, revisa livros das editoras Belas Letras e Estética Torta e edita o Morbus Zine, dedicado a resenhas de death metal e grindcore.

1 COMENTÁRIO

  1. Bela resenha, eu só discordo do trecho: “…Tobias Kersting como novo guitarrista é a materialização dessa ideia. Tecnicamente falando, ele provavelmente está um degrau abaixo de Axel Ritt.”, pra quem conhece o trabalho dele no Orden Ogan sabe o quão técnico ele é, talvez só não queira usar isso no Grave Digger pois a sonoridade da banda não se encaixa. Acho ele muito mais guitarrista que o Axel Ritt.

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