Ian Anderson já citou Genesis, King Crimson, Emerson, Lake and Palmer e Yes como os pilares do prog rock. Porém, na opinião do vocalista e multi-instrumentista do Jethro Tull, há uma outra banda — normalmente não tão associada ao estilo — que também contribuiu para o surgimento desse som.
À Vintage Rock em 2018, como resgatado pela Guitar Player, o músico destacou o Cream como um nome importante para o início do prog. Por mais que o trio formado por Ginger Baker (bateria), Jack Bruce (baixo) e Eric Clapton (guitarra) tivesse raízes no blues, Ian acredita que o grupo “foi um tipo de precursor” do rock progressivo na década de 1960.
Segundo o cantor, na verdade, tudo começou com Graham Bond, cuja banda The Graham Bond Organisation, de certa forma, originou o Cream. Ele explicou:
“Essa perspectiva de fazer uma música um tanto mais progressiva já existia em mim muito antes de tocarmos no Marquee Club como Jethro Tull. A porta de entrada para conseguir tocar nos lugares, especialmente nos clubes underground e descolados como o Marquee Club, era pegar carona na onda do blues, porque era o que as pessoas estavam tocando, pelo menos naquela época, no final de 1967 e começo de 1968. Quem tinha uma direção mais progressiva, que já vinha aparecendo desde o fim de 1966, eram pessoas como Graham Bond, cuja banda, naquela época, era formada por Jack Bruce no baixo e Ginger Baker na bateria.”
Para Ian, canções como “Tales of Brave Ulysses”, “White Room” e “Sunshine of Your Love” mostram que o Cream ia além do blues e explorava “outros caminhos”:
“De muitas formas, Graham Bond foi um tipo de precursor daquilo que viria a se tornar o rock progressivo. E, claro, o Cream, à sua maneira. Quando esses dois saíram da banda de Graham Bond e formaram o Cream, Eric Clapton foi além do papel de um guitarrista de blues. Eles fizeram músicas como ‘Tales of Brave Ulysses’, ‘White Room’ e ‘Sunshine Of Your Love’, que, embora tivessem raízes no blues, também estavam indo para outros caminhos.”
Cream e o rock progressivo
Ao site Classic Rock Revisited também em 2018, Ian trouxe o mesmo raciocínio e afirmou que o Cream “ajudou a moldar o que viria a ser chamado de rock progressivo”. Ainda destacou que, ao seu ver, o trio será lembrado justamente pelas músicas que “não eram tão blues”:
“Antes do Jethro Tull, na John Evan Band, a gente já vinha tocando aquilo que, anos depois, viria a ser chamado de rock progressivo. Ficávamos impressionados com bandas como a Graham Bond Organization, um grupo underground na época, que tocava uma mistura curiosa de jazz, blues e, às vezes, algo quase com influências étnicas — uma música empolgante, diferente e muito britânica. Não era como nada dos Estados Unidos. Faziam parte da formação Jack Bruce e Ginger Baker que, claro, depois formariam o Cream. E o Cream era uma banda que, justamente quando estávamos começando, ajudava a moldar aquilo que viria a ser chamado de rock progressivo. Apesar da forte influência do blues na música do Cream, as canções pelas quais eles serão mais lembrados são justamente aquelas que não eram tão obviamente blues na minha opinião. Por exemplo, ‘Tales of Brave Ulysses’, ‘Sunshine of Your Love’ e ‘White Room’ […]. Eram letras muito mais abstratas, de garotos brancos de classe média e isso nos atraía, porque parecia que era a nossa música, música britânica. “
Sobre o Cream
O Cream é um dos power trios mais influentes da história da música. Para muitos, a sonoridade mais elaborada e pesada da banda em comparação a seus contemporâneos foi essencial na criação dos subgêneros mais pesados do rock.
O Cream existiu entre 1966 e 1968. A primeira reunião aconteceu no Rock and Roll Hall of Fame em 1993. Uma turnê comemorativa foi realizada no ano de 2005. Foram 4 shows no Royal Albert Hall, em Londres, além de outros 3 no Madison Square Garden, em Nova York.
Jack Bruce morreu no dia 25 de outubro de 2014, em decorrência de problemas no fígado. Ginger Baker faleceu em 6 de outubro de 2019, por conta de uma obstrução pulmonar crônica.
Sobre Ian Anderson
Nascido em Dunfermline, Escócia, Ian Scott Anderson começou a se interessar por música graças aos discos de jazz e big bands do pai, além da primeira geração do rock and roll.
Destacou-se como vocalista e multi-instrumentista no Jethro Tull. A banda vendeu mais de 60 milhões de discos em todo o mundo, fundindo influências prog, folk e de hard rock em sua sonoridade.
Também deu início a uma carreira solo na década de 1980. Nos últimos anos, os dois grupos se tornaram um só, levando o nome do conjunto.
Produziu e participou de discos do Steelye Span, Renaissance, Blackmore’s Night, Honeymoon Suite, The Darkness, Uriah Heep, James Taylor e Billy Sherwood, entre outros.
Foi nomeado membro da Ordem do Império Britânico e Doutor Honorário em Letras pela Universidade de Abertay, em reconhecimento às contribuições à cultura local.
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